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Polícia Federal prende presidente e fundador da Cisco no Brasil

Executivos são acusados de envolvimento em esquema de fraudes na importação de produtos para reduzir o pagamento de impostos

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h11.

A Polícia Federal cumpriu 40 mandados de prisão temporária contra suspeitos de envolvimento em esquema de fraudes na importação de produtos de telecomunicações. A PF informou que o esquema teria sido montado para beneficiar uma multinacional americana líder em serviços e equipamentos de alta tecnologia para redes de internet e telecomunicações. O Portal EXAME apurou que essa empresa é a Cisco Systems e que quatro de seus principais executivos foram presos: Pedro Ripper (presidente), Carlos Carnevali (fundador da Cisco no Brasil e ex-presidente na América Latina), Carlos Carnevali Jr. (gerente para desenvolvimento de negócios na América Latina) e Marco Sena (diretor de canais).

Membros da diretoria da Mude, uma distribuidora de produtos da Cisco, também foram presos. Entre eles, estão Moacir Sampaio (sócio da Mude) e Fernando Grecco (diretor de marketing). Além disso, foram detidos seis auditores da Receita Federal suspeitos de facilitar a fraude. A PF pediu ainda ao governo dos Estados Unidos que prenda outras cinco pessoas em território americano. Entre essas pessoas também há funcionários brasileiros da Cisco.

A companhia americana é uma das maiores empresas de tecnologia do mundo. Com um faturamento de 35 bilhões de dólares estimado para este ano e um valor de mercado de 197 bilhões de dólares, a empresa, que tem sede em San Jose, no Vale do Silício, é uma das maiores histórias de sucesso da indústria tecnológica nos últimos dez anos. Seu crescimento acompanhou a explosão mundial da internet a partir de meados dos anos 90. A empresa fabrica roteadores, os equipamentos que fazem as conexões entre os computadores ligados à internet. Também é dona da marca Linksys, uma marca popular de roteadores sem fio usados em redes domésticas Wi-fi.

Cerca de 650 agentes da PF, Receita Federal e Ministério Público Federal foram mobilizados pela operação, batizada de Persona. As investigações já duravam dois anos, e mandados de prisão e de busca e apreensão foram cumpridos em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. A Polícia Federal afirma ter obtido indícios de descaminho, ocultação de patrimônio, sonegação fiscal, falsidade ideológico, uso de documentos falsos, evasão de divisas e corrupção ativa e passiva.

Os envolvidos na fraude supostamente solicitavam produtos à Cisco por meio de empresas com sedes em paraísos fiscais (como Panamá, Bahamas e Ilhas Virgens Britânicas). O real importador do bem não aparecia. Com a utilização de notas fiscais falsas, os bens importados eram subfaturados, reduzindo o valor dos impostos recolhidos. No esquema de importação haveria dirigentes brasileiros da Cisco e de sua distribuidora em São Paulo, a Mude, que conseguiam abastecer o mercado nacional com seus produtos sem industrializá-los e sem participar formalmente de qualquer processo de importação.

Segundo a PF, nos últimos cinco anos, o grupo teria importado de maneira fraudulenta produtos no valor de cerca de US$ 500 milhões, o que autuações fiscais de R$ 1, 5 bilhão. Procurada, a assessoria de imprensa da Cisco informou não ter informações sobre o suposto esquema de fraudes e sobre a prisão de seus executivos. Afirmou também que está cooperando com as autoridades brasileiras. As ações da Cisco negociadas em Nova York fecharam em queda de 1,52% no pregão da Nasdaq, mas apontavam para uma ligeira recuperação no after-market.

Com faturamento líquido anual de 34,9 bilhões de dólares - praticamente o dobro da cifra de cinco anos atrás - e mais de 61 000 empregados, a Cisco é uma das empresas mais influentes do Vale do Silício e, apesar de atuar essencialmente nos bastidores da rede, tem um nome conhecido. Segundo um levantamento da revista americana Business Week, a Cisco é a 18ª marca mais valiosa do mundo, à frente de outros gigantes da tecnologia como Google e Oracle.

Fundada em 1984 por estudantes da Universidade Stanford, a empresa chegou à Bolsa de Nova York em 1990 e tem valorizado suas ações de forma constante. No ano fiscal encerrado em julho de 2007, a companhia aumentou em quase 30% o valor unitário de seus papéis, na comparação com o ano anterior. Além do desempenho formidável no mercado de ações, a Cisco também sempre foi considerada uma empresa inovadora do mundo em suas práticas de gestão. Foi uma das primeiras companhias a usar de forma intensiva a internet para vender seus produtos e para ganhar eficiência na gestão de seus funcionários.

Além dos roteadores, sua principal linha de negócios, a Cisco oferece uma vasta linha de produtos de telecomunicações, como sistemas de telefonia pela internet, comunicações de dados sem fio e um sofisticado sistema de videoconferências, chamado Telepresence.

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