Governo reagiu às investidas do Congresso e decidiu cortar R$15,5 bilhões em benefícios que haviam sido aprovados pelos parlamentares ao setor agrícola (Sean Gallup/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de junho de 2018 às 11h47.
Brasília - O governo reagiu às investidas do Congresso, que vem aprovando medidas que aumentam os gastos públicos, e decidiu cortar R$15,5 bilhões em benefícios que haviam sido aprovados pelos parlamentares ao setor agrícola. A equipe econômica diz que falta dinheiro para bancar o programa, que previa a renegociação de dívidas de pequenos produtores rurais com descontos de até 95% no saldo devedor, diferença que seria bancada pelo Tesouro Nacional.
Uma medida provisória, com vigência imediata, foi editada para reduzir os abatimentos e restringir o alcance da repactuação dos débitos, alguns contratados há mais de uma década. O projeto original contemplaria produtores de todo o Brasil e teria custo de R$ 17,14 bilhões só em 2018. Sem dinheiro em caixa, o governo já havia determinado aos bancos públicos que não fizessem nenhuma repactuação com os produtores rurais, ou teriam de arcar com o prejuízo, com anteciparam, em maio, o jornal O Estado de S. Paulo e o Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado).
Agora, a MP restringe o alcance apenas a pequenos produtores agrícolas do Norte e Nordeste, reduzindo o custo a R$ 1,6 bilhão neste ano, condicionado à inclusão dessa despesa no Orçamento. "Não adianta a gente criar um programa que nem tem orçamento nem tem caixa para ser pago", diz o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida.
Segundo apurou a reportagem, a área econômica avalia como minimizar o impacto de outras benesses concedidas pelo Congresso, como a ampliação dos descontos no parcelamento de débitos tributários (Refis) do Funrural - imposta por uma das bancadas mais influentes e que dá sustentação ao governo - e a criação do Refis para pequenas empresas.
O governo ainda deve encaminhar um projeto de lei para regulamentar a concessão de empréstimos subsidiados pelo Tesouro aos Estados para que eles quitem os pagamentos pendentes de precatórios (valores devidos pelo governo após sentença definitiva na Justiça). A previsão desses financiamentos foi incluída pelos parlamentares na Emenda Constitucional 99, promulgada no ano passado. A equipe econômica já avisou, porém, que a regulamentação não significa acesso imediato à ajuda da União.
A renegociação das dívidas do setor rural e a ampliação de benefícios nos Refis trilharam o mesmo caminho: nasceram de mudanças feitas pelos parlamentares, foram vetadas pelo presidente Michel Temer e acabaram restabelecidas pelo Congresso, que tem poder de derrubar ou manter vetos presidenciais. O problema é que os vetos caíram sem que houvesse dinheiro previsto no Orçamento para bancar a conta.
Para bancar o bolsa caminhoneiro, a um custo de R$ 13,5 bilhões, a equipe econômica precisou remanejar gastos e comprar briga com outros setores com poder de pressão ao cortar incentivos fiscais e tributários.
Um dos negociadores da inclusão do programa de renegociação das dívidas dos produtores, o deputado federal Afonso Florence (PT-BA) criticou a decisão e disse que a bancada pode questionar a constitucionalidade da medida do governo. Mansueto reconheceu que o Congresso poderá mudar o texto da MP durante a tramitação - o que tem sido comum nas propostas encaminhadas pelo governo por meio desse instrumento. Mas alertou que, caso isso aconteça, o Congresso vai ter de definir de onde virá o dinheiro para bancar a fatura. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.