Economia

Pesquisa mostra a realidade econômica das favelas após um ano de pandemia

Uma nova pesquisa do Outdoor Social revela o impacto de mais de um ano de pandemia nos negócios e no emprego nas 10 maiores favelas do Brasil

 (joao Gurgel / 500px/Getty Images)

(joao Gurgel / 500px/Getty Images)

AM

André Martins

Publicado em 30 de abril de 2021 às 16h17.

Última atualização em 4 de maio de 2021 às 09h17.

O empreendedorismo está presente nas principais favelas do país. São mais 289 mil comércios registrados nas mais de 6 mil comunidades em todo o Brasil. Só no G10, bloco liderado pelas dez favelas mais populosas e com maior potencial econômico, são 125 mil empresas com CNPJ ativos, correspondendo a 43,5%.

Uma nova pesquisa da Outdoor Social, empresa de impacto social voltada para classes populares, compara respostas de 2020 e 2021 dos empresários das dez maiores favelas do Brasil para entender como a pandemia do novo coronavírus e as medidas restritivas estão afetando os negócios nas comunidades.

Segundo a Outdoor, o potencial de consumo das dez favelas do G10 é de 7,7 bilhões de reais.

Quando perguntados se perderam dinheiro (faturamento) desde o início da pandemia, 88% dos empresários disseram que sim em 2020. Já em 2021, esse número caiu para 75%. E a principal causa apontada pelos empreendedores que não conseguiram encontrar alternativa para driblar a queda foi a falta de dinheiro do clientes.

Dos 25% que disseram não terem diminuído seu faturamento durante a pandemia, as soluções adotadas foram ampliação na variedade de produtos, com 51%; seguida de entregas à domicílio, com 47% e vendas e divulgações por meio das redes sociais com 45%. As principais redes sociais utilizadas pelos empresários nas comunidades foram o Whatsaap, Facebook e Instagram.

Cerca de 16% dos empreendimentos registraram perda total em 2020, enquanto em 2021, esse número caiu para 3%.

Mesmo com diminuições no faturamento de mais de 75% nos negócios, os empresários mantiveram o emprego dos funcionários: 89% não demitiu em 2020 e, este ano, o percentual ficou em 80%.

Em 2020, 71% dos empresários entrevistados aderiram as medidas restritivas impostas por estados e municípios, este ano 52% aderiram às portas fechadas para cumprirem às normativas, e apenas 16% ainda se mantêm fechados.

De todos os empreendimentos entrevistados, 24% correspondem a CNPJ ativos há mais de 10 anos, 30% com 5 a 10 anos de atuação e 45% são novos empreendedores, com menos de 5 anos de atividade.

Quando a pesquisa perguntou o que poderia fazer a empresa ter um resultado melhor nesse momento, 82% dos entrevistados responderam que o fim da pandemia seria a solução.

O consenso entre cientistas é que somente a vacinação em massa "acabaria" com a pandemia. Porém, o Brasil ainda está longe de atingir uma imunidade coletiva. Segundo dados de ontem do consórcio de imprensa, apenas 7,15% da população já está imunizada com as duas doses da vacina contra a covid-19.

Quem ficou desempregado durante a pandemia empreendeu

A Outdoor Social também quis entender a realidade socieconômica das pessoas e levantou dados comparativos sobre o emprego nas dez maiores favelas. A pesquisa revelou que número de desempregados nas comunidades não teve aumento acentuado entre 2020 e 2021.

Dos 43% que ficaram desempregados durante a pandemia do novo coronavírus, cerca de 43,8% começaram a empreender para obter alguma forma de renda no último ano. Por outro lado, 57%, conseguiram manter os respectivos postos de trabalho.

A pesquisa revela que, entre os novos empreendedores, 80,7% estão na informalidade. Contudo, 85% pretendem manter os negócios quando a pandemia acabar.

O estudo também perguntou aos entrevistados quais são os tipos de trabalho que as pessoas das comunidades costumam procurar quando perdem o emprego. Vendedor ambulante se mantem como a primeira opção, segundo opinião de 57,9% dos entrevistados. Em seguida, de forma crescente, os entregadores de aplicativos de refeição, com 44,7%; e os motoristas de aplicativo, de acordo com 41,1% das pessoas ouvidas.

Apesar de todos os dados, o otimismo segue crescente entre os moradores da favelas. Perguntados sobre a retomada de emprego ou novas oportunidades pós pandemia, o número sobe de 62% em 2020 para 72% em 2021. Porém, 54% acreditam que o salário será menor. O que revela um receio da precarização do trabalho e da remuneração.

A realidade do desemprego nas favelas é vista nos dados de todo o Brasil. O número de desempregados no período dos meses de dezembro de 2020, janeiro e fevereiro de 2021 atingiu o recorde da série histórica iniciada em 2012, com 14,4 milhões de pessoas na situação, segundo dados do IBGE divulgados nesta sexta-feira. 

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