Olimpíada pode ter feito Rio resistir à crise, diz estudo
Os indicadores da cidade do Rio de Janeiro melhoraram mais do que no resto do estado ou do Brasil e resistiram à crise, diz estudo da FGV Social
João Pedro Caleiro
Publicado em 27 de julho de 2016 às 18h39.
São Paulo - Os indicadores econômicos e sociais evoluíram melhor na cidade do Rio de Janeiro do que no resto do estado ou do Brasil nos últimos anos.
Esse é o resultado de um estudo do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social) coordenada pelo seu diretor, o economista Marcelo Neri, e divulgado essa semana.
"O Brasil como um todo despencou recentemente. A periferia do Rio vinha crescendo e em 2013 bateu num teto, mas não caiu. Enquanto isso o Rio ficou meio à margem desse processo e continuou crescendo e com força na base", diz Neri.
Ele também foi presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) entre 2012 e 2014 e ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos entre 2013 e 2015.
Das 27 capitais e 9 periferias pesquisadas, foi no Rio que a renda individual do trabalho mais cresceu desde 2013. Entre 2008 e 2016, a renda per capita cresceu 30% na cidade contra 18% nos outros municípios da grande Rio.
A desigualdade nunca esteve tão baixa na cidade na série histórica e não piorou mesmo com a crise, na contramão do que tem acontecido no resto do estado e do país.
A divisão por perfil de carioca considerando classe, cor, idade e outros atributos, por exemplo, pode ser calculada no site e mostra que o ganho nas condições de vida foi generalizado na comparação entre o pré e o pós-anúncio.
O Estado do Rio de Janeiro decretou calamidade pública por causa de uma crise fiscal e muitos municípios sentem duramente os efeitos da queda do preço do petróleo e da crise da Petrobrás. Enquanto isso, a cidade parece ter adquirido uma dinâmica própria:
"São várias evidências de que talvez as Olimpíadas possam ter mantido as rodas da economia carioca e o dinheiro no bolso girando", diz ele.
Indicadores sociais
Com base em dados do IBGE, a pesquisa também comparou a evolução nos períodos pré e pós anúncio da Olimpíada em 38 indicadores de 7 áreas: habitação, educação, trabalho, transporte, inclusão digital, serviços públicos e desenvolvimento social.
A cidade do Rio evoluía pior do que os demais municípios do estado em todos os indicadores comparáveis entre 1970 e 2012. No período pós anúncio das Olimpíadas, a cidade melhorou mais que a média na maioria dos números.
Entre 2008 e 2016, por exemplo, a pobreza (considerando renda de R$ 206/mês) caiu de 5,71% para 2% da população da cidade e os anos de estudo foram de 7,91 para 8,67 anos.
Foram apenas 2 retrocessos verificados: o tempo médio de viagem entre a casa e o trabalho aumentou de 41,4 para 46,8 minutos e as horas perdidas no transporte, comparadas com o salário médio, foram de R$ 17 para R$ 42 por semana.
Ambos os índices são de mobilidade urbana, um dos mais incensados como legado dos Jogos, mas os dados são de antes da abertura dos corredores BRT (uma nova linha de metrô também deve ser inaugurada).
Os índices no agregado também não capturam o efeito pontual de fenômenos relacionados aos Jogos como as remoções forçadas, segregação urbanística, brutalidade policial e corrupção.
Investimento e futuro
Neri destaca que apesar do Rio ter a maior taxa de investimento entre os municípios, os Jogos não devem deixar uma "bomba fiscal" e que maior parte do dinheiro aplicado é privado, ao contrário do que ocorreu na Londres-2012, por exemplo.
"Todos aqueles prédios da Vila Olímpica são privados. Do ponto de vista da Prefeitura que convenceu eles a construir lá, foi um bom negócio, mas acho que vai ser difícil vender eles agora - talvez por isso que não tenham terminado direito a obra (risos)", diz Neri.
Ele sugere que a cidade ache formas de atrair talentos - tanto de gente de fora como de cariocas que deixaram o Rio - e aumente a oferta em escolas em tempo integral e creches, medidas que favorecem aumento da participação na força de trabalho.
Isso porque a cidade não poderá contar com a sorte no futuro, já que o bônus demográfico passou e sua população está envelhecendo rapidamente.
"O Rio de Janeiro deveria ser visto como um laboratório do que o Brasil vai ser mais pra frente", diz ele. Veja a apresentação da pesquisa:
https://youtube.com/watch?v=jQMqRG2INcw
São Paulo - Os indicadores econômicos e sociais evoluíram melhor na cidade do Rio de Janeiro do que no resto do estado ou do Brasil nos últimos anos.
Esse é o resultado de um estudo do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social) coordenada pelo seu diretor, o economista Marcelo Neri, e divulgado essa semana.
"O Brasil como um todo despencou recentemente. A periferia do Rio vinha crescendo e em 2013 bateu num teto, mas não caiu. Enquanto isso o Rio ficou meio à margem desse processo e continuou crescendo e com força na base", diz Neri.
Ele também foi presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) entre 2012 e 2014 e ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos entre 2013 e 2015.
Das 27 capitais e 9 periferias pesquisadas, foi no Rio que a renda individual do trabalho mais cresceu desde 2013. Entre 2008 e 2016, a renda per capita cresceu 30% na cidade contra 18% nos outros municípios da grande Rio.
A desigualdade nunca esteve tão baixa na cidade na série histórica e não piorou mesmo com a crise, na contramão do que tem acontecido no resto do estado e do país.
A divisão por perfil de carioca considerando classe, cor, idade e outros atributos, por exemplo, pode ser calculada no site e mostra que o ganho nas condições de vida foi generalizado na comparação entre o pré e o pós-anúncio.
O Estado do Rio de Janeiro decretou calamidade pública por causa de uma crise fiscal e muitos municípios sentem duramente os efeitos da queda do preço do petróleo e da crise da Petrobrás. Enquanto isso, a cidade parece ter adquirido uma dinâmica própria:
"São várias evidências de que talvez as Olimpíadas possam ter mantido as rodas da economia carioca e o dinheiro no bolso girando", diz ele.
Indicadores sociais
Com base em dados do IBGE, a pesquisa também comparou a evolução nos períodos pré e pós anúncio da Olimpíada em 38 indicadores de 7 áreas: habitação, educação, trabalho, transporte, inclusão digital, serviços públicos e desenvolvimento social.
A cidade do Rio evoluía pior do que os demais municípios do estado em todos os indicadores comparáveis entre 1970 e 2012. No período pós anúncio das Olimpíadas, a cidade melhorou mais que a média na maioria dos números.
Entre 2008 e 2016, por exemplo, a pobreza (considerando renda de R$ 206/mês) caiu de 5,71% para 2% da população da cidade e os anos de estudo foram de 7,91 para 8,67 anos.
Foram apenas 2 retrocessos verificados: o tempo médio de viagem entre a casa e o trabalho aumentou de 41,4 para 46,8 minutos e as horas perdidas no transporte, comparadas com o salário médio, foram de R$ 17 para R$ 42 por semana.
Ambos os índices são de mobilidade urbana, um dos mais incensados como legado dos Jogos, mas os dados são de antes da abertura dos corredores BRT (uma nova linha de metrô também deve ser inaugurada).
Os índices no agregado também não capturam o efeito pontual de fenômenos relacionados aos Jogos como as remoções forçadas, segregação urbanística, brutalidade policial e corrupção.
Investimento e futuro
Neri destaca que apesar do Rio ter a maior taxa de investimento entre os municípios, os Jogos não devem deixar uma "bomba fiscal" e que maior parte do dinheiro aplicado é privado, ao contrário do que ocorreu na Londres-2012, por exemplo.
"Todos aqueles prédios da Vila Olímpica são privados. Do ponto de vista da Prefeitura que convenceu eles a construir lá, foi um bom negócio, mas acho que vai ser difícil vender eles agora - talvez por isso que não tenham terminado direito a obra (risos)", diz Neri.
Ele sugere que a cidade ache formas de atrair talentos - tanto de gente de fora como de cariocas que deixaram o Rio - e aumente a oferta em escolas em tempo integral e creches, medidas que favorecem aumento da participação na força de trabalho.
Isso porque a cidade não poderá contar com a sorte no futuro, já que o bônus demográfico passou e sua população está envelhecendo rapidamente.
"O Rio de Janeiro deveria ser visto como um laboratório do que o Brasil vai ser mais pra frente", diz ele. Veja a apresentação da pesquisa: