Economia

Por que a economia da Rússia não colapsou mesmo com guerra e sanções?

País é uma potência em setores estratégicos como petróleo, gás natural, trigo e metais

Putin: presidente russo intensificou negócios com países como China e Índia para minimizar sanções (Contributor/Getty Images)

Putin: presidente russo intensificou negócios com países como China e Índia para minimizar sanções (Contributor/Getty Images)

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter colaborador

Publicado em 19 de fevereiro de 2024 às 07h40.

Com a guerra da Ucrânia prestes a completar dois anos, analistas se perguntam como a economia russa conseguiu sobreviver depois de tantas sanções ocidentais? O colapso no PIB não veio.

Mesmo que os números divulgados por Moscou pareçam mais otimistas do que a média, é inegável que a economia mostrou-se muito resiliente. "De um ponto de vista puramente econômico, a Rússia tem um espaço considerável para continuar travando a guerra," disse Hassan Malik, estrategista e especialista em Rússia na empresa de gestão de investimentos Loomis Sayles, ao Business Insider.

Apesar das sanções se intensificarem desde o início do conflito, a Rússia vem lutando contra sanções desde 2014, quando foi atingida por uma série de restrições comerciais após anexar ilegalmente a Crimeia da Ucrânia. Mesmo assim, as receitas provenientes de suas vendas de petróleo continuam salvando.

Cenário da guerra

"A guerra tem sido travada na maior parte em território ucraniano, destruindo casas, fazendas e negócios do lado de lá. Os danos do lado russo são bem mais pontuais e restritos", explica Malik.

Para compararmos: em 2022, no primeiro ano da guerra, o PIB da Rússia recuou 1,2%, segundo dados oficiais. Analistas ouvidos pela Reuters acreditam que, em 2023, a economia russa cresceu 3,1%.

Já a Ucrânia viu seu PIB tombar 29% em 2022. O Banco Central local estima um crescimento de 4,9% para o ano passado.

As necessidades militares da Rússia envolvem suprimentos como armas e munições e bandagens. E essa intensa demanda impulsiona as indústrias que produzem esses bens, fortalecendo uma indústria que a Rússia já é muito forte.

A Rússia enfrentava uma crise demográfica mesmo antes de sua guerra com a Ucrânia. Com o início do conflito, quase 1 milhão de russos — incluindo homens em idade de alistamento — fugiram de sua terra natal. 

No ano passado, a Rússia enfrentou uma escassez de 5 milhões de trabalhadores à medida que as vagas na força de trabalho aumentaram quase 5% em relação ao ano anterior. Em novembro, a Rússia registrou uma taxa de desemprego recorde de 2,9%.

Devido à escassez de mão de obra, os salários aumentaram, apoiando o consumo e o crescimento econômico.

Potência econômica

Oitava maior economia do mundo (segundo dados do Banco Mundial de 2022), a Rússia é uma potência em setores estratégicos como petróleo, gás natural, trigo e metais. Diferente de outras nações, a Rússia é autossuficiente ma produção dessas commodities e pode passar alguns anos no aperto das sanções.

"Aliado a isso, a Rússia impôs uma série de medidas para impulsionar sua economia — incluindo importações de outras nações, a mudança para mercados alternativos de exportação, como China e Índia, e novas cadeias de suprimentos, o que diluem ainda mais o impacto das sanções ocidentais na indústria de defesa russa e na economia de guerra", disse Hassan Malik ao Business Insider.

Além disso, o governo de Vladimir Putin reforçou os subsídios para hipotecas e outros tipos de empréstimos para manter e economia girando.

Vale lembrar que a Rússia entrou na guerra com pouca dívida externa e suas contas têm registrado superávit, em parte devido ao impacto da guerra sobre os preços das commodities.

Com esses números positivos, não é de se estranhar que o Kremlin alocou quase um terço de seu orçamento de 2024 para gastos com defesa, apesar de todas as sanções. Alex Isakov, economista da Bloomberg, disse em relatório de 17 de janeiro que os ativos do fundo soberano da Rússia conseguem durar mais um ou dois anos se os preços de exportação de petróleo do país ficarem até US$ 50 por barril.

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