Economia

Por que o Brasil teve a nota cortada pela Fitch hoje

Comunicado cita piora do ambiente econômico e a dificuldade de obter apoio para medidas de melhora fiscal

Sede da Fitch Ratings em Londres: agência cortou a nota do Brasil para um degrau acima do especulativo (Matt Lloyd/Bloomberg)

Sede da Fitch Ratings em Londres: agência cortou a nota do Brasil para um degrau acima do especulativo (Matt Lloyd/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 15 de outubro de 2015 às 18h35.

São Paulo - A agência de classificação de risco Fitch Ratings cortou hoje a nota da dívida do Brasil de "BBB" para "BBB-", último nível do grau de investimento.

A nota foi colocada em perspectiva negativa, então um novo corte pode acontecer ao longo do próximo ano.

O movimento vem um mês após a agência Standard & Poor's rebaixar o Brasil para grau especulativo.

Muitos fundos de pensão exigem o grau de investimento de pelo menos duas das três grandes agências para aplicar seus recursos.

A Moody's cortou a nota do Brasil em agosto para um nível acima do especulativo, mas com perspectiva estável.

"A Fitch estava atrasada e não falou nada de novo. De qualquer forma, fica cada vez mais próximo o Brasil perder o grau de investimento por mais uma agência, o que teria efeitos mais severos sobre a economia brasileira, com destaque para os ativos financeiros como Bolsa e dólar", diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings.

Para o consultor Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, o corte é pouco relevante na ordem das coisas:

"Reforça a mensagem que foi dada pela S&P, mas não o suficiente para fazer o governo cair em si quanto à urgência do ajuste fiscal. Dá manchete, mas não traz nehuma informação nova".

Como já estava precificado, o corte não impactou negativamente o Ibovespa, que chegou a cair 0,21% mas voltou a subir em seguida e opera no azul, com leve alta.

No momento, pesa mais a expectativa de que os dados fracos dos Estados Unidos farão o Federal Reserve adiar o aumento dos juros para 2016, o que favorece os emergentes.

Justificativa

"O corte reflete o aumento do fardo da dívida pública, desafios crescentes à consolidação fiscal e uma piora do cenário econômico", diz o comunicado da Fitch.

A agência cita como fatores negativos a queda da receita maior do que o esperado, a diminuição da meta de superávit em 2015 e o envio para o Congresso de um Orçamento para 2016 com déficit.

Ela reconhece que o governo "está trabalhando em certas propostas de taxação e [corte de] gastos para retomar o caminho fiscal", mas o problema é de implementação diante do impasse no Legislativo e a necesidade de um consenso difícil de obter.

"Uma recessão maior do que a esperada com destruição de empregos, a popularidade reduzida da presidente Rousseff, tensões entre o governo e o Congresso, a ampliação do alcance das investigações da Petrobras e o risco de um impeachment estão embaçando o ambiente político e criando desafios de governabilidade e incerteza de políticas", diz o texto.

Em São Paulo nesta quinta-feira antes do anúncio da decisão, o diretor-executivo da Fitch no Brasil, Rafael Guedes, disse que o impeachment não é cenário-base e que "sempre é negativo para rating pois traz instabilidade política e econômica".

A projeção da Fitch é de uma queda do PIB de 3% em 2015 e 1% em 2016 com déficit zero em 2016 e superávit de 0,5% em 2017.

Isso leva a um aumento da dívida para 70% do PIB já no ano que vem, acima da mediana de 43% de outros países com mesmo nível de rating.

Do lado positivo, que justifica a nota atual, a Fitch cita o ajuste em curso do déficit em conta corrente, a diversidade econômica e instituições fortes da sociedade civil, assim como a capacidade de absorver choques por meio de grandes reservas internacionais, mercado de capital desenvolvido e câmbio flutuante.

Acompanhe tudo sobre:Agências de ratingCrise econômicaCrise políticaDívida públicaeconomia-brasileiraEmpresasFitchMercado financeiroRatingRecessão

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor