Para o coordenador econômico da campanha de João Amoêdo ao Palácio do Planalto, a privatização da Petrobras é um processo inevitável (Paulo Whitaker/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 16 de agosto de 2018 às 14h53.
Última atualização em 16 de agosto de 2018 às 14h54.
São Paulo - Para o coordenador econômico da campanha de João Amoêdo (Novo) ao Palácio do Planalto, o economista Gustavo Franco, a privatização da Petrobras é um processo inevitável, dado o "ataque monstruoso" que a empresa sofreu nos últimos anos, em referência às descobertas da Operação Lava Jato sobre desvios de recursos da estatal.
"Queremos que as empresas funcionem bem. A Petrobras sofreu um ataque monstruoso e será necessário vender algumas empresas na periferia de suas atividades para resolver as dificuldades fiscais", comentou Franco.
O economista participou nesta quinta-feira, 16, de sabatina realizada pelo Grupo Estado em parceria com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
Ele avalia que, entre as empresas estatais, o modelo da Petrobras é o mais difícil. "Precisa ser resolvido com a melhor técnica possível para melhor atender aos interesses dos acionistas e da sociedade brasileira, que quer ver a empresa funcionar bem", comentou.
Um modelo que poderia ser ajustado e replicado ao processo de privatização da petroleira, disse o economista, seria o adotado na privatização do sistema Telebras. "Vamos dividir as atividades para criar tensão competitiva ao longo do processo", explicou. "Após dividida em várias empresas, conforme estudos e análises, é provável que várias partes sejam privatizadas e outras não", disse o economista do Novo.
O economista ressaltou, entretanto, que o objetivo do plano de privatizações do Novo não é fazer caixa, e, sim, investir os ganhos para aumentar a qualidade dos serviços públicos.
A privatização ou até mesmo fechamento de empresas públicas é uma medida que será implementada, em caso de vitória do Novo nas eleições presidenciais, explicou o coordenador econômico da campanha. "Do ponto de vista de princípio, não acredito que devemos manter nenhuma empresa estatal", disse, ponderando que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) poderia ser uma exceção ao processo. "Poderia ser mantida, mas não como empresa e sim como agência", explicou.
O economista ressaltou que cerca de metade das 151 empresas públicas fazem parte de grandes grupos no setor elétrico, petroquímico e bancário. "Metade estão nos grupos Eletro, Petro, Banco do Brasil e Caixa. Acredito que a Eletrobrás já está pronta para iniciar o processo", comentou.
De acordo com Franco, ainda é necessário debater se é melhor "diluir a presença do governo federal na holding ou se é melhor vender partes da empresa, aquilo que render mais". "O Banco do Brasil é outro que está totalmente pronto para privatizar e seria interessante adotar um processo por diluição da participação do governo", afirmou.
"Teríamos o primeiro banco comercial como corporação, que se tornaria competidor importante no varejo do dia para noite", disse o economista. "Naturalmente, os bancos de varejo que atuam no País não poderiam participar do controle do BB", emendou.
Para Gustavo Franco, o ideal neste processo de privatização do BB seria não descaracterizar a marca, que já é bastante consolidada.
No caso da Caixa Econômica Federal, Franco afirmou que antes de implementar um processo de privatização, é preciso "desligá-la do FGTS e listá-la em Bolsa". "Após listar em Bolsa, para provocar um ajuste à dinâmica de companhia aberta, aí sim, com a companhia bem mais fortalecida, poderemos vender o controle por um valor melhor", comentou.
"Não tem necessidade de o governo ter dois bancos. Na realidade, não vejo necessidade de o governo ter nem mesmo um banco", complementou o economista, sugerindo também que o Estado do Rio Grande do Sul adote processo similar com o Banrisul.
A redução do custo de capital no País deve passar pela reformulação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e pela transição do modelo de partilha da Previdência para o modelo de capitalização, avalia Franco.
"A Previdência privada, pública e o FGTS deveriam ser os principais atores no mercado de capitais do Brasil, como é em todo o mundo", afirmou. "Também temos o Fundo de Amparo ao Trabalhador FAT, que poderia ter os recursos melhor aplicados. São mecanismos obsoletos, criados na época da ditadura militar", lembrou ele.
Para o economista, uma reorganização da Previdência para o modelo de capitalização tornaria "mais justa" a aposentadoria dos brasileiros, já que garantiria aos trabalhadores o acesso aos recursos por eles poupados, na mesma magnitude.