Economia

Sociedade do custo zero trará fim do capitalismo, diz livro

Americano Jeremy Rifkin argumenta que "internet das coisas", energias renováveis e custo marginal zero vão nos levar para novo sistema colaborativo


	Mão segurando globo terrestre: livro argumenta que viveremos em mundo colaborativo
 (Stock Exchange)

Mão segurando globo terrestre: livro argumenta que viveremos em mundo colaborativo (Stock Exchange)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 29 de março de 2014 às 07h00.

São Paulo - Na segunda metade do século XXI, a economia mundial será híbrida e um sistema colaborativo estará convivendo com um capitalismo cada vez menos importante.

A previsão provocativa é do americano Jeremy Rifkin, que acaba de publicar seu novo livro "The Zero Marginal Cost Society" ("A Sociedade do Custo Marginal Zero", em tradução livre).

Depois de uma série de bestsellers sobre os impactos da tecnologia na economia, ele foi além e vislumbrou um futuro no qual a lógica colaborativa da internet tomou conta de quase todo o sistema.

Em outras palavras: depois de séculos nos quais o capitalismo conseguiu levar várias dimensões da vida humana para a esfera econômica, o processo começou a se reverter.

Tese

Para Rifkin, isso é fruto do próprio dinamismo do sistema. A busca incessante por produtividade teve tanto sucesso que levará a um ponto no qual o custo marginal - ou seja, o custo de produzir uma unidade adicional de algum determinado produto ou serviço - beira zero.

Isso apareceu primeiro em indústrias como a do entretenimento e comunicação, completamente modificadas pela internet, mas já começa a ficar claro em outros campos. 

Na educação, cursos online permitem que um professor ensine milhões de alunos de uma vez. Na manufatura, impressoras 3D criam uma geração de "prosumidores" - produtores e consumidores ao mesmo tempo. 

O resultado: "lucros corporativos estão começando a secar, os direitos de propriedade estão se enfraquecendo e uma economia baseada na escassez está dando espaço a uma economia da abundância", escreve Rifkin.


Tecnologia, energia e trabalho

Do lado da tecnologia, isso é possível graças à "internet das coisas". Em um futuro próximo, bilhões de sensores conectando tudo e todos estarão alimentado uma infraestrutura inteligente de informações compartilhadas e eficiência total.

Estes avanços de produtividade vão afetar metade da economia global até 2025, de acordo com um estudo da General Electric citado por Rifkin.

Ele defende que a outra face deste novo sistema estará no crescimento exponencial das energias renováveis, que serão responsáveis por 80% da geração total até 2040 de forma altamente descentralizada.

O custo inicial de uma placa solar pode ser alto, por exemplo, mas ninguém controla a sua fonte: o sol. Eventualmente, isso também derrubaria os custos marginais da energia para zero.

O mundo do trabalho é outro que será afetado. Em 1995, Rifkin publicou um livro com o auto-explicativo título de "O Fim dos Empregos", com a tese de que a tecnologia também transformará a maior parte dos próprios trabalhadores em algo obsoleto.

Futuro

A face mais óbvia do futuro descrito por Rifkin são hoje os sites de compartilhamento de carros e casas, como o Airbnb. Nesses novos tipos de transações, o acesso é mais importante que a posse e o capital social vale mais que o capital financeiro.

Para ele, nada disso é lamentável, e nosso medo e incapacidade de conceber o que vem por aí é equivalente ao que os nossos antepassados sentiram na transição entre o sistema feudal e o mercantilista, por exemplo. 

As ideias de Rifkin são no mínimo polêmicas - afinal, o capitalismo mostrou até hoje uma habilidade formidável para se adaptar às mudanças de cenário. Permanecem questões óbvias: que tipo de sociedade civil será capaz de gerenciar essa nova estrutura? 

No entanto, uma coisa é clara: as mudanças econômicas causadas pela tecnologia estão apenas começando.

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