Economia

Para Barbosa, cotação do dólar deveria ficar acima de R$2,20

Segundo o ex-secretário-executivo da Fazenda, o objetivo seria impulsionar a indústria doméstica


	Nelson Barbosa: "a gente não tem mais o espaço para apreciação cambial que tinha 10 anos atrás para ajudar o controle da inflação", disse
 (José Cruz/ABr)

Nelson Barbosa: "a gente não tem mais o espaço para apreciação cambial que tinha 10 anos atrás para ajudar o controle da inflação", disse (José Cruz/ABr)

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Da Redação

Publicado em 27 de setembro de 2013 às 07h48.

Rio de Janeiro - O Brasil não pode mais contar com ganhos cambiais para controlar a inflação e o governo deveria manter a cotação do dólar acima de 2,20 reais para impulsionar a indústria doméstica, afirmou na quinta-feira o ex-secretário-executivo da Fazenda, Nelson Barbosa.

Em seu primeiro discurso público no Brasil depois de deixar o cargo em junho, Barbosa pareceu mais sincero sobre os desafios que o governo da presidente Dilma Rousseff enfrenta, num momento em que tenta melhorar o crescimento econômico ao mesmo tempo em que combate a inflação.

Ele afirmou que o real se valorizou excessivamente em termos reais nos últimos anos, tanto que "a gente não tem mais o espaço para apreciação cambial que tinha 10 anos atrás para ajudar o controle da inflação. O mecanismo de transmissão cambial hoje continua existindo mas é num volume muito menor do que no passado".

"Agora, eu acho que o câmbio ir muito abaixo de 2,20 (reais por dólar) neste momento não é muito recomendado. Como também ele ficar a 2,50 seria muito excessivo comparado com o que você viu em outros países", disse ele a jornalistas após uma conferência econômica.

O dólar, que estava em torno de 1,55 real em meados de 2011, quando o real estava fortemente valorizado, chegou a subir para 2,45 reais no final do mês passado em meio às perspectivas de menos estímulo dos Estados Unidos e à deterioração dos fundamentos econômicos do Brasil, o que afetou o apetite dos investidores por risco.

Barbosa afirmou que Dilma está tentando impulsionar a competitividade industrial através da promoção do investimento em infraestrutura e educação, mas reconheceu que tal estratégia só renderá frutos no médio a longo prazo.

No curto prazo, disse ele, o governo só tem duas opções para reduzir os crescentes custos trabalhistas do Brasil: ou eleva o desemprego e sacrifica o crescimento econômico como a Europa está fazendo; ou enfraquece o real para reduzir os salários reais em moeda estrangeira.

"O Brasil escolheu a alternativa do crescimento", disse Barbosa na conferência econômica. "Qual o problema com essa estratégia? Leva algum tempo para funcionar. Pode não ser rápido o suficiente para ajustar os custos trabalhistas no ritmo que o balanço de pagamentos precisa." Embora reconheça que um real mais fraco é necessário para sustentar a economia, Barbosa disse que o governo deveria manter seu regime de câmbio flutuante, evitando uma forte alta do dólar que alimentaria a inflação, mas também "resistindo à tentação" de fortalecer demais o real para cumprir a meta de inflação do país.

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