Economia

Tem base o “argumento do excesso de capacidade produtiva de veículos de nova energia da China”?

A noção de excesso de capacidade produtiva vai contra o senso comum econômico e a realidade do desenvolvimento industrial

Veículos elétricos: 'Atualmente, o Brasil está empenhado em promover uma “reindustrialização”, enquanto a China avança na modernização ao estilo chinês'.  (	VCG /Getty Images)

Veículos elétricos: 'Atualmente, o Brasil está empenhado em promover uma “reindustrialização”, enquanto a China avança na modernização ao estilo chinês'. ( VCG /Getty Images)

Zhu Qingqiao
Zhu Qingqiao

Embaixador da China no Brasil

Publicado em 16 de maio de 2024 às 09h42.

Última atualização em 16 de maio de 2024 às 09h48.

Recentemente, algumas vozes no cenário internacional têm propagado intensamente a ideia de que “o excesso de capacidade produtiva de veículos de nova energia da China vem causando preocupação global”. Na minha opinião, seja do ponto de vista da teoria econômica, seja da realidade do desenvolvimento econômico mundial, essa afirmação não se sustenta e é uma típica narrativa falsa, cujo objetivo é prejudicar as relações econômicas e comerciais entre a China e o mundo, perturbar a ordem do comércio internacional e conter a dinâmica da economia chinesa.

Primeiro, do ponto de vista da lógica da economia de mercado, o “argumento do excesso de capacidade produtiva” é uma falácia. Como se sabe, sob as condições da economia de mercado, o desequilíbrio entre oferta e demanda de produtos é a norma: quando a demanda excede a oferta, os preços sobem, a oferta aumenta para se equilibrar com a demanda; caso contrário, os preços caem, a oferta diminui e os preços se recuperam. O comércio internacional se baseia exatamente no fato de que um produto tem excesso de oferta em um país e excesso de demanda em outro. A Alemanha exporta 80% dos carros que produz, o Japão, 50% e os Estados Unidos, 25%. Porém, apenas 12% dos veículos de nova energia produzidos na China são exportados, o que equivale a meros 8% das vendas globais. Não é um caso típico de duplo padrão ao criticar a China pelo “excesso de capacidade produtiva”?

Segundo, do ponto de vista da realidade de enfrentar as mudanças climáticas, esse argumento também é absurdo. Atualmente, o desenvolvimento de novas energias verdes, de baixo carbono e ambientalmente amigáveis é um consenso entre os países. De acordo com estimativas da Agência Internacional de Energia, para atingir a meta global de neutralidade de carbono, é necessário ter uma frota de nova energia na ordem de 45 milhões de unidades em 2030, 4,5 vezes mais que em 2022. Isso mostra que a demanda ainda não foi totalmente liberada. É ridículo criticar os carros elétricos da China como uma fonte de preocupação global, enquanto eles contribuem para a transição verde da economia mundial.

Terceiro, do ponto de vista da política internacional, trata-se de uma manipulação cognitiva e politizada por parte dos países que criaram o argumento do excesso de capacidade produtiva. Os mais atentos podem perceber que os mesmos países também são considerados o berço da economia contemporânea. Seus funcionários, do primeiro ao último escalão, sabem muito bem que a noção de excesso de capacidade produtiva vai contra o senso comum econômico e a realidade do desenvolvimento industrial, mas ainda tentam aplicar esse rótulo à China. Isso se deve, no fundo, à falta de confiança no processo de multipolarização, com a mentalidade de “se não podemos ter sucesso, não deixaremos os outros terem”, tentando conter o crescimento de alta qualidade da China e privá-la de seus direitos legítimos de desenvolvimento. Essa intenção imoral certamente não terá sucesso.

Atualmente, o Brasil está empenhado em promover uma “reindustrialização”, enquanto a China avança na modernização ao estilo chinês. Há um grande espaço para a sinergia entre as estratégias de desenvolvimento dos dois países, e uma forte complementaridade no setor industrial. Os veículos elétricos são uma importante área de cooperação entre a China e o Brasil, e apresentam uma boa tendência de aceleração tanto no comércio como nos investimentos. A BYD investiu na produção de chassis para ônibus e de painéis solares, assim como num complexo industrial de carros elétricos no Brasil. Em abril, o BYD Dolphin Mini foi o modelo de carro elétrico mais vendido no Brasil. A Chery e a Caoa estabeleceram uma joint venture com duas unidades fabris e mais de 100 pontos de venda. Já a Great Wall planeja investir mais de R$ 10 bilhões no Brasil na próxima década para aprofundar a cooperação na cadeia da indústria automotiva com parceiros brasileiros.

É melhor jogar o “argumento do excesso de capacidade produtiva” no Oceano Atlântico! Acredito firmemente que, assim como a cooperação econômica e comercial entre a China e o Brasil, a parceria entre os dois países no setor de veículos elétricos continuará a atingir novos patamares e trazer benefícios concretos para os dois países e seus povos.

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