Presidente do BC reafirma que há espaço para corte do juro
"Ainda tem mais um mês e pouquinho para essa decisão. Vamos ver como se desenrola a conjuntura econômica", disse Ilan Goldfajn para a Jovem Pan
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de janeiro de 2018 às 11h59.
Brasília - O presidente do Banco Central (BC) , Ilan Goldfajn, reafirmou na manhã desta terça-feira (2) que "existe possibilidade" de espaço para corte adicional do juro básico da economia em fevereiro. Em entrevista à Rádio Jovem Pan de São Paulo, o presidente da entidade reconheceu que, como mencionado pelos documentos recentes do BC, há mais riscos no horizonte, mas que permanece o espaço para movimento adicional de redução da Selic.
"A gente indicou que existe essa possibilidade (de corte adicional do juro) desde que a inflação continue baixa, que os riscos continuem como a gente tem hoje", disse. "Dado isso, sinalizamos que há possibilidade de uma redução moderada da flexibilização monetária", completou.
Na entrevista não prevista na agenda do presidente do BC, Ilan lembrou ainda que documentos do órgão têm sinalizado que, ao mesmo tempo, "há mais incerteza dessa vez". Questionado sobre a possibilidade de rebaixamento do rating brasileiro, o presidente do BC comentou, sem citar essa hipótese, que o Banco Central "tem que levar em conta tudo isso". "As reformas, os ajustes e os riscos, mas também do outro lado a inflação está bem comportada, os núcleos e as nossas projeções estão bem".
"Ainda tem mais um mês e pouquinho para essa decisão. Vamos ver como se desenrola a conjuntura econômica", concluiu.
Sobre a agenda de reformas, Ilan voltou a defender o avanço dos ajustes. Com as reformas, comentou, haverá mais espaço para o BC na capacidade de atuar nos juros. "Porque o juro estrutural fica menor quanto mais a gente fizer o dever de casa, como a Reforma da Previdência", disse.
Meta de inflação
O presidente do Banco Central já tem o roteiro para a carta que deve escrever ao ministro da Fazenda para se explicar pelo inédito descumprimento da meta de inflação porque o IPCA de 2017 tende a ficar abaixo do aceitável. "O que ocorreu é que, além de termos a inflação baixa afetada pela política monetária, também tivemos uma surpresa agradável na inflação de alimentos", disse.
Ilan explicou que a inflação afetada diretamente pelas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), como os serviços e preços industriais, está alinhada com a meta de 4,5% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). "A parte que tem a ver com o BC está 'muito bem, obrigado'. Está em torno da meta", disse.
Fora do alcance das ações do BC, diz Ilan, o preço dos alimentos surpreendeu ao acumular deflação de 5% em 2017 após alta de cerca de 10% em 2016. Isso, segundo ele, explica a surpresa dos índices de inflação que devem confirmar número abaixo do piso da meta - de 3% - a ser perseguida pelo BC. "Tem a ver com safra, clima, com a oferta maior que a demanda", avaliou.
Questionado sobre como deve ser a carta que precisará enviar ao ministro Henrique Meirelles caso o IPCA fique abaixo de 3%, Ilan disse que "isso tem a ver com a parte (da inflação) que o BC não tem controle direto, que é a de alimentos, que caiu e continua caindo". "Essa vai ser a nossa explicação", revelou.
O presidente do BC aproveitou para citar que esta queda da inflação tem permitido o aumento do poder de compra, o que ajuda na reação do consumo e na retomada da recuperação da economia. "É graças à atuação do BC e também uma parte que não tem a ver com o BC", disse.
Sobre a recente pressão dos preços administrados, Ilan respondeu genericamente. "No ano passado, tivemos, de fato, aumento dos preços administrados como a gasolina, o botijão de gás e a eletricidade. Tudo isso aumentou mais que os outros preços", disse. "A forma como esses preços são calculados segue os preços internacionais. Em 2018, pode tanto subir como cair", disse.
Ano eleitoral
Ilan Goldfajn disse, ainda, que o Banco Central está preparado para o ano eleitoral e "qualquer cenário" relacionado à evolução da economia. "Estamos entrando em um ano com bastante colchão", disse na entrevista à rádio Jovem Pan.
"Começamos o ano com bastante reservas, de 20% do Produto Interno Bruto, reduzimos a quantidade de swap cambiais e começamos com inflação baixa que também é um colchão", disse. "Tudo isso nos dá uma segurança para que nós estejamos preparados para qualquer cenário", completou.