Economia

"Projeto orçamentário é utópico e sem realismo fiscal", diz economista da Ryo Asset

Gabriel Leal de Barros afirma que proposta possui projeções de receitas superestimadas e de despesas subestimadas, assim como ocorreu em 2024

Congresso Nacional: proposta tramitará no Legislativo e parlamentares devem aprovar o texto até o meio do ano (Leandro Fonseca/Exame)

Congresso Nacional: proposta tramitará no Legislativo e parlamentares devem aprovar o texto até o meio do ano (Leandro Fonseca/Exame)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 15 de abril de 2024 às 19h48.

Última atualização em 15 de abril de 2024 às 22h52.

O Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentária (PLDO) enviado pelo governo ao Congresso nesta segunda-feira, 15, é classificado pelo economista-chefe da Ryo Asset, Gabriel Leal de Barros, como “utópico, sem realismo fiscal, com vários problemas de premissa e de projeções macrofiscais”. Segundo ele, não por acaso, o mercado reagiu mal à flexibilização das metas fiscais previstas para o período entre 2025 e 2028 com encarecimento do dólar.

“Claramente, a estratégia de consolidação fiscal deu errado, está em xeque e o governo não tem alternativa ou plano B para colocar em prática”, resumiu.

Barros afirmou que a proposta enviada ao Legislativo possui projeções de receitas superestimadas e de despesas subestimadas, assim como ocorreu com o orçamento de 2024. A receita é inflada, segundo Barros, pela estimativa para o crescimento econômico, que prevê alta de 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB).

“Realmente, [essa estimativa] é acima de qualquer projeção de mercado. Não conheço ninguém que tenha projeção de PIB nesse patamar. E a projeção de longo prazo, com PIB de 2,5% nos próximos anos é muito otimista. Praticamente ninguém tem 2,5% de PIB potencial para o Brasil. Os economistas têm 2% ou 2,2% no máximo. A projeção de PIB real está acima do PIB potencial e uma projeção de inflação na meta. É curioso e economicamente inconsistente”, disse.

Inflação abaixo da projeção de mercado

A projeção do governo, afirmou Barros, assume que o Brasil mudou de patamar em termos de PIB potencial do lado da oferta e de que não haverá qualquer pressão de demanda que jogaria a inflação para cima. O governo estimou uma inflação de 3,1% em 2025 e de 3% nos anos seguintes. No mercado, a estimativa é de inflação de 3,5% em todos os anos.

“Isso é uma leitura e premissa muito questionável. Estamos vendo no presente o PIB rodando acima do potencial e inflação de serviços, ligada à mão de obra, com taxa desemprego abaixo da natural, mostrando que existe pressão de demanda e que o PIB potencial do Brasil é baixo. Estamos crescendo acima do PIB potencial e isso pressiona a demanda”, disse.

Pelo lado da despesa Barros aponta que estão subestimados os gastos com previdência, BPC, abono e seguro-desemprego. Com isso, a despesa discricionária é estrangulada.

“O governo atual está repetindo o que tanto criticava no passado. O estrangulamento nas discricionárias acontece mesmo com despesas obrigatórias subestimadas. Importante chamar atenção para isso”, afirmou.

Consolidação fiscal deu errado, diz economista

Para Barros, a estratégia de consolidação fiscal, única e exclusivamente pela receita, deu errado.

“Eles [ o governo] reconhecem parcialmente isso com essa revisão para pior. E as medidas pelo lado das despesas são irrisórias. São muito marginais. Apesar de a gente ter uma lista enormes de medidas que podem ser adotadas e são de amplo conhecimento do governo. O cardápio do que pode e deve ser feito está na mesa”, disse.

O economista afirmou que falta convicção e vontade política para seguir a agenda de redução de despesas.

“A agenda de revisão de gastos é para inglês ver, infelizmente. A equipe do Ministério do Planejamento é muito boa e há uma expectativa grande de que eles pudessem avançar com isso, mas claramente não há apetite político para ir nessa direção. Muito pelo contrário. O governo meteu um jabuti em um projeto de lei antecipando crédito adicional e destruindo a credibilidade desse arcabouço, muito capenga, logo na largada”, finalizou.

Acompanhe tudo sobre:Ministério da FazendaDéficit público

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo