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Onde está o dinheiro

Na contramão da crise, Macaé, Rondonópolis, Caxias do Sul, Anápolis, Sertãozinho e Campina Grande geram empregos e novos negócios

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h30.

Setembro, normalmente, é o mês em que a indústria e o comércio costumam contratar funcionários para dar conta da demanda extra do fim do ano. Décimo-terceiro no bolso, Natal e Ano Novo não dão em outra coisa. Neste ano, porém, o mês vai ser lembrado em São Paulo como o pior setembro desde 1984. Em vez de contratar mais, as empresas paulistas demitiram. Essa não foi a única má notícia daquele mês. Quem conseguiu reter o emprego nas seis regiões metropolitanas sofreu uma redução, na média das capitais, de 14,6% de seus salários. Felizmente, o Brasil não se resume às grandes cidades onde a pasmaceira da economia bateu mais forte. Pode parecer exagerado, mas existem lugares no Brasil onde a palavra dificuldade associada a emprego possui um significado oposto do que você está imaginando. A escassez, nesse caso, é de pessoas treinadas para preencher todas as vagas de emprego disponíveis.

Que o digam os grandes produtores de soja e de algodão da região de Rondonópolis, no sudeste de Mato Grosso, um dos pólos de crescimento mais dinâmicos do país, como mostram as reportagens a seguir. No final do ano, são os empresários da região que saem à procura dos alunos de agronomia formados no Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) de Cuiabá. "Só não consegue colocação o aluno que não quiser", diz Ademir José Conte, diretor da escola. "Tem emprego sobrando."

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De fato, para quem tem qualificação, não há falta de trabalho, seja em Rondonópolis, estrela do agronegócio num estado cuja economia deve crescer 12% neste ano, seja em Macaé, no Rio de Janeiro, o centro de operações da indústria de petróleo do país, seja em Campina Grande, na Paraíba, cujas universidades e institutos de tecnologia se tornaram ferramenta estratégica para a indução de negócios -- novos e rentáveis.

É o caso da produtora de software Light Infocon, do pernambucano Alexandre Moura, fundada em 1983. Desenvolvidos por uma equipe de 18 engenheiros, os programas da empresa para a área de bancos de multimídia espalham-se hoje por Estados Unidos, Rússia, China, Canadá, Portugal e Austrália. Conterrâneo do rei do baião, Luiz Gonzaga, Moura mostra bem a evolução da região: com a mesma maestria com que o Gonzagão tirava suas músicas da sanfona, os nordestinos de hoje manejam sofisticadíssimos laptops.

Histórias de sucesso como a de Moura na Infocon repetem-se nas demais cidades destacadas nas páginas seguintes. Caxias do Sul, um dos pólos de economia mais diversificada do Brasil, é uma usina de empreendedores. Para cada grupo de 14 moradores, existe uma empresa. Também a goiana Anápolis quer ser muito mais do que o maior pólo farmaquímico do interior do país. O fato de estar no centro do Brasil e ser ponto de encontro de quatro rodovias federais é uma vantagem comparativa que começa a ser explorada pelos especialistas em logística. No interior de São Paulo, os vizinhos de Sertãozinho enriqueceram, e a cidade foi junto. Sem produzir cana-de-açúcar e laranja, como Ribeirão Preto, mas fabricando as máquinas que permitiram aos produtores no campo dar um passo além em seus negócios.

Como chegamos a essas cidades quentíssimas para o emprego e para os negócios? No trabalho de identificá-las, recorremos ao conhecimento e à experiência de consultores, acadêmicos, especialistas em desenvolvimento regional, empresários e funcionários do governo. Não tivemos a pretensão de eleger os pontos "mais quentes" do país para o investimento, mas sim destacar os casos que melhor refletissem este momento da economia brasileira, hoje fundamentalmente ancorada nas exportações e no agronegócio. Todos esses municípios têm em comum o fato de estarem com as contas ajustadas à Lei de Responsabilidade Fiscal -- nenhuma delas compromete mais de 54% de suas receitas com o pagamento de pessoal. Indicadores sociais, como redução de pobreza, mortalidade infantil e expectativa de vida, estão acima da média brasileira na maior parte deles. Com relação ao potencial de consumo, todos os municípios, com exceção de Campina Grande, têm índice igual ou superior à média nacional, de 1 773 dólares.

Ao longo de nossas consultas, descobrimos outros lugares com a economia em franca ebulição. Poderíamos ter falado, por exemplo, das modernas fazendas de Petrolina, na divisa de Pernambuco com a Bahia, um lugar onde 50 hectares irrigados de uva sem sementes geram a mesma quantidade de dólares obtida com 10 000 hectares de soja. Ou de Uruçuí, no sul do Piauí, uma nova fronteira agrícola desbravada com plantações de soja tocadas por agricultores sulistas. O grão, por sinal, já começa a mudar a economia de lugares como Macapá e Boa Vista, em Roraima. A propósito: um estudo do Ministério do Trabalho revelou que, no período de 12 meses encerrados em maio passado, 67% dos novos postos de trabalho criados concentraram-se no interior do país. "Antigamente, visitar esse lado do Brasil significava ter de comer e dormir mal", diz Marcelo Prado, da consultoria MPrado, de Uberlândia. "Hoje, você anda por esses lugares e sente o cheiro de prosperidade."

PARA COMPARAR
Média nacional de alguns indicadores utilizados nesta reportagem em
2000
IDH: 0,757
Expectativa de vida: 68,6 anos
Mortalidade infantil (óbitos por 1 000 nascimentos): 33,8
Potencial de consumo per capita*: 1 773 dólares
*Em 2002

Fontes: IBGE/PNUD/Simonsen Associados

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