São Paulo - A economia da Ucrânia deve enfrentar uma recessão de 5,5% este ano, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
A previsão sombria apareceu no anúncio de uma nova ajuda do órgão para o país no valor de US$ 17,5 bilhões - US$ 5 bilhões imediatamente e US$ 2,7 bilhões para dar suporte ao orçamento.
Em outubro do ano passado, o FMI previa uma recuperação da economia ucraniana em 2015 na ordem de 1%. A previsão agora é que o crescimento retorne para 2% em 2016 e continue em uma média de 4% nos anos seguintes.
A economia ucraniana tem sofrido duramente nos últimos anos pela instabilidade política interna, a tomada da Crimeia pela Rússia e o conflito com separatistas no leste do país.
A desvalorização da moeda e a corte de subsídios nas tarifas de energia também empurraram para cima a inflação, que deve ficar por volta de 17% este ano. No ano passado, ela encostou em 25%, a maior taxa em 14 anos.
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1. Um ano para esquecer
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1/8 (REUTERS / Sergei Karpukhin)
São Paulo - O Brasil não foi o único país do mundo onde as perspectivas econômicas foram piorando ao longo de 2014. A
América Latina inteira desacelerou, com destaque para o calote argentino e o quase-calote venezuelano. Na
Europa, não faltam exemplos de estagnação ou de claro declínio. A dobradinha
Rússia-Ucrânia, que movimentou o mundo da política, também afundou em recessão e crise cambial. Clique nas fotos para ver quais foram os 6 países que não guardarão boas memórias de 2014:
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2. Brasil
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2/8 (Germano Lüders/EXAME)
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3. Argentina
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3/8 (Luis Argerich/Creative Commons)
2014 foi o ano em que a
Argentina entrou em calote pela 8ª vez na sua história moderna, resultado de um processo judicial nos Estados Unidos movido por fundos que não reconhecem os termos de renegociação da dívida. O juiz decretou o pagamento imediato, mas o país disse que não podia correr o risco de acabar com suas reservas ou se abrir a processos da maior parte dos credores, que aceitaram receber menos em 2005 e 2010. O impasse continua e não há
ministro bonitão que resolva. Enquanto isso, o país entrou em recessão econômica e continou adotando medidas que
aumentam o controle sobre o setor privado.
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4. Venezuela
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4/8 (REUTERS/Jorge Silva)
É difícil dizer o quão mal vai a
Venezuela - afinal, o governo de
Nicolas Maduro passou o ano inteiro sem revelar nenhum dado oficial sobre crescimento. Não é um sinal auspicioso para um país marcado por tensões políticas, inflação galopante e escassez de produtos básicos (e não tão básicos assim, como
o implante no seio). Não bastasse o caos econômico, a Venezuela ainda teve que lidar em 2014 com uma queda brutal dos preços de petróleo, seu principal produto de exportação. As contas públicas se deterioram rapidamente e aumentaram ainda mais o
risco de calote.
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5. Itália
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5/8 (Diliff/Wikimedia Commons)
Prestes a completar 40 anos, Matteo Renzi é o primeiro-ministro mais novo da história da
Itália, mas seus esforços para flexibilizar o mercado de trabalho e conseguir permissão da
União Europeia para gastar um pouco mais não tem dado resultado. A terceira maior economia da zona do euro não cresce desde 2011 e está afundando sob o peso de deflação, desemprego e uma população que envelhece, não gasta e não arrisca. No começo de dezembro, a nota da dívida do país foi rebaixada pela Standard & Poor's. O perigo atual é que os italianos migrem para partidos radicais com plataformas xenófóbicas e que defendem a saída do euro, um cenário difícil até de imaginar.
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6. Ucrânia
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6/8 (Getty Images/Joern Pollex)
Protestos sangrentos, um presidente retirado do poder, territórios invadidos, militantes separatistas, um avião civil abatido e crises de abastecimento de energia. Com um ano desses, nem um pacote do
FMI e nem a ajuda dos países ocidentais puderam salvar a economia da
Ucrânia, que está praticamente falida. O país, que já não crescia há dois anos, deve experimentar uma recessão de 7% a 8% em 2014. As reservas estão abaixo dos US$ 10 bilhões e a moeda só despenca - curiosamente, um processo parecido com o da
Rússia, seu algoz.
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7. Rússia
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7/8 (Wikimedia Commons)
Com sua invasão da Crimeia,
Vladimir Putin ousou redefinir fronteiras na Europa e disparou o que alguns já chamam de nova Guerra Fria. É por essas e outras que a Rússia vai terminar o ano bem mais enrolada do que começou. A economia do país já estava sob o efeito de sanções quando foi pega de surpresa pela queda brutal dos preços do petróleo - seu principal produto de exportação e responsável por praticamente metade das receitas do governo. O rublo despencou, as reservas minguaram, a inflação disparou e não houve alta de juros que pudesse segurar o processo. O país vive hoje uma crise cambial plena e começa a afundar numa recessão - não seria demais prever que a
Rússia vai marcar presença nesta lista em 2015 pelo
terceiro ano consecutivo.
