Economia

Petrópolis tem prejuízo de R$ 665 milhões e perde cerca de 2% do PIB

Pesquisa leva em consideração apenas o dano direto a empresas e a expectativa é que os empresários levem em média 13 dias para retomar totalmente as atividades

 (MAURO PIMENTEL/AFP)

(MAURO PIMENTEL/AFP)

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Agência O Globo

Publicado em 21 de fevereiro de 2022 às 09h17.

Paralelamente à tragédia humana, que a cada dia ganha dimensão mais dramática, Petrópolis perdeu cerca de 2% do PIB em consequência das chuvas que devastaram a cidade na semana passada. Segundo pesquisa da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), o prejuízo é de R$ 665 milhões, considerando apenas o dano direto a empresas. De acordo com o levantamento, o temporal impactou 65% das empresas do município. Cerca de 85% ainda não tiveram atividades restabelecidas. A expectativa é que os empresários levem em média 13 dias para retomar totalmente as atividades. Mas um em cada três prejudicados não sabe dizer quando isso será possível.

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Além das perdas materiais, 11% das empresas relataram o desaparecimento ou morte de funcionários. É o caso da Thiamo Confecções, na Rua Teresa, um dos principais polos da indústria têxtil do estado e um dos lugares mais afetados.

— Uma funcionária está desaparecida. Outro perdeu a mulher, que ficou presa num ônibus na enxurrada. Tem gente da nossa equipe que perdeu a casa — diz o proprietário, Addison Meneses, há 37 anos no mercado.

Ainda atordoado com a tragédia, o empresário afirma que ainda não consegue calcular o prejuízo financeiro pelos dias sem funcionar:

— Sexta-feira foi a primeira vez que eu entrei na confecção. Havia lama, rua bloqueada, não dá para chegar direito. Perdi parte da matéria-prima.

De acordo com a pesquisa da Firjan, que ouviu 286 empresários de Petrópolis entre os dias 16 e 18, os prejuízos são diversos: 35% relataram o impacto direto na área de vendas. A mesma proporção teve problemas na produção e 30% na área administrativa. Uma em cada 4 empresas impactadas chegou a ter sua produção totalmente paralisada.

Entre as dificuldades enfrentadas, as maiores foram alagamento no entorno do estabelecimento, relatado por 76,8% dos entrevistados, e falta de energia ou telefone, que afetou 60%. Três em cada dez empresas afetadas tiveram alagamento em seu interior, e duas em cada dez registraram danos em sua estrutura física.

Petrópolis

(MAURO PIMENTEL)

Demanda por limpeza

A pesquisa também destacou demandas dos empresários. Entre as medidas consideradas urgentes, estão a limpeza de ruas e bueiros (34%); o escoamento de água (32% ) e a retomada de serviços essenciais (23%). Também foram cobradas políticas de planejamento urbano (35%), limpeza de rios (29%) e políticas de habitação que impeçam ocupações irregulares (27%). Houve ainda demanda por crédito, solicitado por 30%; postergação do pagamento de impostos (25%); e suporte a famílias (20%).

O sentimento dos empresários atingidos pelas chuvas é o de retorno à estaca zero. Isso porque o desastre ocorreu justamente quando eles previam o início da recuperação dos prejuízos pela pandemia. Addison, da Thiamo Confecções, já tinha um empréstimo de R$ 170 mil e não sabe como irá pagá-lo, sobretudo agora que espera ter a empresa fechada por dez dias para limpeza:

— A perspectiva era começar a recuperar as perdas da pandemia este ano. Mas, agora, a cidade está arrasada. O sentimento é de impotência.

O presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, foi a Petrópolis na quinta-feira e encontrou empresários aos prantos. Segundo ele, todo passivo econômico se soma aos demais aspectos incalculáveis da tragédia:

— Mal deu para sobreviver à pandemia, veio essa desgraça. Além da parte financeira e econômica, eles precisam repor os ativos. Pelas imagens, é possível ver balcões e máquinas indo embora. Alguns têm seguros e outros não, a maioria dos pequenos não tem. É um drama. Quem sobreviveu precisa ter renda para viver.

O impacto da chuva foi tão grande que, em toda a Rua Teresa, na manhã seguinte ao desastre, apenas um local estava aberto, e por um motivo nobre. O jornaleiro Renato abriu sua banca, pois achou que as pessoas iriam precisar de água e outros itens que ele vende.

— A gente só veio mesmo dar um suporte. Não tem como comprar água, refrigerante, comida — disse.

A maior livraria de Petrópolis, a Nobel, na Rua Dezesseis de Março, teve 100% do estoque destruído, um prejuízo de R$ 500 mil. No final do ano, as livrarias costumam trabalhar com grande parte do estoque consignado das editoras e, nos primeiros meses do ano seguinte, devolvem os exemplares. Os livros, que estavam separados no subsolo da loja, seriam devolvidos. Como a água inundou o local e as publicações ficaram encharcadas, o dono da livraria deve ter que pagar pelos exemplares.

Irany Rodrigues, de 70 anos, dona de uma loja de roupas, disse que só pretende reabrir o estabelecimento depois que a situação estiver normalizada.

— O que perdi equivale a dois meses.Eu trabalhava no Rio. Há dois anos me mudei para abrir uma loja na rua Teresa. Primeiro foi a pandemia e depois essa tragédia. Vai demorar um pouco, mas vai normalizar.

Felipe Siqueira, de 27 anos, dono de uma loja de alimentos, também lamenta os prejuízos, mas reconhece que o mais importante é estar vivo.

— Minha perda chegou a 80% dos estoques da minha loja de suprimentos alimentares. Boa parte estava guardada no subsolo. A chuva pegou todo mundo de surpresa porque, em chuvas anteriores, a água sequer chegou até a porta. Foi tudo muito rápido. A água chegou até o teto do depósito. Meu prejuízo foi de R$ 150 mil a R$200 mil. Mas, graças a Deus, estou vivo, vou poder voltar a trabalhar. Vamos precisar de muita ajuda, inclusive de quem não é de Petrópolis, para retomar as atividades.

Socorro financeiro

Para amparar as empresas de Petrópolis, Eduardo Eugenio disse que a Firjan vai instalar hoje uma agência de atendimento na cidade para a negociação de empréstimos:

— Estamos chamando agentes públicos de financiamento e algumas cooperativas de crédito. Na quarta e na quinta, o BNDES vai levar representantes dos grandes bancos para ouvir todos que precisarem.

O Centro de Atendimento ao Pequeno Empresário de Petrópolis será aberto hoje às 15h para assessorar os pequenos e microempresários afetados pela tragédia. Vão participar do atendimento o BNDES, a Agência Estadual de Fomento (AgeRio), o Sicoob e o Sicredi. A partir de amanhã, o centro funcionará das 9h às 17h.

A Firjan também convocou, na última semana, empresas e entidades para a doação de materiais, produtos, serviços e ajuda financeira aos atingidos pela chuva.

Na quinta-feira, o governador Cláudio Castro anunciou a criação de uma linha de crédito para os empresários de Petrópolis, que deve ser oferecida pela AgeRio. A expectativa é de duas linhas de crédito, num total de R$ 200 milhões. Os beneficiados terão até 12 meses de carência antes de começar a pagar o empréstimo, que poderá ser quitado em até 60 vezes sem juros.

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