O que a guerra comercial pode fazer com o crescimento global
Disputa com a China voltou a esquentar na quarta-feira (11) e cenário pode piorar se ameaças à Europa se concretizarem, diz relatório do Bradesco
João Pedro Caleiro
Publicado em 12 de julho de 2018 às 06h00.
Última atualização em 12 de julho de 2018 às 06h00.
São Paulo - A economia global pode sofrer de forma significativa caso os Estados Unidos sigam insistindo em medidas de restrição comercial.
O alerta aparece em um relatório do Bradesco assinado pela economista Fabiana D'Atri e divulgado nesta quarta-feira (11).
A estimativa do banco é que um cenário de guerra comercial plena contra a China e, especialmente, sobre a Europa tiraria entre 0,3 e 0,4 ponto percentual do crescimento global em 2018 e 2019.
A previsão atual do Fundo Monetário Internacional é que o crescimento global fique em 3,9% neste e no próximo ano.
China
A principal briga até agora tem sido com a China. Na última sexta-feira (6), entraram em vigor as novas tarifas americanas de 25% sobre US$ 34 bilhões em produtos chineses, e em breve o valor atingido chegará a US$ 50 bilhões. A China respondeu com retaliações na mesma escala.
Nesta quarta-feira (11), os EUA anunciaram um segundo pacote com tarifas de 10% sobre US$ 200 bilhões de importações da China, que já prometeu contra-atacar. A tensão fez o preço do petróleo despencar quase 7%.
O relatório do Bradesco nota dois pontos importantes da estratégia dos EUA até agora. Uma é excluir das tarifas extras alguns bens finais como celulares, já que poderiam levar a preços mais altos ao consumidor americano.
A outra é "inviabilizar a estratégia China 2025, do governo chinês, que tem como foco o upgrade da indústria local, com a priorização de segmentos de alta tecnologia".
A estimativa do banco é que se a guerra comercial tomar outras proporções, a China pode perder entre 0,1 e 0,5 ponto percentual do seu crescimento, estimado pelo FMI em 6,6% neste ano.
Com superávit comercial de US$ 389 bilhões nos últimos 12 meses, a China é mais dependente dos EUA do que o contrário. No entanto, há quem avalie que o sistema político torna a China mais resiliente diante de possíveis efeitos adversos.
Europa e Brasil
O perigo global se ampliaria caso Donald Trump siga com a ameaça, feita no último dia 22 de junho, de impor tarifas aduaneiras de 20% aos veículos importados pelos EUA da União Europeia.
Foi uma resposta a algumas tarifas adicionais aplicadas recentemente pelos europeus - que, por sua vez, já eram uma resposta às novas tarifas americanas de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio.
O bloco europeu é bastante aberto e dependente do comércio internacional, apesar de no caso dos veículos seus países terem hoje tarifas de importação maiores (10%) do que do lado americano (2,5%).
De qualquer forma, o efeito dessas disputas vai além das perdas diretas com o comércio:
"Acreditamos que há uma perda de dinamismo global, fluxos de capitais menos intensos, com correção de preços dos ativos e uma possível “guerra cambial”. Efeito sobre confiança e decisões de investimentos também tende a ser negativo", diz o texto do Bradesco.
Para o Brasil, há potenciais repercussões positivas. O prêmio da soja brasileira subiu e o país poderá aproveitar para ampliar suas vendas para a China, tomando espaço hoje ocupado pelos EUA.
Mas o efeito geral é negativo, já que também sofremos os efeitos do crescimento global menor e principalmente da aversão ao risco, que se reflete diretamente nos preços de ativos brasileiros.
Nesta quarta-feira, o Ibovespa fechou em queda de 0,49% e o dólar subiu 2%, voltando a se aproximar de R$ 3,90.