Economia

Novela econômica brasileira: Inflação, Selic e o enredo de 2024

OPINIÃO | A economia brasileira em 2024 enfrenta uma série de desafios interconectados, desde a alta inflação até o desequilíbrio fiscal e a necessidade de criação de empregos

Samuel Barros
Samuel Barros

Colunista

Publicado em 22 de outubro de 2024 às 06h03.

A economia brasileira enfrenta uma série de desafios e oportunidades em 2024, com diversos indicadores econômicos apontando para cenários complexos e interconectados. Para explorar a situação atual da economia do Brasil, é obrigatório abordar temas como inflação, taxa Selic, juros futuros, situação fiscal, desemprego e a situação do câmbio sem muitos dedos ou pudores na avaliação. Os roteiristas contratados para escrever a novela econômica brasileira de 2024 estão de parabéns.

A inflação tem sido uma preocupação constante para a economia no Brasil, o que é normal. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de inflação anualizada do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 4,42% em setembro de 2024.

Esse número reflete a pressão contínua sobre os preços, impulsionada por fatores como a volatilidade cambial, os preços dos combustíveis e os gargalos na cadeia de suprimentos. Agregasse a esse cenário os desafios climáticos impostos agora no segundo semestre de 2024, que ainda irá cobrar o seu preço para economia. Desta forma, controlar a inflação é fundamental para garantir a estabilidade econômica, e não é algo trivial em um país como o Brasil.

Outro aspecto crucial da economia brasileira é a taxa Selic, que é a taxa de juros de referência no país. Em sua última reunião em setembro de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil decidiu manter a expectativa de fechamento de 2024 a Selic estável em 11,75%, mesmo hoje ela estando em 10,75%. Isso significa que o Copom aponta um aumento de 1% na Selic até o final do ano. Essa decisão visa equilibrar a necessidade de controlar a inflação controlando os impactos no crescimento econômico. Mas é importante lembrar que a taxa Selic tem um impacto direto nos custos de financiamento para o governo, as empresas e os consumidores, influenciando desde o crédito pessoal até os investimentos empresariais.

Os juros futuros são outro indicador importante, pois refletem as expectativas do mercado sobre a trajetória da taxa Selic nos próximos meses e anos. Atualmente, os contratos de juros futuros apontam para uma expectativa de queda gradual da Selic, situando-se em 10,50% para o próximo ano, mesmo o Copom acreditando em 11%. Essa perspectiva mais otimista reflete a confiança dos investidores em uma política monetária mais branda, que possa estimular o crescimento econômico sem comprometer a estabilidade de preços. Contudo, a ausência de uma condução clara em relação a política fiscal do governo e o cenário mundial, principalmente o dos EUA, já estão fazendo diversos agentes de mercado a apontarem para juros futuros mais próximos dos 11% que dos 10,50%.

Puxando do efeito nos juros futuros, o desequilíbrio fiscal continua sendo um dos maiores desafios para o governo atual na economia brasileira. Agora em outubro, diversos analistas de mercado ouvidos mensalmente pela Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda projetam que o governo entregará um resultado primário com déficit de R$ 63,8 bilhões em 2024.

Esse déficit é resultado de um aumento dos gastos públicos, particularmente em programas sociais e investimentos em infraestrutura, sem um correspondente aumento nas receitas. A sustentabilidade fiscal é essencial para garantir a confiança dos investidores e a capacidade do governo de financiar suas políticas públicas. Outro efeito direito do desequilíbrio fiscal é na dívida bruta que, segundo a secretaria do Tesouro Nacional, deve fechar o ano em cerca de 77,5% do PIB.

Desemprego melhor

Por outro lado, o desemprego tem mostrado sinais de melhora. A taxa de desemprego estava em 6,6% no trimestre de junho a agosto de 2024, de acordo com o ministério do trabalho. Esse número representa uma melhora em relação aos picos observados durante a pandemia de COVID-19.

A criação de empregos formais é crucial para sustentar o crescimento econômico e aumentar a renda das famílias, impulsionando o consumo interno, e ainda há uma forte percepção, que é equivocada, que parte da queda venha do desalento, ou seja, pessoas que desistiram de procurar emprego e passam a viver dos programas sociais dos governos municipais, estaduais e federal, o que não é o caso segundo os dados do IBGE e do Ministério do Trabalho.

A interdependência entre esses indicadores econômicos cria um cenário complexo para a economia brasileira. O aumento da dívida pública, por exemplo, pode levar a um aumento dos juros, dificultando o financiamento do governo, empresas e consumidores. Da mesma forma, uma inflação elevada pode corroer o poder de compra da população e aumentar a pressão sobre a taxa Selic.

Tal como uma telenovela, o desafio para a economia brasileira está repleto de intrincados relacionamentos, deixando para os formuladores de políticas econômicas um ambiente ainda mais complexo, na eterna busca de encontrar um equilíbrio entre essas diversas forças, promovendo a estabilidade econômica e o crescimento sustentável.

A economia brasileira em 2024 enfrenta uma série de desafios interconectados, desde a alta inflação até o desequilíbrio fiscal e a necessidade de criação de empregos. O controle da inflação e a gestão responsável da dívida pública são essenciais para garantir a confiança dos investidores e a estabilidade econômica. A taxa Selic e os juros futuros desempenham um papel crucial na definição das condições de crédito e investimento no país. A melhoria na taxa de desemprego e a valorização do real são sinais positivos, mas requerem uma gestão cuidadosa para sustentar o crescimento econômico a longo prazo.

O cenário econômico atual exige uma abordagem integrada e equilibrada para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades, garantindo um futuro próspero e estável para o Brasil.

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