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PT pode sacrificar José Dirceu para salvar imagem

Em depoimento à CPMI dos Correios, mulher de Marcos Valério afirma que José Dirceu sabia dos empréstimos repassados pelo publicitário ao PT

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h36.

A expressão "cortar na carne", cunhada pela cúpula interina do Partido dos Trabalhadores (PT) em referência às medidas que tomará para combater a corrupção da gestão anterior da legenda, está tomando ares realmente dramáticos. Após o depoimento de Renilda Maria Santiago de Souza, mulher do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, o PT pode ser forçado a sacrificar José Dirceu, ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo Lula e ex-presidente do partido.

Nesta terça-feira (26/7), em sessão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga suspeitas de corrupção nos Correios, Renilda declarou que Dirceu sabia dos empréstimos tomados pelas empresas de Valério e repassados ao PT. Segundo Renilda, Valério teria lhe dito que Dirceu, então ministro de Lula, reuniu-se com a direção do Banco Rural, em Belo Horizonte, para tratar do pagamento dos empréstimos. No início da noite, o próprio Dirceu admitiu ter-se reunido com diretores dos bancos Rural e BMG, na época em que estava no governo. Em nota distribuída por sua assessoria, o parlamentar negou, contudo, que tenha tratado de empréstimos ao PT, mas não esclareceu os motivos das reuniões.

Segundo analistas políticos, a declaração, em si, não é um fato novo, já que outros depoimentos já haviam ligado Dirceu ao suposto esquema de compra de deputados o chamado mensalão entre eles, o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), e a ex-secretária de Valério, Fernanda Karina Somaggio, em cuja agenda constavam anotações de reuniões entre seu ex-patrão e o petista.

De volta ao foco

O mérito do depoimento é reconduzir Dirceu ao centro das investigações da CPMI. Os interrogatórios de ex-membros da cúpula do PT, como o ex-secretário-geral da legenda, Silvio Pereira, e o ex-tesoureiro Delúbio Soares, procuraram eximir Dirceu de qualquer responsabilidade sobre os empréstimos. "A declaração de Renilda desmonta a versão anterior, montada pelos dirigentes do PT, de que Dirceu não sabia de nada", diz o cientista político José Luciano Dias, da Góes & Associados, consultoria especializada em análise política de Brasília.

Dirceu, que já está convocado para depor no Conselho de Ética da Câmara na próxima semana, deve agora ser convocado também a se esclarecer na CPMI. Sua situação junto aos companheiros de partido também está se complicando. As reações ao depoimento de Renilda foram imediatas e uma parte da bancada petista no Congresso aumentou a pressão para que o ex-presidente da legenda se explique na Comissão de Ética do PT.

Até o momento, os analistas apostavam que punições severas, como a expulsão, seriam aplicadas apenas a alguns ex-dirigentes do partido, como José Genoino e Delúbio. Mas crescem as chances de que Dirceu também seja sacrificado. "O partido não tem escolha: ou investiga Dirceu, ou passará a imagem de que está coonestando tudo isso", afirma Dias, da Góes & Associados.

Isolamento

Rogério Schmitt, analista político da consultoria Tendências, concorda. "Por uma questão de sobrevivência, o PT deve passar por um expurgo e Dirceu está bastante isolado no partido. Todo o seu grupo de apoio saiu da direção", diz. Punir severamente os envolvidos é o único modo de o PT escapar de uma grande derrota eleitoral em 2006, nos pleitos para o Congresso Nacional, assembléias legislativas e governos estaduais, e para a Presidência da República, segundo os analistas. Alguns especialistas acreditam que a bancada petista na Câmara, hoje composta por 91 parlamentares, pode cair à metade na próxima legislatura.

Pessoalmente, também não restam muitas saídas para aquele que já foi considerado o "superministro" de Lula. As chances de que a Câmara casse seu mandato de deputado estão cada vez maiores. Mesmo que renuncie para escapar à perda de seus direitos políticos, já é incerto que possa se reeleger no ano que vem. "O eleitorado paulista pode não apoiá-lo. Além disso, é difícil que o PT empreste a legenda para que concorra", diz Schmitt.

A queda de Dirceu, contudo, ainda não complica a situação do presidente da República. Na avaliação dos analistas, embora a opinião pública esteja cada vez mais certa de que há corrupção no governo e de que Lula sabia das operações, apenas um fato concreto, capaz de comprometer o presidente, poderia afetar sua popularidade, ainda elevada junto ao eleitorado.

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