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Paraíso do dinheiro no Oriente Médio, Dubai está perdendo brilho

Resultado de empresas emblemáticas decepciona e mercado de ações está tendo seu pior ano em uma década

Vista do horizonte de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos (Christopher Pike/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

Publicado em 19 de novembro de 2018 às 16h52.

Última atualização em 19 de novembro de 2018 às 16h59.

Desde o surgimento das primeiras torres reluzentes no deserto, Dubai passou por mudanças rápidas. O emirado está familiarizado com altos e baixos. Mas o que está acontecendo agora é diferente: um sangramento lento.

As emblemáticas construtoras da cidade continuam avançando. Os guindastes estão por toda parte. Mas ninguém sabe ao certo quem ocupará todo o novo espaço destinado ao comércio e a escritórios. Os shoppings de Dubai já estão visivelmente menos cheios de lojas e restaurantes do que antes.

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Os expatriados, força vital da economia, começaram a fazer as malas e a voltar para casa -- ou pelo menos a falar no assunto devido ao aumento do custo de vida e de fazer negócios.

Os pilares corporativos, como a empresa aérea Emirates e a incorporadora Emaar Properties, acabam de divulgar lucros decepcionantes no terceiro trimestre. O mercado de ações está tendo seu pior ano desde 2008.

O desconforto comercial já era aparente em abril, quando o xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum convocou uma reunião com mais de 100 executivos em seu palácio com vista para o Golfo Pérsico.

Os líderes levantaram problemas, como as taxas elevadas do governo -- que estão corroendo a vantagem comparativa de uma Dubai livre de impostos -- e as regras rígidas para os vistos, que empurram os estrangeiros para fora quando estes perdem seus empregos. O conclave foi seguido de uma enxurrada de decisões, que ainda estão avançando pelo sistema.

Mas uma solução para o que vai mal em Dubai pode estar além dos poderes de seu governante. O xeque Mohammed e seus antecessores transformaram uma vila de pescadores em um centro de finanças, comércio e turismo na região -- mas agora essa região está mudando, talvez para sempre.

Guerra ou comércio?

A queda do petróleo desde 2014 afetou os grandes consumidores dos estados vizinhos do Golfo, que migravam para Dubai (turistas da China e da Índia estão preenchendo a lacuna, mas são mais atentos aos preços).

Os sauditas, em particular, estão sentindo o aperto porque seu próprio governo está impondo austeridade fiscal e confiscando riqueza privada.

O papel da cidade como entreposto comercial está sendo minado pela guerra tarifária global -- e, em particular, pela iniciativa dos EUA de fechar o comércio com o vizinho Irã.

Existe também um problema mais profundo. Dubai prosperou como uma espécie de Suíça do Golfo, um lugar para fazer negócios separado das rivalidades muitas vezes violentas do Oriente Médio, diz Jim Krane, autor do livro “City of Gold: Dubai and the Dream of Capitalism”, de 2009.

Agora, o estado do qual Dubai faz parte, os Emirados Árabes Unidos, tornou-se um participante ativo nesses conflitos, lutando em guerras civis da Líbia ao Iêmen e juntando-se ao boicote ao Catar liderado pelos sauditas.

“Dubai se encontra nessa situação, basicamente, não por sua própria culpa”, diz Krane. “Pode-se entrar em guerra com os vizinhos ou negociar com eles. Mas é muito difícil fazer ambas as coisas.”

’Surpresa desagradável’

As histórias de cidadãos do Catar que receberam ordens para deixar os Emirados Árabes Unidos abalaram empresas que atendem a região a partir de sedes em Dubai. Os executivos americanos mostraram especial preocupação com a perspectiva de serem forçados a escolher lados, diz Barbara Leaf, que foi embaixadora dos EUA nos Emirados Árabes Unidos até março.

“Isso lançou uma sombra”, conta. “Foi uma surpresa muito desagradável quando empresas com sede nos Emirados Árabes Unidos descobriram que já não podiam voar ou enviar mercadorias diretamente para Doha.” A disputa continua, apesar de os EUA estarem exercendo uma pressão renovada por um acordo.

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