Economia

O que faz uma pintura valer mais de 100 milhões de dólares?

O mercado de arte é irracional e arbitrário? Para dois economistas da Universidade de Chicago, não - ele faz um bom trabalho em premiar a inovação


	O quadro "Number 19, 1948" de Jackson Pollock, um dos artistas mais importantes do século passado
 (AFP / Emmanuel Dunand)

O quadro "Number 19, 1948" de Jackson Pollock, um dos artistas mais importantes do século passado (AFP / Emmanuel Dunand)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 2 de setembro de 2015 às 17h34.

São Paulo - Quem acompanha os números do mercado de arte pode sentir às vezes que as coisas fugiram do controle.

Desde 2010, 8 obras de arte moderna foram vendidas em leilões por mais de US$ 100 milhões.

Em maio, uma obra de Pablo Picasso foi vendida por US$ 179 milhões, batendo o recorde anterior de um tríptico de Francis Bacon adquirido por US$ 142 milhões em 2013.

É preciso levar em conta que vários ativos estão valorizando por causa da avalanche de recursos criada pela expansão monetária dos países ricos no pós-crise.

Mas isso não responde a questão: o mercado de arte está funcionando de forma irracional e arbitrária na sua escolha do que e de quem valorizar?

Foi este o objeto de um estudo publicado recentemente por David Galeason e Simone Lenzu, economistas da Universidade de Chicago.

Eles olharam para dois dos artistas mais importantes nascidos no século XX: os pintores americanos Jackson Pollock (1912-56) e Andy Warhol (1928-87).

Antes de 2000, o maior preço dado por um Pollock havia sido US$ 22,1 milhões. Esse valor já dobrou para US$ 59,3 milhões.

O recorde de US$ 7,9 milhões para um Warhol obtido pré-2000 foi multiplicado 13 vezes para US$ 107,2 milhões.

Leilões, livros e exposições

Controlando por tamanho e formato das pinturas, assim como o momento da venda, o estudo definiu o auge da carreira dos dois artistas em termos do preço obtido em leilões.

"Os três Pollocks que excederam US$ 25 milhões cada foram feitos nas idades de 36, 37 e 39 anos, e 16 dos 22 Warhols que passaram dos US$ 25 milhões foram feitos aos 34 ou 35 anos".

Depois, os autores buscaram entender o que experts consideram significativo olhando para dois critérios: obras incluídas em guias de arte publicados na Inglaterra desde 1990 e obras incluídas nas retrospectivas mais recentes destes artistas em museus.

Resultado: um forte padrão. Tanto mercado quanto livros quanto exposições concordam em relação ao pico na carreira destes artistas.

"Os leilões colocam o pico de Pollock entre 36 e 38 anos. Os guias de arte dizem 38 anos. Suas retrospectivas mais recentes definem como 36 anos. As pinturas mais caras de Warhol foram feitas entre 34 e 35 anos. Os guias colocam seu pico aos 34, e sua retrospectiva mais recente faz o mesmo."

Inovação

O que os autores do estudo estão dizendo é que no curto prazo, um artista pode ficar na moda graças à atenção de críticos de arte, negociadores e colecionadores.

Mas no longo prazo, o que acaba contando é influência que ele conseguiu exercer sobre outros artistas através de inovação - palavra chave para onde quer que se olhe na economia.

No caso de Pollock, a inovação inclui a técnica do gotejamento, na qual o pincel não toca as telas, em obras monumentais sem um ponto central de atenção. No caso de Warhol, uma das novidades foi o uso da serigrafia com símbolos da cultura pop em padrões repetitivos. 

"Os mercados de arte permitem a colecionadores investir na genialidade e os resultados são sistemáticos, já que os trabalhos mais inovadores e os artistas mais inovadores são aqueles que conseguem os melhores preços", concluem os autores.

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