O presidente Lula, a presidente do PT, Gleisi Hofmann, e o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em evento do PT em 2019 (Ricardo Stuckert/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 29 de outubro de 2023 às 12h04.
A presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “protegeu” o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao admitir que o governo “dificilmente” cumprirá a meta de déficit zero em 2024. Para Gleisi, “o resultado primário zero será impossível no ano que vem”. A parlamentar transferiu parte da responsabilidade ao que chamou de “criminosa taxa de juros mantida nas alturas” pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.
LEIA MAIS: Análise: Mudança ou abandono de meta fiscal pode frear queda de juros
LEIA MAIS: Declarações de Lula reforçam incertezas fiscais e pesam para queda do Ibovespa
Em café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto na sexta-feira, 27, Lula afirmou que a meta estabelecida por Haddad dificilmente ficará de pé. O presidente disse ainda que o mercado é “ganancioso” e faz cobranças irreais do governo. “Dificilmente chegaremos à meta zero até porque não queremos fazer corte de investimentos e de obras”, disse Lula.
Como a EXAME mostrou, as declarações de que a meta fiscal de 2024 "não precisa" ser um déficit zero pegaram mal entre investidores e técnicos da equipe econômica.
Auxiliares do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, classificaram as afirmações como “precipitadas” e “equivocadas”, especialmente em um momento em que a pauta de medidas para aumentar a arrecadação voltou a andar na Câmara dos Deputados.
“Temos uma agenda ambiciosa e difícil que depende do Congresso. Perseguir a meta é fundamental. A declaração do presidente abre espaço para debater a mudança da meta mesmo antes da aprovação do orçamento e fragiliza o arcabouço fiscal”, disse um técnico da equipe econômica.
O ministro da Fazenda firmou o objetivo de déficit zero como necessidade para que o Arcabouço Fiscal dê certo, mas outros integrantes do governo tentam mover a meta para baixo.
No sábado 28, Gleisi publicou no X (antigo Twitter) que a fala de Lula não desautorizou Haddad.
“O presidente Lula protegeu o ministro Fernando Haddad ao trazer para si a responsabilidade da política fiscal e reconhecer que o resultado primário zero será impossível para o ano que vem”, opinou Gleisi.
A presidente do PT elogiou o ministro da Fazenda, mas afirmou que não “depende dele” o cumprimento da meta fiscal.
Como de costume, aproveitou para criticar abertamente Campos Neto, com quem parte do governo tem divergências. “Infelizmente nem tudo depende dele [de Haddad] e da equipe econômica, como o crescimento da receita por exemplo. Entram aqui Congresso Nacional, decisões judiciais, postergações administrativas. Também entra outro grande obstáculo, que é a criminosa taxa de juros mantida nas alturas pelo BC de Campos Neto”, escreveu ela.
Gleisi descartou uma possível reação negativa do Congresso às falas de Lula como “pura especulação” e “aposta de setores da mídia”. “O presidente Lula apenas assumiu que a realidade não permitirá o resultado almejado e, como um ponto importante de credibilidade, falou que a meta terá de ser reavaliada”, disse. “Quanto mais realistas as metas, menos complicadas ficam as negociações políticas. Sem drama, menos, a vida continua com a perspectiva de todos poderem melhorar”.
Na sexta, o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, Danilo Forte (União Brasil-CE), disse que a fala de Lula foi “brochante”. “As declarações do presidente Lula sobre o abandono da meta fiscal causam constrangimento ao ministro Fernando Haddad, que tem lutado muito para o atingimento do déficit zero a partir da aprovação da agenda econômica”, afirmou em nota à imprensa.
O presidente do Progressistas, senador Ciro Nogueira (PI), declarou no sábado, 28, que a fala de Lula sobre o déficit “derrubou na prática o ministro da Fazenda e destituiu a estabilidade fiscal”. “Pensando bem, é mais barato Lula viajar…” escreveu ele no X.
A bolsa brasileira operou a maior parte do da sexta-feira, 27, em estabilidade, mas virou para a queda no início da tarde.
Isso porque o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse em encontro com jornalistas que dificilmente o déficit zero nas contas públicas será atingido em 2024 — meta que é proposta pelo Ministério da Fazenda. Na avaliação do chefe do Executivo, um rombo de 0,5% ou 0,25% não seria "nada" e ele ainda reforçou que tomará a decisão "que seja melhor para o Brasil".
A partir desta segunda-feira, 30, será possível testar parte das expectativas sobre a queda da Selic. Na quarta-feira, o Copom se reunirá para decidir um corte ou não na taxa básica de juros. O mercado de juros precifica um novo corte de 0,50pp da Selic na próxima semana, para 12,25%, e vai checar no comunicado se o Copom mantém a sinalização de reduções da mesma magnitude nas “próximas reuniões”.
LEIA MAIS: Copom e nova diretoria do BC: cinco assuntos quentes para o Brasil na próxima semana
“O BC pode reconhecer um ambiente global de maior risco devido ao conflito no Oriente Médio e à alta dos yields dos títulos americanos. Isso pode ser lido como relativamente mais hawkish, embora sem impedir novos cortes nas reuniões seguintes”, diz Adriana Dupita, da Bloomberg Economics.
Com Estadão Conteúdo