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8/8 (Zero one/Flickr/Creative Commons)
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1. Vítimas do dragão
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1/8 (Getty Images)
São Paulo - Em 2009, o jornalista Clóvis Rossi
perguntou a
Henrique Meirelles como ele havia convencido Lula a aumentar os juros dias após sua posse em 2003. O então presidente do Banco Central respondeu: "Disse a ele que, no Brasil, a
inflação dispara sempre que atinge os dois dígitos." Por enquanto, não estamos neste patamar, mas a situação é tudo menos confortável. Na semana passada, o
IBGE divulgou que o Brasil teve em janeiro sua maior
inflação mensal
em mais de uma década. Tudo indica que a taxa deve
fechar 2015 acima dos 7%, estourando o teto da meta - o que não acontece desde 2003. Economistas esperam que
mesmo com a recessão, o índice só vá começar a ceder em 2016. Mas pelo menos por enquanto, a distinção dos dois dígitos fica com dois vizinhos latino-americanos, duas nações africanas e dois países que estão basicamente em guerra um contra o outro. Veja a seguir qual deve ser a inflação anual nestes 6 países na mediana de economistas ouvidos pela Bloomberg e quais são as raízes do fenômeno em cada um deles:
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2. Venezuela
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2/8 (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
Inflação estimada para 2015: 72,3% (pesquisa de nov/2014)
O que está acontecendo: o
pacote de camisinhas de 2 mil reais é só o último exemplo do quão longe chegou o caos econômico na
Venezuela, um dos
piores países do mundo para se fazer negócios. Anos de estímulo da demanda combinados com uma desorganização total do setor produtivo e uma moeda desvalorizada levaram a prateleiras vazias; e nada estimula a inflação mais do que a escassez. A recente queda do preço do petróleo arrasou com as finanças do governo e só piorou a situação, já que faltam recursos para comprar importados. Enquanto isso, o presidente Nicolas Maduro continua culpando forças ocultas pelos desequilíbrio econômicos, que tenta resolver com medidas "criativas" como controle de preços,
tomada de empresas e
cadastro biométrico para compra em supermercados.
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3. Argentina
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3/8 (Reprodução/Facebook)
Inflação estimada para 2015: 22,5% (pesquisa de jan/2015)
O que está acontecendo: nossos vizinhos portenhos não hesitaram nem um pouco em aumentar gastos e imprimir dinheiro mesmo durante períodos de bonança. O resultado foi um peso desvalorizado e uma inflação que deve resistir ao segundo ano seguido de recessão na
Argentina. As respostas de
Cristina Kirchner se resumiram a aumentar o controle do setor privado, tentar segurar a saída de dólar, instituir controles de preços e maquiar as estatísticas oficiais, que já não são consideradas válidas pelas instituições privadas.
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4. Ucrânia
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4/8 (Reuters)
Inflação estimada para 2015: 17,5% (pesquisa de dez/2014)
O que está acontecendo: instabilidade política, a perda da
Crimeia e o separatismo violento no leste empurraram a
Ucrânia para uma grave crise econômica. A queda de produção industrial e desvalorização de sua moeda, em especial, contribuíram para a maior taxa de inflação em 14 anos. Outro fator (este em comum com o Brasil) é o aumento dos preços de energia, resultado da decisão do governo de cortar subsídios que existiam há décadas.
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5. Gana
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5/8 (SXC.Hu)
Inflação estimada para 2015: 13,2% (pesquisa de nov/2014)
O que está acontecendo: a economia de
Gana vem crescendo bastante nos últimos anos, mas isso acelerou a demanda e pressionou a inflação. Uma moeda em desvalorização e um governo com problemas fiscais também não estão colaborando. A boa notícia é que a tendência é de queda: o
petróleo mais barato ajuda a segurar os preços, e a taxa projetada pela Bloomberg está no centro da meta do governo (13% com tolerância de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo).
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6. Rússia
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6/8 (Andrey Rudakov/Bloomberg)
Inflação estimada para 2015: 13% (pesquisa de jan/2015)
O que está acontecendo: a Rússia
está em um momento difícil, para dizer o mínimo. Em 2014, o país se viu atingido por uma tempestade dupla: de um lado, sanções ocidentais para pressionar
Vladimir Putin a deixar a Ucrânia em paz; do outro, uma queda brutal dos preços de petróleo, principal fonte de divisas do governo. O resultado foi uma recessão violenta e uma depreciação forte do rublo. A alta dos juros não foi capaz de conter o processo, e algumas das reações de Putin - como proibir a importação de alimentos da Europa - só pioraram o problema. A solução para acalmar os ânimos foi
diminuir o preço mínimo da vodca, que está agora em R$ 14,64 por litro.
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7. Egito
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7/8 (Amr Abdallah Dalsh/Reuters)
Inflação estimada para 2015: 10,6% (pesquisa de dez/2014)
O que está acontecendo: o
Egito é um dos países do mundo que
mais subsidiam energia suja. A redução deste apoio é importante para melhorar a situação fiscal do governo, mas leva a aumentos de preços no curto prazo. O Banco Central também vem cortando os juros, priorizando o crescimento ao invés do controle da inflação. A economia do Egito é muito dependente do
turismo e está patinando com toda a turbulência política desde a derrubada de Hosni Mubarak no início de 2011.
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8/8 (Getty Images)