Economia

Shiller e Roubini sentem bolha (e medo) no ar

De acordo com dois dos economistas mais respeitados do mundo, o mercado de ações e títulos está caro demais para padrões históricos, e pode vir correção por aí

Robert Shiller e Nouriel Roubini (Bloomberg)

Robert Shiller e Nouriel Roubini (Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 1 de junho de 2015 às 19h27.

São Paulo - No começo de 2000, o professor de Yale e futuro prêmio Nobel Robert Shiller lançou a primeira edição do seu livro "Exuberância Irracional" com timing perfeito.

A bolha da internet estava estourando e a análise da euforia dos mercados acertou em cheio, o que Shiller faria novamente antes da crise imobiliária de 2008.

Quando ele fala de bolha, as pessoas ouvem. E neste fim de semana, em entrevista para Allison Nathan, do Goldman Sachs, ele deu sua visão do cenário atual:

"Defino bolha como uma epidemia social que envolve expectativas extravagantes para o futuro. Hoje, há certamente um fenômeno social e psicológico de pessoas observando aumentos de preço passados e pensando que eles podem continuar. Existe um elemento de bolha. Mas não sei se é uma bolha clássica porque não estou certo que as pessoas estejam tendo expectativas extravagantes".

O que Shiller está dizendo é que talvez o mercado de ações esteja de fato caro demais - mas não porque as pessoas estão muito esperançosas, e sim porque estão com medo de todo o resto:

"O ambiente atual pode ser fruto mais de medo do que do senso de uma nova era. Detecto um toque de ansiedade e insegurança nos mercados, o que é um fator bem diferente de outros booms, historicamente."

Shiller tem até um índice próprio com seu nome, que analisa a relação entre preço e lucro das ações do S&P 500. A taxa já está muito acima da média, e historicamente foi superada apenas em dois momentos: não por coincidência, logo antes das crises de 1929 e 2000.

Outros índices que monitoram o mercado contam a mesma história. O economista Nouriel Roubini, também famoso por prever a crise de 2008, publicou neste fim de semana um texto no Project Syndicate sobre a "bomba relógio" da liquidez.

Segundo ele, o mundo está vivendo um paradoxo. Por um lado, taxas de juro baixas (ou negativas) e uma política monetária expansiva nos países desenvolvidos inundaram os mercados de recursos e inflaram bolhas em alguns ativos.

Ao mesmo tempo, essa liquidez não está circulando "normalmente" no mercado a qualquer dado momento. Isso é resultado de fatores como o foco em títulos não tão líquidos e a exigência regulatória de que os bancos ajam de forma menos arriscada nos mercados.

Olhando no agregado, menos liquidez faz com que pequenos eventos tenham um efeito ampliado, e o uso da negociação computadorizada de alta frequência só piora o comportamento de manada.

O alerta já havia sido dado por Jamie Dimon, presidente executivo do JP Morgan, e Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro americano. Segundo Roubini, isso pode levar até a um novo crash.

"Por mais tempo que os bancos centrais criem liquidez para suprimir a volatilidade de curto prazo, mais eles alimentarão bolhas de preços em ações, títulos e outros ativos de mercado. Quanto mais os investidores se empilharem sobre ativos supervalorizados e cada vez menos líquidos (como títulos), o risco de uma quebra de longo prazo aumenta. Essa é o resultado paradoxal da resposta de políticas à crise financeira. A liquidez macro está alimentando booms e bolhas, mas a iliquidez vai eventualmente detonar uma quebra e um colapso".

Acompanhe tudo sobre:Bolha acionáriaBolhas econômicasEconomistasMercado financeiroNouriel RoubiniRobert Shiller

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor