Por que usar as reservas não é uma boa ideia
Ideia defendida por PT e considerada pelo governo seria "como vender um apartamento para jantar fora todo dia”, de acordo com professor do Insper
João Pedro Caleiro
Publicado em 28 de abril de 2016 às 16h23.
São Paulo – 372 bilhões de dólares é o tamanho do estoque de reservas internacionais do Brasil. No começo do milênio, elas não passavam de US$ 36 bilhões.
Reconhecidas como uma garantia de solidez externa do país, recentemente elas voltaram ao debate como possível instrumento de política econômica.
Em documento, o Partido dos Trabalhadores defende que parte delas formem um fundo para “obras de infraestrutura, saneamento, habitação, renovação energética e mobilidade urbana”.
Um estudo do banco Barclays diz que usar um terço das reservas com essa finalidade teria como consequência a fuga de capitais e a piora no custo de rolagem da dívida externa. No cenário mais extremo, o país termina o ano sem dólares.
“As reservas não estão lá sentadas à toa; têm uma proposta e um custo. São a única âncora que o Brasil pode contar e seu uso descapitalizaria o governo”, diz Bruno Rovai, autor do estudo.
Jaques Wagner, então ministro da Casa Civil, disse nesta semana que está descartada a possibilidade de usar as reservas para investimento, mas há uma reflexão sobre usá-las para abater dívida.
Em e-mail, o ex-ministro Armínio Fraga escreve que é “má ideia”. Para o economista Samuel Pessôa, é “uma completa bobagem”.
Um problema fiscal e nacional
O Brasil caminha para seu terceiro ano seguido de déficit primário e a dívida pública, atualmente em 67%, pode chegar a 80% nos próximos 3 anos, segundo a Moody’s.
O problema não é o tamanho da dívida, e sim a sua trajetória explosiva. Usar as reservas neste cenário é sacrificar uma garantia por um pequeno alívio de curto prazo.
“Vender reserva sem ter um programa fiscal ao lado é jogar dinheiro fora. É como vender um apartamento para jantar fora todo dia”, diz João Luiz Mascolo, professor do Insper.
As reservas são um dos principais motivos pelos quais a crise atual permanece basicamente doméstica, sem crises na balança de pagamentos como ocorria nas crises do passado.
Seu uso para abater dívida significa que o governo se descapitaliza, aumenta o risco de insolvência, há fuga de capitais e necessidade de mais uso de reservas, em um processo que se retroalimenta.
Isso seria agravado no caso de uma crise como a nossa, marcada pela falta de credibilidade do governo e incerteza constante em relação aos rumos políticos. Melhor deixar para um outro tipo de emergência ( a China que o diga ).
Isso não significa que as reservas não tenham custos. O governo precisa emitir títulos para ter os reais que compram os dólares que vai acumular, e para isso paga juros bem mais altos do que os que recebe. Em 2016, este “custo de carregamento” já chega a R$ 70 bilhões.
“Em condições normais, com situação fiscal em ordem e dívida pública estável, faz sentido diminuir a posição de reservas. Mas agora a gente não pode abrir mão delas. As pessoas gostam de acreditar na solução mágica que ninguém pensou antes e vai resolver. O grupo político no poder há 14 anos já deveria ter entendido que isso não existe”, diz Pessôa.
Ontem de tarde, a presidente Dilma Rousseff disse que sabe "o papel que [as reservas] desempenham: proteção do Brasil em relação a turbulências externas. Nós jamais teremos uma pauta de uso dessas reservas que não seja isso”.
São Paulo – 372 bilhões de dólares é o tamanho do estoque de reservas internacionais do Brasil. No começo do milênio, elas não passavam de US$ 36 bilhões.
Reconhecidas como uma garantia de solidez externa do país, recentemente elas voltaram ao debate como possível instrumento de política econômica.
Em documento, o Partido dos Trabalhadores defende que parte delas formem um fundo para “obras de infraestrutura, saneamento, habitação, renovação energética e mobilidade urbana”.
Um estudo do banco Barclays diz que usar um terço das reservas com essa finalidade teria como consequência a fuga de capitais e a piora no custo de rolagem da dívida externa. No cenário mais extremo, o país termina o ano sem dólares.
“As reservas não estão lá sentadas à toa; têm uma proposta e um custo. São a única âncora que o Brasil pode contar e seu uso descapitalizaria o governo”, diz Bruno Rovai, autor do estudo.
Jaques Wagner, então ministro da Casa Civil, disse nesta semana que está descartada a possibilidade de usar as reservas para investimento, mas há uma reflexão sobre usá-las para abater dívida.
Em e-mail, o ex-ministro Armínio Fraga escreve que é “má ideia”. Para o economista Samuel Pessôa, é “uma completa bobagem”.
Um problema fiscal e nacional
O Brasil caminha para seu terceiro ano seguido de déficit primário e a dívida pública, atualmente em 67%, pode chegar a 80% nos próximos 3 anos, segundo a Moody’s.
O problema não é o tamanho da dívida, e sim a sua trajetória explosiva. Usar as reservas neste cenário é sacrificar uma garantia por um pequeno alívio de curto prazo.
“Vender reserva sem ter um programa fiscal ao lado é jogar dinheiro fora. É como vender um apartamento para jantar fora todo dia”, diz João Luiz Mascolo, professor do Insper.
As reservas são um dos principais motivos pelos quais a crise atual permanece basicamente doméstica, sem crises na balança de pagamentos como ocorria nas crises do passado.
Seu uso para abater dívida significa que o governo se descapitaliza, aumenta o risco de insolvência, há fuga de capitais e necessidade de mais uso de reservas, em um processo que se retroalimenta.
Isso seria agravado no caso de uma crise como a nossa, marcada pela falta de credibilidade do governo e incerteza constante em relação aos rumos políticos. Melhor deixar para um outro tipo de emergência ( a China que o diga ).
Isso não significa que as reservas não tenham custos. O governo precisa emitir títulos para ter os reais que compram os dólares que vai acumular, e para isso paga juros bem mais altos do que os que recebe. Em 2016, este “custo de carregamento” já chega a R$ 70 bilhões.
“Em condições normais, com situação fiscal em ordem e dívida pública estável, faz sentido diminuir a posição de reservas. Mas agora a gente não pode abrir mão delas. As pessoas gostam de acreditar na solução mágica que ninguém pensou antes e vai resolver. O grupo político no poder há 14 anos já deveria ter entendido que isso não existe”, diz Pessôa.
Ontem de tarde, a presidente Dilma Rousseff disse que sabe "o papel que [as reservas] desempenham: proteção do Brasil em relação a turbulências externas. Nós jamais teremos uma pauta de uso dessas reservas que não seja isso”.