Economia

O paraíso do tênis suspeito

De cada dez tênis falsos vendidos por camelôs no centro de São Paulo, quatro vêm da cidade de Nova Serrana, no interior de Minas Gerais, segundo estimativa da Associação Brasileira de Combate à Falsificação. O restante vem da China e da Coréia do Sul. Com pouco mais de 40 000 habitantes, Nova Serrana, a 112 […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h34.

De cada dez tênis falsos vendidos por camelôs no centro de São Paulo, quatro vêm da cidade de Nova Serrana, no interior de Minas Gerais, segundo estimativa da Associação Brasileira de Combate à Falsificação. O restante vem da China e da Coréia do Sul. Com pouco mais de 40 000 habitantes, Nova Serrana, a 112 quilômetros a oeste de Belo Horizonte, é o terceiro maior pólo calçadista do país -- atrás do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul, e de Franca, em São Paulo. As primeiras fábricas de calçados em Nova Serrana surgiram na década de 50. Hoje, são 854 micro, pequenas e médias empresas de calçados que funcionam regularmente. Com as informais, estima-se que o número passe de 1 000. Elas geram 14 800 empregos diretos e produzem 180 000 pares de tênis por dia, além de 100 000 pares de sapatos, chinelos e sandálias. No total, são mais de 70 milhões de pares de calçados por ano, uma produção estimada em mais de 700 milhões de reais.

O Sindicato da Indústria de Calçados de Nova Serrana (Sindinova) tenta acabar com o estigma de paraíso dos tênis piratas. "Cada vez que fazem uma apreensão em São Paulo, no Rio ou em outra cidade, dizem que o produto é de Nova Serrana", afirma Júnior César Silva, presidente do Sindinova. "Outras cidades também produzem tênis falsificados, mas nós pagamos o pato. Só 1% da produção é pirata." Na última década, o Sindinova criou o Centro de Desenvolvimento Empresarial (CDE), que fornece moldes desenhados por computador, treina operários e dá cursos de gestão. A qualidade melhorou muito. Um reflexo disso é o aumento das exportações locais, que atingiram 6 milhões de dólares em 2001, 50% a mais que no ano anterior.

Advogados e representantes de marcas famosas visitam freqüentemente Nova Serrana em busca de provas contra os piratas. Quando conseguem indícios, chamam a Delegacia Especializada em Falsificações de Belo Horizonte. Só o delegado Horivelton Cabral Ribeiro esteve oito vezes na cidade nos últimos três anos. Em cada ocasião, abriu inquéritos contra cinco a seis microempresas. Em geral, elas têm documentação para funcionar como fabricante de calçados. Produzem marcas inexpressivas e aproveitam a estrutura para piratear marcas conhecidas. "Não acreditava que uma grande marca fosse processar uma microempresa do interior de Minas", diz Rodrigo Silva, de 23 anos, dono da Calçados Douglas, uma das seis empresas acusadas de piratear o tênis Mizuno num inquérito realizado no ano passado. "Minha fábrica está fechada e perdi tudo. Vi que não compensa piratear e agora tento recomeçar." Sua fábrica produzia menos de 100 pares por dia. Além de ter sido condenado a pagar uma indenização, cujo valor ainda não foi arbitrado, o microempresário teve todo o estoque de matérias-primas apreendido pela polícia. As apreensões inibem, mas haveria outro motivo para desencorajar a pirataria: o preço pago pela máfia chinesa, em torno de 15 reais o par de tênis. "Já foi o dobro", diz César Silva, do Sindinova.

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