Ecossistema em risco: praia na Indonésia tomada por lixo plástico. (RIAU IMAGES / Barcroft Media/Getty Images)
Vanessa Barbosa
Publicado em 12 de abril de 2019 às 12h31.
Última atualização em 12 de abril de 2019 às 12h32.
São Paulo - A poluição marinha por lixo plástico impõe mudanças perigosas ao equilíbrio dos oceanos e para a própria economia mundial. Os custos resultantes dos seus efeitos negativos sobre os ecossistemas marinhos somam impressionantes US$ 2,5 trilhões — por ano — segundo um estudo publicado esta semana no Boletim da Poluição Marinha.
Na prática, esse valor representa todas as perdas e danos causados aos serviços ambientais importantes que o mar fornece, como a produção de oxigênio e alimentos, armazenamento de carbono e a manutenção do equilíbrio térmico no mundo. Nesta lista entram, ainda, atividades e benefícios inestimáveis ligados a atividades de lazer (contemplar o mar na praia não custa nada e é muito relaxante).
Todos esses serviços que os oceanos fornecem aos seres humanos e demais espécies também estão em risco por outras ameaças ambientais, à exemplo das mudanças climáticas e a poluição por despejos ilegais de esgoto e rejeitos químicos industriais. O consumo e descarte massivo e irregular de resíduos plásticos é mais uma fonte de pressão para o ambiente marinho.
Na ponta do lápis, o estudo estima que cada tonelada de resíduo plástico reduz em US$ 33.000 o valor ambiental dos serviços ecossistêmicos marinhos. Estima-se que 8 milhões de toneladas de poluição plástica entram nos oceanos do mundo a cada ano. A multiplicação dos fatores gera, como se vê, um resultado indigesto.
O estudo busca aumentar a compreensão dos efeitos holísticos da poluição marinha por plástico e o impacto resultante nos serviços ecossistêmicos, e por sua vez, no bem-estar humano, na sociedade e na economia. O que é conhecido tende a ser baseado em pesquisas locais de pequena escala.
"Uma compreensão sólida do impacto ecológico, social e econômico do plástico marinho é essencial para fornecer subsídios para uma negociação global eficaz e eficiente em relação ao uso, manejo e descarte sustentável do plástico, um material com muitos benefícios e de amplo uso", defendem os pesquisadores no estudo.
Para a pesquisa, os cientistas revisaram estudos globais que reúnem mais de 1190 dados sobre poluição marinha por lixo plástico, e estimaram os impactos globais sobre a ecologia, sociedades e economias. As estimativas não levam em conta os impactos diretos e indiretos sobre as indústrias de turismo e transporte, nem sobre a saúde humana (devido, por exemplo, à ingestão de frutos do mar contaminados).
“Nossos cálculos são uma primeira tentativa de colocar um preço no plástico. Sabemos que temos que fazer mais pesquisas para aperfeiçoar, mas estamos convencidos de que nossos resultados subestimam os custos reais para a sociedade humana global”, disse ao jornal britânico The Guardian, Nicola Beaumont, economista ambiental do Laboratório Marinho de Plymouth, que liderou o estudo.
Há ainda muita coisa que os cientistas desconhecem sobre a poluição plástica, mas o que eles já sabem é suficiente para indústrias, cidadãos e tomadores de decisão repensarem sua produção e consumo.