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Putin estoca ouro para se proteger de "tempestade perfeita"

Rússia fortalece suas reservas para garantir colchão em meio a fuga de recursos, sanções, inflação, moeda desvalorizada e queda do preço do petróleo

Presidente da Rússia, Vladimir Putin, discursa em inauguração de monumento em Moscou (Yuri Kochetkov/Reuters)

João Pedro Caleiro

Publicado em 17 de novembro de 2014 às 13h08.

São Paulo - No último relatório trimestral do World Gold Council, que monitora a demanda de ouro no mundo, uma frase chama a atenção: "mais da metade de todo o ouro adicionado a reservas entre julho e setembro foi comprado pela Rússia ."

Foi o maior aumento trimestral do país desde 1998. Desde março, a Rússia colocou mais de 100 toneladas de ouro no cofre e passou da 7ª para a 6ª posição mundial em reservas do metal, com 1.150 toneladas.

Um dos motivos é que o ouro está barato. Historicamente, o preço do metal sobe em momentos de turbulência - quando investidores buscam ativos mais seguros - e cai em momentos mais calmos.

Depois de uma escalada no pós-crise, entre 2009 e 2011, o preço passou a cair e atingiu em novembro seu nível mais baixo em quatro anos. Nada mais natural que os bancos centrais usem este momento para fortalecer e diversificar suas reservas.

No caso da Rússia, no entanto, o que pesam são as razões internas. As tensões com a Ucrânia e a anexação da Crimeia no início do ano levaram a uma fuga maciça de recursos do país, além de três rodadas de sanções dos países ocidentais contra firmas russas e oficiais ligados a Putin.

O país reagiu proibindo a importação de alimentos europeus, mas isso só piorou a escalada da inflação, que já passa dos 8% anuais. Enquanto isso, o mercado de ações do país encolhia até ficar menor do que a Apple (sozinha ). Com tanta turbulência, a Rússia começou a encher o seu colchão.

Há cerca de dois meses, o país sofreu outro duro golpe ao ver o preço do barril de petróleo, seu principal produto de exportação, despencar para os níveis mais baixos em 4 anos - de mais de US$ 100 para US$ 75.

De acordo com um cálculo do Société Générale, uma queda de 20 dólares no preço de petróleo come 1,75% do PIB da Rússia no espaço de um ano após o choque.

Nenhum país no mundo seria tão abalado, e resta saber o que isso significa em uma economia que deve crescer só entre 0,3% e 0,5% este ano, segundo estimativas do próprio governo.

Antes de viajar para o encontro do G-20 na Austrália, Putin disse que estava "considerando todos os cenários, incluindo o chamado declínio catastrófico nos preços de energia, que é realmente possível, e nós admitimos."

E citou as reservas como uma das armas do país para se proteger: "nós lidamos com nossas reservas de ouro e moeda de forma austera. Nossas reservas são grandes o suficiente."

E por enquanto estão mesmo, ainda acima de US$ 400 bilhões, apesar de já terem caído na medida em que o Banco Central passou a intervir no mercado para segurar a queda do rublo (tarefa inglória que já foi abortada ).

O único índice que segue em alta na Rússia é o da aprovação de Putin: 88% na última pesquisa em outubro. Brigar com grandes potências pode ser ruim para a economia, mas continua uma receita infalível para unir uma nação.

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São Paulo - No último relatório trimestral do World Gold Council, que monitora a demanda de ouro no mundo, uma frase chama a atenção: "mais da metade de todo o ouro adicionado a reservas entre julho e setembro foi comprado pela Rússia ."

Foi o maior aumento trimestral do país desde 1998. Desde março, a Rússia colocou mais de 100 toneladas de ouro no cofre e passou da 7ª para a 6ª posição mundial em reservas do metal, com 1.150 toneladas.

Um dos motivos é que o ouro está barato. Historicamente, o preço do metal sobe em momentos de turbulência - quando investidores buscam ativos mais seguros - e cai em momentos mais calmos.

Depois de uma escalada no pós-crise, entre 2009 e 2011, o preço passou a cair e atingiu em novembro seu nível mais baixo em quatro anos. Nada mais natural que os bancos centrais usem este momento para fortalecer e diversificar suas reservas.

No caso da Rússia, no entanto, o que pesam são as razões internas. As tensões com a Ucrânia e a anexação da Crimeia no início do ano levaram a uma fuga maciça de recursos do país, além de três rodadas de sanções dos países ocidentais contra firmas russas e oficiais ligados a Putin.

O país reagiu proibindo a importação de alimentos europeus, mas isso só piorou a escalada da inflação, que já passa dos 8% anuais. Enquanto isso, o mercado de ações do país encolhia até ficar menor do que a Apple (sozinha ). Com tanta turbulência, a Rússia começou a encher o seu colchão.

Há cerca de dois meses, o país sofreu outro duro golpe ao ver o preço do barril de petróleo, seu principal produto de exportação, despencar para os níveis mais baixos em 4 anos - de mais de US$ 100 para US$ 75.

De acordo com um cálculo do Société Générale, uma queda de 20 dólares no preço de petróleo come 1,75% do PIB da Rússia no espaço de um ano após o choque.

Nenhum país no mundo seria tão abalado, e resta saber o que isso significa em uma economia que deve crescer só entre 0,3% e 0,5% este ano, segundo estimativas do próprio governo.

Antes de viajar para o encontro do G-20 na Austrália, Putin disse que estava "considerando todos os cenários, incluindo o chamado declínio catastrófico nos preços de energia, que é realmente possível, e nós admitimos."

E citou as reservas como uma das armas do país para se proteger: "nós lidamos com nossas reservas de ouro e moeda de forma austera. Nossas reservas são grandes o suficiente."

E por enquanto estão mesmo, ainda acima de US$ 400 bilhões, apesar de já terem caído na medida em que o Banco Central passou a intervir no mercado para segurar a queda do rublo (tarefa inglória que já foi abortada ).

O único índice que segue em alta na Rússia é o da aprovação de Putin: 88% na última pesquisa em outubro. Brigar com grandes potências pode ser ruim para a economia, mas continua uma receita infalível para unir uma nação.

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