Economia

Problemas dificultam sonho de venda de títulos, diz Barclays

Segundo fonte do governo, o Brasil pretende emitir até US$ 2 bilhões em títulos neste mês, mas é possível que o país não retorne ao mercado de bonds tão cedo


	Barclays: o problema é que o prêmio é muito inferior ao exigido pelos investidores para deterem papéis do Brasil
 (Chris Ratcliffe/Bloomberg)

Barclays: o problema é que o prêmio é muito inferior ao exigido pelos investidores para deterem papéis do Brasil (Chris Ratcliffe/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 11 de maio de 2015 às 20h17.

É possível que o Brasil não retorne ao mercado internacional de bonds tão cedo.

O país, que não faz captação externa desde setembro em meio ao nervosismo causado entre os investidores por uma investigação de corrupção, pretende emitir até US$ 2 bilhões em títulos com vencimento em 2025 já neste mês, segundo uma pessoa da área econômica do governo que pediu anonimato porque as discussões não são públicas.

O governo veria como atrativa uma oferta a uma taxa de 1,5 ponto porcentual a mais que os títulos do Tesouro dos EUA, disse a pessoa.

O problema é que o prêmio é muito inferior ao exigido pelos investidores para deterem papéis do Brasil em um momento em que a economia do país caminha para sua pior contração em 25 anos e em que a inflação está subindo.

Para o Barclays e o Banco Bilbao Vizcaya Argentaria, é difícil ver os custos de captação do Brasil caindo em relação aos atuais 2,09 pontos porcentuais de spread sobre a dívida dos EUA.

“O Brasil tem uma inflação muito alta e um crescimento muito baixo e nós não acreditamos que isso vá mudar em breve”, disse Alvaro Vivanco, estrategista de América Latina do BBVA, de Nova York. “Eu não vejo muito valor na dívida soberana em dólares do Brasil no momento”.

A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda, quando procurada pela Bloomberg News, se referiu aos comentários de Fernando Garrido, coordenador-geral de Operações da Dívida Pública do Tesouro, no dia 27 de abril. Ele disse, na época, que “ainda não é o momento adequado”.

Preocupações com orçamento

Apesar de o prêmio dos custos de captação do Brasil ter caído do recorde de 3,05 pontos porcentuais de março em um momento em que o país está adotando medidas para reforçar suas finanças e evitar um rebaixamento em seu rating, os desafios fiscais continuam a ser uma grande preocupação, disse o economista do Barclays, Bruno Rovai.

“Nós ainda temos um risco no lado fiscal”, disse ele. “Até vermos dados que mostrem uma melhora concreta, será difícil ver os spreads caindo abaixo de 2 pontos porcentuais”.

No dia 30 de abril, o governo brasileiro disse que seu déficit nominal aumentou inesperadamente em março.

Na quinta-feira, a fabricante de cimento Votorantim Cimentos SA se tornou a primeira empresa brasileira a emitir bonds no exterior desde novembro, quando um escândalo de corrupção na estatal Petrobras praticamente fechou os mercados de dívidas. A empresa vendeu 500 milhões de euros (US$ 560 milhões) em notas de sete anos com yield de 3,43 pontos porcentuais a mais que dívidas alemãs comparáveis.

É mais que o prêmio de 2,58 pontos porcentuais que a empresa pagou para emitir dívidas de vencimento similar no ano anterior.

Crise econômica

O Brasil deveria considerar vender bonds agora porque os yields sobre os títulos do Tesouro ainda são baixos, disse Bryan Carter, que ajuda a gerenciar cerca de US$ 360 milhões em dívidas de mercados emergentes na Acadian Asset Management.

O governo poderá ter que pagar um valor ainda maior no futuro devido à piora de sua perspectiva econômica.

A maior economia da América Latina terá uma retração de 1,2 por cento em 2015, a maior desde 1990, segundo analistas consultados pelo Banco Central.

Eles também estimam que a inflação irá acelerar para 8,29 por cento até dezembro, excedendo o teto da meta do BC pela primeira vez desde 2003.

“O perfil de crédito do país depende muito da recuperação econômica e nós não atingimos um ponto de inflexão em crescimento”, disse Carter, de Boston. “Eu não apostaria que já tenhamos visto o pior dos diferenciais de crédito”.

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