Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (Leandro Fonseca/Exame)
Agência de notícias
Publicado em 26 de setembro de 2023 às 14h12.
O governo busca uma solução para a situação dos precatórios (dívidas decorrentes de decisões judiciais contra a União).
Na segunda-feira, o Ministério da Fazenda, por meio da Advocacia-Geral da União (AGU) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma mudança na forma de contabilizar os gastos do Tesouro com precatórios. O governo quer quitar todo o passivo dessa dívida, cerca de R$ 95 bilhões, por meio da abertura de um crédito extraordinário.
O volume de recursos a pagar cresceu em razão de uma proposta de emenda constitucional aprovada no governo anterior. Nos últimos meses, o governo tem discutido como evitar que os débitos se tornem uma bola de neve . Entenda em cinco pontos o que está em jogo na discussão sobre precatórios.Os precatórios são dívidas decorrentes de decisões judiciais contra a União que já transitaram em julgado - ou seja, em que não há mais possibilidade de contestação.
São obrigações do governo que vão desde processos de grandes empresas e de servidores públicos, a questões previdenciárias que se arrastam há anos na Justiça. Um dos exemplos mais comuns incluem servidores públicos que iniciam processo judicial contra o governo pelo não pagamento de benefícios. Quando não se tem mais recursos judiciais, a dívida é obrigatoriamente anexada ao orçamento público.
O governo Bolsonaro, em 2021, propôs uma alteração na forma de pagamento dos precatórios como solução orçamentária. Na época, o então ministro da Economia, Paulo Guedes, chamou a dívida de R$ 89 bilhões em precatórios de “meteoro” que ia colidir contra as contas públicas.
Nesse sentido, a PEC dos Precatórios aprovada em novembro de 2021 no Congresso alterou o cálculo do teto de gastos, vigente na época, e virou a saída do presidente Jair Bolsonaro para viabilizar o Auxílio Brasil de R$ 400.
O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro limitou o pagamento dos precatórios ao valor quitado pelo governo federal em 2016, acrescida da inflação ano a ano. Como a cada ano o limite de pagamento está menor que o total que o governo deveria pagar, acumula-se um estoque, ou seja, as dívidas vão se acumulando. Até então, toda a dívida sinalizada pela Justiça era paga pelo governo federal sem limitações (é comum, porém, que os estados limitem os pagamentos dos seus precatórios).
Com a mudança constitucional, cresceu o risco de um impacto negativo no orçamento do governo nos próximos anos - o que torna mais difícil o caminho para a viabilização da nova âncora fiscal apresentada pela Fazenda.
Como a PEC prevê um teto anual de pagamento somente até 2026, isso deixaria uma bola de neve a ser paga em 2027. Por isso, a perspectiva é de uma bomba sobre as contas do governo, que deverá pagar tudo o que ficou retido desde 2022.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva herdou uma dívida de R$ 141,8 bilhões com precatórios até o fim de 2022, conforme dados do Tesouro Nacional. Foi um aumento de 41% na comparação com 2021.
A estimativa é que até 2027 a União terá que desembolsar quase R$ 200 bilhões se nada for feito. Segundo blog do colunista do GLOBO Lauro Jardim, há projeções para se chegar a até meio trilhão em dívidas, segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI).
O governo quer quitar R$ 95 bilhões em dívidas com precatórios recorrendo a um crédito extraordinário. Mas, para isso, quer mudar a forma como parte dos recursos é contabilizada. Dese valor total, R$ 60 bilhões seriam classificados como despesa primária, sujeita às regras do novo arcabouço fiscal. Esse valor se refere ao principal da dívida.
Os R$ 35 bilhões restantes, referentes aos juros, passariam a ser classificados como despesa financeira. Isso permitiria que eles deixassem de ser contabilizados como gasto primário, na prática, ficariam de fora da regra do arcabouço fiscal. Esse critério passaria a ser o parâmetro adiante: principal da dívida registrado como gasto primário e juros como despesa financeira, fora da regra fiscal.
Na visão do economista Gabriel de Barros, da Ryo Asset, o governo abre mais espaço para despesas. Étore Sanchez, economista da Ativa Investimentos, concorda. Segundo ele, a abertura de crédito extraordinários colocaria maior pressão sobre a emissão do Tesouro que, para cobrir passivos precisaria emitir mais, o que ampliaria o prêmio cobrado pelos agentes:
— Vale pontuar que há a possibilidade de a remoção dos precatórios dos mecanismos fiscais abram espaços para mais gastos. Com tudo isso à mesa, a pressão inflacionária deve resultar em ampliação da base e elevação do risco da nação, refletido no dólar mais elevado.
Juliana Inhasz, coordenadora do curso de Economia do Insper, avalia que a proposta enfraquece a credibilidade do arcabouço fiscal.
Para Pedro Motta, sócio da Jive Investments, a proposta corrige o erro da emenda constitucional aprovada no governo anterior e resolve o problema de forma definitiva.