Repórter de Economia e Mundo
Publicado em 27 de abril de 2023 às 10h32.
Última atualização em 27 de abril de 2023 às 10h45.
A economia americana continua crescendo em meio aos riscos globais, mas a alta de juros e inflação persistente podem estar começando a cobrar sua conta. O produto interno bruto (PIB) dos EUA avançou 1,1% no primeiro trimestre a uma taxa anualizada, segundo divulgado nesta quinta-feira, 27, pelo Departamento de Comércio. O número ficou abaixo da expectativa do mercado, que era de alta de 2%.
Essa é a primeira leitura feita sobre o período, e ainda tende a ser revisada. Apesar disso, o resultado representa uma desaceleração frente ao trimestre anterior, quando a economia havia crescido 2,6%.
O Escritório de Análises Econômicas (BEA, na sigla em inglês), órgão do Departamento de Comércio do país, afirmou que o crescimento de 1,1% do PIB americano no primeiro trimestre foi puxado pela alta do consumo e de gastos do governo.
O destaque do PIB americano no período entre janeiro e abril foi o consumo privado, que avançou 3,7%. O consumo privado responde por dois terços do PIB americano e é, historicamente, um dos principais fatores de crescimento da economia.
Os gastos e investimentos dos governos subiram 4,7%, com destaque para o nível federal, onde a rubrica teve alta de 7,8%.
As exportações avançaram 4,8% e as importações subiram 2,9%.
Na outra ponta, o destaque negativo foi o investimento privado doméstico (isto é, feito dentro do país e não em estrangeiro), que teve queda de 12,5%, em um impacto direto da alta dos juros.
O leve aumento dos investimentos não residenciais (0,7%), como compra de máquinas e equipamentos e propriedade intelectual, ocorreu em patamar menor do que nos trimestres anteriores e não conseguiu amenizar a queda. Nesse grupo, houve redução forte (-7,3%) nos investimentos em equipamentos.
Desde março de 2022, o Fed, banco central americano, elevou a taxa de juros de perto de zero para intervalo entre 4,75% e 5,0%, patamar anunciado na última reunião, em março. No próximo encontro do comitê de política monetária, na semana que vem, a expectativa é que o Fed leve a banda juros para entre 5,0% e 5,25%. A alta pode ser a última antes de o BC americano pausar a trajetória de aperto monetário.
No ano passado, após dois trimestres de retração e um cenário de "recessão técnica", a economia americana voltou a crescer no terceiro e quarto trimestres, resultado que continuou neste começo de 2023. Apesar disso, em meio à alta sequencial de juros promovida pelo banco central americano (o Fed), a recuperação deve ocorrer de forma mais lenta - o debate do momento nos mercados globais é se o Fed conseguirá promover uma desinflação nos EUA sem gerar uma recessão no país, o chamado "pouso suave".
No caminho para o fim do aperto monetário nos EUA, há ainda uma lista de riscos no radar do Fed, como cenário de desemprego em baixa histórica, com potencial de seguir aquecendo a demanda e pressionando a inflação. Além disso, após a inflação americana ter chegado ao patamar de 9% no começo de 2022 com a alta dos combustíveis e guerra na Ucrânia, alguns dos efeitos daquelas altas (como reajustes) podem seguir afetando os preços de forma inercial, algo que economistas têm monitorado.
Por outro lado, uma possível crise de crédito após a quebra de grandes bancos, como o Credit Suisse, poderia levar a um relaxamento do aperto monetário, e o Fed tem dito que monitora o cenário.
Por ora, os EUA de fato tem levado a cabo uma desinflação, ainda que longe da meta na casa dos 2% com a qual o país estava habituado antes da crise inflacionária. Após ter chegado ao pico de 9,1% em junho de 2022, a maior inflação em 40 anos, O CPI, principal índice inflacionário americano, está em 5% no acumulado em 12 meses até março, último dado divulgado.