Lula na COP28 - Dubai Foto: Leandro Fonseca Data: 02/12/2023 (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 18 de junho de 2024 às 09h59.
Última atualização em 18 de junho de 2024 às 11h02.
As reiteradas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, se tornaram corriqueiras e não afetam mais os mercados como no início do governo. Entretanto, as pistas que Lula deu nesta terça-feira, 18, sobre o perfil do próximo chefe da autoridade monetária causaram calafrios em quatro banqueiros e investidores ouvidos reservamente pela EXAME.
O petista afirmou, em entrevista à CBN, que quer no BC um presidente que "deve ter na cabeça meta de crescimento", "que não se submeta à pressão de mercado" e que "tenha compromisso com o desenvolvimento do país". Cabe ao presidente da autoridade monetária, entretanto, garantir a estabilidade do poder de compra da moeda, ou seja, controlar a inflação.
"Presidente de Banco Central faz política monetária, garante que a inflação não saia do controle, que é o principal imposto para os mais pobres. Quem faz política econômica e se preocupa com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) é o ministro da Fazenda, os seus pares e o presidente da República. Esses sinais de Lula são péssimos", disse um banqueiro.
O mesmo banqueiro reconheceu que o nome que desponta como favorito para o posto é o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, que, até momento, tem dado sinais de que não se desviaria do objetivo central, de combater a inflação. Entretanto, o mesmo executivo pondera que enquanto ele ou outra pessoa for anunciada formalmente pelo governo, as especulações a partir das declarações de Lula continuarão.
Outro executivo de mercado que acompanha o trabalho do BC há mais de 30 anos afirmou que Lula tem gastado energia significativa em criticar a autoridade monetária, o regime de metas para a inflação e os empresários. E isso, na prática, disse o gestor, só tem causado volatilidade excessiva na Bolsa de Valores, na taxa de câmbio, nos juros futuros e no risco país.
"O presidente Lula sempre foi um hábil negociador político, os empresários ganharam muito dinheiro no seu governo e a expectativa era de que não teríamos tanta turbulência. Aconteceu tudo ao contrário. Lula deixou de lado o Congresso, retomou a velha máxima de colocar empregados e patrões em confronto e só critica o mercado financeiro", disse.
O próximo presidnte do BC, afirmou um outro analista, terá que ter tamanha credibilidade que ao sentar na cadeira ancore as expectativas de inflação. E isso não deve ocorrer, segundo o mesmo analista. O risco, alertou, é de que a autoridade monetária tenha que subir os juros para que as estimativas do mercado parem de subir. Ponto determinante nesse processo será quando os Estados Unidos iniciarão o ciclo de cortes da taxa por lá.
"O canal das expectativas é muito importante. Anunciar o sucessor de Campos Neto pode ancorar expectativas ou aumentar ainda mais as projeções, a depender do nome. A situação é extremamente complexa. Temos um mercado consumidor enorme, energia limpa e, ao mesmo tempo, insegurança jurídica de um lado e volatilidade excessiva criada pelo governo, do outro. Para piorar, o risco fiscal joga contra qualquer possibilidade de melhora do ambiente econômico", resumiu o analista.
Outro banqueiro foi categórico na análise. "Lula critica reiteradamente o mercado, os empresários, bate no Banco Central e não tem maioria no Congresso. O governo de coalisão acabou em 1º de janeiro de 2023", disse.