Economia

O que falta para o Brasil dar um salto em infraestrutura?

Brasil não investe o suficiente nem para conservar o que já tem e Estado quebrou, mas há saídas, segundo os participantes do Café EXAME Infraestrutura

Roberto Caetano, editor de EXAME, Diogo Mac Cord, do Infra2038, Claudio Frischtak, da Inter B, e Wagner Cardoso, da CNI, no Café EXAME Infraestrutura (Flavio Moreti/Exame)

Roberto Caetano, editor de EXAME, Diogo Mac Cord, do Infra2038, Claudio Frischtak, da Inter B, e Wagner Cardoso, da CNI, no Café EXAME Infraestrutura (Flavio Moreti/Exame)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 7 de agosto de 2018 às 12h36.

Última atualização em 17 de dezembro de 2018 às 18h31.

São Paulo – O Brasil investe pouco, investe mal e está ficando para trás em infraestrutura. O problema tem solução?

Esse foi o tema do debate na manhã desta terça-feira (07) no Café EXAME Infraestrutura, realizado no Palácio Tangará em São Paulo.

Os números são desanimadores: o país investiu na área em 2017 apenas 1,4% do PIB, ou R$ 87 bilhões – menos do que o necessário para cobrir a depreciação dos (já insuficientes) ativos já em operação.

“Por mais que muita coisa tenha melhorado, infelizmente o ritmo de infraestrutura no país é mais lento do que as nossas necessidades”, disse Cristiano Moreira, presidente do grupo controlador da Refit.

E as necessidades seguem aumentando. Números da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que o tráfego aéreo de passageiros nos aeroportos brasileiros, por exemplo, cresceu 7% por ano em média entre 2007 e 2017, enquanto o tráfego nas rodovias pedagiadas subiu 10% por ano no mesmo período.

“Nós temos um déficit profundo e ao mesmo tempo uma demanda forte. Em alguns campos de infraestrutura, o crescimento é chinês”, disse Wagner Cardoso, gerente de infraestrutura da CNI.

O infra2038, um projeto de melhora da infraestrutura brasileira, calcula que seriam necessários quase R$ 9 trilhões nos próximos 20 anos para o país dobrar seu estoque em infraestrutura de 36% para 72% do PIB.

Isso seria suficiente para o Brasil ficar entre os 20 melhores países do mundo no pilar de infraestrutura do ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial, um salto de 52 posições. Mas o governo tem esse dinheiro? Com a crise fiscal, a resposta é não.

“Mesmo elegendo candidato reformista, as contas públicas estão tão desestruturadas que vai demorar alguns anos para o Estado recuperar sua capacidade de investimento”, disse o economista Claudio Frischtak, presidente da consultoria Inter B.

De acordo com os pesquisadores, o jeito é atrair o capital privado e o interesse existe. O desafio é garantir estabilidade das regras, criando e mantendo planos de longo prazo e evitando, por exemplo, o loteamento das agências reguladoras.

Outro desafio é criar uma cultura de maior segurança jurídica, central para projetos de grande porte e que atravessam décadas, como é comum na infraestrutura.

“O setor privado está sempre disposto a entrar no que for um bom negócio”, diz Diogo Mac Cord, coordenador do infra2038.

Ao setor público, caberia fazer a estratégia, mobilizar parcerias e reformar sua governança; Cláudio citou como exemplos o conselho para infraestrutura do Reino Unido e as reformas feitas pela Índia nos anos 80, que aumentaram exponencialmente o potencial de crescimento do país..

Elisabete França, arquiteta e ex-secretária de habitação da cidade de São Paulo, chamou a atenção para não se confundir o Estado atualmente loteado pelos políticos, que é um problema, com os quadros qualificados da administração pública, que têm grande potencial.

E na hora de priorizar, é preciso pensar não apenas em tirar o atraso, mas ser criativo para projetar quais serão as necessidades do futuro.

Um exemplo é a mobilidade urbana, que já se tornou um gargalo até para cidades médias mas que não poderá ser resolvido via grandes projetos viários com prioridade para automóveis, como foi no século XX.

“A evolução tecnológica vai favorecer um novo modelo de moradia que aliviará o transporte”, aposta Thomaz Assunção, presidente da consultoria Urban Systems. Ele cita fenômenos como teletrabalho (o home office) e uma maior descentralização de serviços para os bairros.

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