Economia

Previdência exigirá reforma mais dura, para economistas

Gastos com aposentadorias, pensões e benefícios sociais do INSS, para trabalhadores do setor privado, saltarão para R$ 876 bilhões em 2026

 (iStock/Thinkstock)

(iStock/Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 14 de julho de 2018 às 09h52.

Última atualização em 14 de julho de 2018 às 09h53.

Rio - Se a reforma da Previdência não for feita pelo próximo governo, os gastos com aposentadorias, pensões e benefícios sociais do INSS, para trabalhadores do setor privado, saltarão de R$ 649 bilhões este ano para R$ 876 bilhões em 2026, segundo estudo preparado pelo economista Fabio Giambiagi.

Essa evolução praticamente inviabiliza o cumprimento da regra do teto de gastos (que limita o crescimento das despesas públicas aos números da inflação).

Para o teto ser cumprido, assumindo que os gastos com saúde e educação (que não podem ser reduzidos) fiquem estacionados nos R$ 148 bilhões de 2018, as despesas não obrigatórias, como custeio da máquina pública, investimentos e programas de transferência de renda (como o Bolsa Família), cairão dos atuais R$ 250 bilhões para R$ 60 bilhões.

Na visão de Giambiagi, a evolução das contas públicas sem uma reforma da Previdência torna o teto inviável, pois não é possível um corte tão grande nos gastos não obrigatórios. "Isso não existe", disse o economista, chefe do Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e especialista em contas previdenciárias. Felipe Pinto, da Parcitas Investimentos, e Leandro Rothmuller, economista-chefe do banco Bocom BBM, também assinam o estudo.

Para piorar, a reforma atualmente em discussão, conforme o formato definido na comissão especial do Congresso Nacional que analisou a proposta enviada pelo governo federal, talvez não garanta o teto, segundo Giambiagi. "A reforma proposta pelo governo já não é mais suficiente, dada a intensidade dos problemas que se acumularam desde então, notadamente o aumento dos gastos com pessoal, que tolheu o espaço para as demais despesas", disse.

Apesar de aprovada na comissão especial, a proposta acabou não sendo votada no Congresso. O governo teve grande dificuldade em reunir uma base de apoio suficiente para aprovar a reforma, e acabou "jogando a toalha" em fevereiro.

Nas contas dos economistas, no cenário com a reforma aprovada na comissão, os gastos do INSS saltariam para R$ 803 bilhões em 2026, enquanto as despesas não obrigatórias seriam comprimidas a R$ 133 bilhões, R$ 117 bilhões abaixo dos R$ 250 bilhões previstos para este ano - ou seja, mesmo com a reforma, os gastos cairiam à metade.

Diante do agravamento do quadro, o estudo de Giambiagi, Pinto e Rothmuller sugere uma proposta alternativa de reforma da Previdência, mais dura até mesmo do que o desenho original apresentado pelo Ministério da Fazenda no fim de 2016 - depois mudado no Congresso.

Os principais pilares são uma transição mais rápida, normas mais duras para a aposentadoria dos servidores públicos e, paralelamente, a adoção, em 2019, de uma regra para o salário mínimo, de 2020 a 2031, com reajuste apenas pela inflação. Para angariar apoio da sociedade, a proposta é que as novas regras mais duras para os servidores públicos começassem a valer no ano seguinte à aprovação, em 2020.

Com essa nova proposta de reforma, as despesas com aposentadorias, pensões e benefícios sociais do INSS saltariam para R$ 766 bilhões ao ano em 2026, permitindo que os gastos não obrigatórios fiquem em R$ 170 bilhões.

Giambiagi defende ainda uma discussão sobre essas despesas não obrigatórias, pois muitas poderiam ser reduzidas ou eliminadas, como o abono salarial, que consumirá R$ 16 bilhões em 2019.

Na visão do economista, o abono fazia sentido nos anos 70, como um auxílio para os trabalhadores de baixa renda. Atualmente, com a evolução do salário mínimo em termos reais, a medida acaba funcionando como um "14.º salário" para assalariados com emprego formal que nem estão entre os mais pobres.

"Faz sentido isso, quando a polícia não tem dinheiro para colocar gasolina nos carros?", questiona Giambiagi. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:GovernoOrçamento federalReforma da Previdência

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor