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Petrobras e Eletrobras: o plano é enxugar

A maré pode estar começando a virar para as estatais do setor de energia brasileiro. O plano tanto para a Petrobras, que acumula dívida de 126 bilhões de dólares, quanto para a Eletrobras, que teve que ser retirada das bolsas americanas por não conseguir fechar os balanços de 2014 e 2015, é o mesmo: privatizar […]

PETRÓLEO: o timing das empresas não é o mesmo do que necessita o governo / Germano Luders / Exame
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Da Redação

Publicado em 8 de outubro de 2016 às 11h58.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h17.

A maré pode estar começando a virar para as estatais do setor de energia brasileiro. O plano tanto para a Petrobras, que acumula dívida de 126 bilhões de dólares, quanto para a Eletrobras, que teve que ser retirada das bolsas americanas por não conseguir fechar os balanços de 2014 e 2015, é o mesmo: privatizar para priorizar. A petroleira pretende vender 35 bilhões de dólares em ativos até 2018 e a estatal do setor elétrico se programa para se desfazer de sete distribuidoras.

Sob a gestão de Pedro Parente, que assumiu o comando da empresa em maio deste ano, a Petrobras está mais avançada no projeto de reestruturação. Em setembro, ao ser confirmado o impeachment da presidente Dilma Rousseff, foi apresentado um completo Plano Estratégico e de Negócios. O tom é claro: é preciso focar no que mais dá retorno. Os setores de óleo e gás serão priorizados, enquanto que os biocombustíveis estão integralmente descartados da operação pelos próximos cinco anos. O pré-sal, que tem alto custo de extração, também não será prioridade — pelo menos não enquanto o preço do barril estiver na casa dos 50 dólares.

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Em relação às privatizações, Parente afirma estar sendo responsável. “É importante registrar que em todos os processos de parceria e desinvestimentos temos avaliações independentes de pelo menos dois bancos, normalmente três e, às vezes, quatro bancos. Eles asseguram que os preços que estamos vendendo os ativos são justos, adequados”, afirmou a EXAME Hoje. Este ano, já foram vendidas as filiais da Petrobras na Argentina, por 892 milhões de dólares, e no Chile, por 490 milhões.

Na Eletrobras, a situação é mais delicada. O novo presidente, o engenheiro Wilson Ferreira Júnior, só assumiu em julho, e a empresa ainda está penando para conseguir acertar as contas. O último relatório anual com os balanços da empresa é de 2013. “Nós criamos uma diretoria de compliance. Há cerca de um ano, nosso conselho de administração constituiu uma comissão independente para fazer o processo de investigação internamente. Vamos reconhecer todos esses achados no nosso balanço de 2014 e 2015, até o final de outubro”, afirmou Ferreira, em entrevista durante o EXAME Fórum.

Com os escândalos e a inviabilidade de fechar os relatórios de administração, a empresa está com a ajuda da auditoria holandesa KPMG lutando para voltar ao mercado. Na próxima terça-feira 11, vence mais um prazo para a elétrica entregar o formulário 20-F, exigido pela bolsa de Nova York. Os auditores estão focados em finalizar o documento, que deve ser submetido ao conselho na segunda-feira 10. Caso seja aprovado, a diretoria segue para Nova York para fazer o registro.

Com tanta turbulência na administração, a empresa ainda não conseguiu elaborar um plano estratégico, mas o executivo já sabe quais serão seus três pilares primordiais: governança e compliance, eficiência operacional e disciplina financeira. E a eficiência passa pela reestruturação das prioridades. Com foco total nas operações de geração e transmissão, a Celg, distribuidora de energia de Goiás, já foi colocada à venda. Outras seis devem ser privatizadas até o ano que vem. As negociações com o mercado não têm sido fáceis — o preço da companhia goiana baixou de 2,8 bilhões para 1,8 bilhão por causa da falta de interesse dos investidores. O objetivo é garantir a venda ainda este ano.

E o governo está trabalhando para melhorar as condições de negociação. Esta semana, uma comissão mista aprovou a MP 735/2016, que facilita concessões e privatizações no setor elétrico. O texto permite que a União transfira o controle de empresas de energia elétrica a um consórcio privado, por meio de licitação, por até 30 anos. A medida deve ser votada pela Câmara e pelo Senado até 20 de outubro.

Para o presidente da Eletrobras, o setor elétrico vive um bom momento, devido a avanços na discussão sobre a agenda regulatória. “Faltavam algumas coisas, como o financiamento de debêntures de infraestrutura, uma perspectiva de taxas maiores de retorno e uma visão mais real e competitiva nos leilões, mas isso foi claramente colocado agora pelo novo ministro de Minas e Energia [Fernando Coelho Filho]”, afirmou Wilson Ferreira Júnior. “Há processos de consolidação, venda de empresas e leilões em curso. Estamos bem na frente dos outros segmentos da infraestrutura, uma inspiração para os demais”.

O economista Claudio Frischtak, presidente da consultoria de negócios InterB, concorda que há bons ventos para o setor e que o planejamento é “bem razoável”. Para o especialista, é preciso avançar rápido com a venda de ativos. “Nós temos hoje uma situação em infraestrutura do nosso país que é muito mais débil que em países semelhantes. Não temos que ter medo, enquanto sociedade, de dizer que as nossas privatizações foram um grande sucesso”, afirma. “É importante que essas empresas sejam transferidas para que se melhore a qualidade do serviço para a população. Esse é o cerne do interesse público”.

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