Bandeiras da Grécia (Yorgos Karahalis/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 4 de julho de 2015 às 12h51.
O acontecerá com a Grécia após o referendo de domingo? Como vão reagir seus parceiros e os credores? Haverá uma mudança de governo, ou o statu quo será mantido? As negociações serão retomadas ou o país sairá da zona do euro?
Veja algumas respostas para tais perguntas.
O cenário do "Sim"
Para o governo do Syriza, que defende o "Não" à proposta dos credores, uma vitória do "Sim" seria uma derrota política. Mas não está claro se o governo renunciaria.
O ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, deu como certa a renúncia, enquanto o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, tem sido mais ambíguo.
Se Tsipras cair, duas perspectivas se abririam. A primeira: a formação de um governo de unidade nacional com a manutenção do atual Parlamento. Esta possibilidade é complexa, devido às diferenças entre os partidos da oposição, que não têm maioria, e o Syriza.
Mas se um governo de coalizão não foi possível, a Grécia deverá convocar eleições antecipadas. Esta eleição não poderá acontecer antes de 30 dias.
Em caso de eleições, "Tsipras poderia voltar a vencer", acredita Henrik Enderlein, do Instituto Jacques Delors, para quem os resultados dessa consulta seriam "incertos".
"Ainda que o 'Sim' vença, a Grécia não sairá do sufoco", destaca Agnès Benassy-Quéré, da Escola de Economia de Paris.
O BCE tem garantido, até o momento, a sobrevivência do sistema financeiro grego, mantendo parte do sistema de empréstimos de emergência (ELA, por sua sigla em inglês) para as suas entidades.
Mas se Atenas der um calote no emissor europeu, será difícil manter esta linha de liquidez, especialmente se não houver um acordo com os credores.
"Esta seria uma situação de emergência. Mas o tempo da política não é o mesmo da economia", destaca Olivier Passet, da consultora especializada Xerfi.
De acordo com este especialista, as negociações para um acordo definitivo, que também deve ser ratificado por vários parlamentos europeus, poderia levar "várias semanas", uma vez que há vários feriados em muitos países.
Para Olivier Passet, "o país terá de encontrar soluções técnicas neste intervalo" para permitir o reembolso ou a reprogramação de suas dívidas. Além disso, um plano deverá ser criado para "manter viva" a economia da Grécia, onde os controles de capital serão levantados "em etapas".
O cenário do "Não"
Para muitos observadores, uma vitória do "Não" no domingo resultaria em "um salto para o desconhecido", que implicaria igualmente em uma tempestade financeira para a Grécia, cuja magnitude dependerá dos parceiros europeus.
"Se o 'Não' vencer", a situação será mais complicada", acredita Olivier Passet.
"Tsipras se verá fortalecido. Mas, a nível do Eurogrupo, a situação será extremamente difícil de administrar", acrescenta o economista.
A dúvida é se os parceiros de Atenas vão aceitar retomar as negociações. Jean-Claude Juncker parece ter descartado essa opção, equiparando o "Não" no referendo a um não para a Europa.
Alexis Tsipras tem se mostrado confiante de que um resultado deste tipo poderia exercer "forte pressão" para obter um "melhor acordo".
Em caso de ruptura total, o BCE dificilmente poderia continuar a assistir os bancos gregos. Estes últimos seriam obrigados a declarar falência.
Para tentar recapitalizá-los, o governo poderia criar uma liquidez com uma moeda paralela, um mecanismo conhecido como "IoU" (do inglês I owe you, ou 'devo-lhe'). Uma vez esta forma de reconhecimento de dívida em circulação, isso poderia ser usado no setor privado.
Mas esses títulos provisórios poderiam perder o seu valor rapidamente e o país poderia cair em uma inflação galopante.
Para Vivien Pertusot, pesquisadora do Instituto francês de Relações Internacionais (IFRI), é pouco provável que os países europeus não reajam, devido aos riscos políticos e econômicos que pesam sobre a zona do euro.
Neste caso, abriria-se outra via, em que Atenas e os seus credores obteriam um acordo.
"Em caso de sim ou de não, o acordo está à vista", disse Varoufakis na sexta-feira.
"Neste caso, os europeus terão de concordar em voltar a negociar, o que não será simples", diz Pertusot. Uma situação de incerteza que poderia perpetuar a zona de turbulenta pela qual passa a Grécia.