Com a pressão dos Estados Unidos e a oposição de alguns membros do cartel, especialmente Irã, a Opep anunciou o aumento da produção (Leonhard Foeger/Reuters)
AFP
Publicado em 22 de junho de 2018 às 14h12.
A Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) decidiu nesta sexta-feira (22) elevar a produção em cerca de 1 milhão de barris diários diante do aumento da demanda mundial e apesar da oposição de alguns membros do cartel, especialmente Irã.
"Temos consenso", afirmou o ministro saudita da Energia, Khaled Al Fali, ao sair da reunião do grupo em Viena.
"Chegamos a um acordo sobre uma cifra aproximada de aumento de um milhão de barris", acrescentou.
"Acho que contribuiremos de maneira significativa para satisfazer a demanda suplementar que prevemos para a segunda metade do ano", acrescentou.
O acordo inclui a Opep e outros dez países petroleiros, entre eles a Rússia. A cifra de 1 milhão de barris diários se soma a um aumento global dividido entre esses 24 países, mas não se sabe exatamente quanto cada um deve aumentar.
O sistema permite que apenas os países capazes de aumentar a produção façam isso, enquanto outros, como o Irã, com sanções internacionais, ou a Venezuela, com uma indústria petroleira em dificuldades, não poderiam.
Contudo, a declaração oficial da Opep não especifica a cifra de 1 milhão, e alguns analistas pedem mais concretude ao cartel para evitar a instabilidade nos mercados.
"Eles não podem se dar ao luxo de serem tão imprecisos quanto foram hoje", disse Joe McMonigle, analista da Hedgeye, à AFP.
As negociações desta semana em Viena foram marcadas pelos desacordos entre Arábia Saudita e Rússia, favorável ao aumento, e Irã, que defendia manter o nível atual.
Após o anúncio, o Brent do Mar do Norte subiu quase 3%, a cerca de 75 dólares, enquanto o WTI, referência nos Estados Unidos, foi cotado em alta, em torno de 67 dólares.
No sábado, uma segunda reunião será realizada em Viena, que, além da Opep, incluirá os outros dez parceiros petroleiros, um total de 24 nações que compõem a chamada Opep+.
Desde 2016, esse grupo, que representa cerca de 50% da produção mundial, tem um acordo que limitou sua produção e que levou o barril de petróleo a superar os 70 dólares nos últimos meses - em comparação com os menos de 30 do início de 2016.
Mas tanto a Arábia Saudita quanto a Rússia pediram uma mudança de rumo, apesar da relutância do Irã, sujeito às sanções dos Estados Unidos e, como resultado, com dificuldade de extrair mais petróleo.
Soma-se a isso a pressão dos Estados Unidos, cujo presidente, Donald Trump, voltou a criticar, nesta sexta-feira, os altos preços do petróleo, uma questão delicada poucos meses antes das eleições legislativas de novembro.
"Espero que a Opep aumente substancialmente sua produção. Precisamos manter os preços baixos!", tuitou Trump logo após o anúncio em Viena.
Os sauditas estavam particularmente preocupados com a queda na produção, não apenas no Irã, mas também na Venezuela, e temem que haja escassez de petróleo no mercado nos próximos meses.
Na mesma linha, o ministro russo do Petróleo, Alexander Novak, alertou na quinta-feira (21) que, embora o mercado esteja "equilibrado", por enquanto "é muito importante evitar o superaquecimento".
Já o Irã culpa as sanções americanas pela alta de preços.
"Foi o presidente Trump que criou as dificuldades do mercado com sanções contra dois membros fundadores da Opep", disse o ministro iraniano do Petróleo, Bijan Zanganeh, nesta terça em Viena, referindo-se a seu país e à Venezuela.
A Opep ainda anunciou nesta sexta a entrada da República do Congo. Agora, o cartel passa a ter 15 membros.