Alta do custo de serviços pode forçar o presidente do BC a prolongar os aumentos de juros (Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 13 de maio de 2011 às 10h19.
Brasília - Se você procura por serviços de depilação, provavelmente vai perceber que os preços estão subindo. E se você é da equipe econômica do governo, isso é um problema.
Assim como serviços mais prosaicos, como concerto de automóvel e odontologia, o preço da depilação está ultrapassando a maioria dos outros componentes da economia. Isso vem elevando a inflação acima da meta do governo e pode forçar o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, a prolongar os aumentos de juros este ano.
As altas de preços de serviços, que respondem por 24,1 por cento do índice oficial de inflação, ultrapassaram todas as outras categorias nos últimos dois meses, segundo dados divulgados pelo BC dia 11 de Maio. A inflação de serviços ficou em 8,57 por cento nos 12 meses até abril, o ritmo mais forte em pelo menos 15 anos.
“Serviços vão continuar sendo o principal vilão da inflação e podem impedir que os preços se aproximem da meta do governo no final do ano que vem”, disse Fernando Fix, economista-chefe da Votorantim Wealth Management, em entrevista de São Paulo. “A demanda doméstica está muito forte.”
Essa demanda inclui também a depilação, que no Brasil é tida como necessidade, mais do que luxo, disse Elzimar Siqueira, responsável pela área de administração do Sindicato dos Institutos de Beleza e Cabeleireiros de Senhoras do Rio de Janeiro e ex-dona de salão de beleza.
Verão
“A depilação é muito disseminada no Brasil por causa do nosso clima”, disse Elzimar em entrevista por telefone. “Temos verão o ano inteiro, usamos muito biquini e saia curta.”
Segundo Alessandra Rita de Arruda Lopes, dona do salão Imaculada Hair and Make Up, em Brasília, os preços da depilação da virília subiram de R$ 30 para R$ 35 porque “todos os meus custos subiram”. O custo médio de uma depilação subiu 12,4 por cento nos 12 meses encerrados em abril, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística na semana passada.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo subiu 6,51 por cento no acumulado de 12 meses até abril, superando o teto da meta do governo pela primeira vez desde junho de 2005. Para tentar segurar a inflação, os diretores do Banco Central elevaram a taxa básica de juros em 1,25 ponto percentual este ano, para 12 por cento. O BC vai continuar ajustando as “condições monetárias” por um período “suficientemente prolongado” para trazer a inflação para a meta de 4,5 por cento, disse ontem Tombini no Rio de Janeiro.
Juro básico
Analistas que acompanham a economia brasileira esperam a elevação da Selic para 12,5 por cento no final do ano, segundo a pesquisa Focus divulgada pelo BC nesta semana.
Alguns analistas, esperam taxas ainda mais altas. “A inflacão vai continuar a se manifestar”, disse Paulo Leme, economista-chefe para a América Latin do Goldman Sachs, em Miami. Ele acredita que a Selic encerrará o ano em 13,25 por cento.
O PIB per capita brasileiro atingiu um valor recorde de US$ 10.813 no ano passado, depois da expansão de 7,5 por cento da economia, o ritmo mais rápido em mais de duas décadas. O Ministério da Fazenda estima um crescimento de 4,5 por cento este ano.
O México, segunda maior economia da América Latina, cresceu 5,5 por cento no ano passado, e o presidente do banco central do país, Agustin Carstens, estimou um crescimento de 4 por cento a 5 por cento para este ano.
Mercado de trabalho
O forte crescimento ajudou a aumentar a demanda e elevar os preços de serviços no Brasil. Também contribuíram um mercado de trabalho apertado, com falta de mão-de-obra em alguns setores, o que pode resultar em negociações salariais mais vantajosas para os empregados neste ano, disse Constantin Jancso, analista economico do HSBC Bank Brasil SA em São Paulo.
“As negociações coletivas de metalúrgicos e bancários ocorrem em agosto, setembro”, disse Jancso. “Eu não me surpreenderia de ver aumentos em torno de 10 por cento, que vão alimentar ainda mais a demanda.”
Os preços de 20 de 41 tipos de serviços monitorados pelo BC se aceleraram em abril, liderados por por clubes, estacionamento e conserto de carros. Em 12 meses, o aumento de preço de 26 serviços ultrapassou a meta do governo.
O serviço de lubrificação e lavagem teve aumento de 18,25 por cento nos 12 meses encerrados em abril, também acima do IPCA. Hotéis elevaram preços em 14,03 por cento, de acordo com o IBGE.
Os preços de serviços estão subindo mais rápido do que a inflação oficial desde março de 2004, a uma taxa média anual de 6,45 por cento até fevereiro de 2011, enquanto a inflação teve média de 5,32 por cento por ano, de acordo com o relatório trimestral de inflação do BC divulgado em março.
O aumento do salário mínimo é uma das razões que levaram Alessandra Lopes a elevar os preços. Alimentação e transporte de funcionários e o custo dos rolinhos “depi roll” também contribuíram, disse ela.
“Algumas clientes não deixaram de vir cortar o cabelo, mas diminuíram a frequência,” disse Alessandra. “Mas depilação não. A mulher brasileira pode até adiar o corte de cabelo, mas nunca deixa de depilar.”