Economia

No dia seguinte do impeachment, o que esperar da economia?

Com possibilidade cada vez menor de Dilma terminar mandato, olhos se voltam para capacidade de Michel Temer entregar reformas e recuperar credibilidade

Selfie com o muro na frente da Câmara dos Deputados (Dado Galdieri/Bloomberg)

Selfie com o muro na frente da Câmara dos Deputados (Dado Galdieri/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 18 de abril de 2016 às 11h51.

São Paulo – Por um placar esmagador de 367 votos contra 137, a Câmara dos Deputados aprovou ontem o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

O processo ainda precisa ser admitido e votado pelo Senado e o PT pode tentar convocar novas eleições. Paralelamente, corre o processo no Tribunal Superior Eleitoral que pode invalidar a chapa Dilma-Temer e também chamar um novo pleito.

A incerteza continua, mas fica cada vez mais improvável que Dilma termine seu mandato.

“Do ponto de vista de mercado, não dá para esperar nada além de comemoração, com dólar para baixo e Banco Central recomprando swap para se livrar se sua exposição”, diz Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC.

O dólar começou o dia caindo mas voltou a subir com o anúncio de leilão do BC. Os contratos de juros futuros apresentam queda, mas a bolsa está instável.

Equipe

Os olhos agora vão se voltar cada vez mais para as movimentações do vice Michel Temer e a formação de sua equipe. 

Na sexta, a Reuters publicou que Paulo Leme, presidente do Goldman Sachs no Brasil, estava sendo cotado para a Fazenda ou para o Banco Central.

Luiz Fernando Figueiredo, ex-oficial do BC e fundador da gestora de ativos Mauá Capital, poderia assumir o Tesouro ou também o BC.

Também estariam na lista os nomes de Armínio Fraga, ex-presidente do BC, José Serra, senador pelo PSDB e Henrique Meirelles, chefe do BC no governo Lula. Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú, estaria cotado para o BC, segundo a Folha.

Medidas

O primeiro desafio é ajustar as contas públicas. O país deve ter em 2016 seu terceiro ano seguido de déficit primário na casa de 1% do PIB e precisaria pular para um superávit de 2% para começar a estabilizar a dívida pública.

Isso exigiria uma reversão de uma magnitude inédita no país. Nem os grandes ajustes fiscais dos últimos tempos (FHC em 1999 e Lula em 2003) chegaram nestas proporções, e isso em com condições políticas imensamente melhores do que as atuais.

Nessa situação, Temer poderia tentar um aumento de receita de curto prazo (complicado após a campanha pública contra a CPMF), mas teria que focar em medidas mais profundas para reverter rapidamente o clima.

Mudanças nas concessões e em marcos regulatórios também podem estar na agenda, assim como os tetos para gastos de que vem falando o atual ministro Nelson Barbosa.

Afrouxar as vinculações orçamentárias, rever a política do salário mínimo e reformar a Previdência são algumas apostas de Schwartsman.

“Temer tem que reconstruir uma coalizão. É um cara com mais experiência e jogo de cintura, mais capaz de construir isso do que Dilma, que era extraordinariamente incompetente e tinha um programa que o próprio partido não bancava”, diz ele.

Desafios

Ainda assim, não se pode subestimar a dificuldade de construir um consenso quando minguam verbas e cargos (um dos planos de Temer é cortar ministérios).

“Ninguém espera que o Temer assuma dizendo que amanhã vai gerar 10 milhões de empregos, mas ele pode recuperar a credibilidade em um cenário de inflação e juros em queda, e traz uma força política adicional que hoje a Dilma não tem”, diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings.

Segundo ele, o mercado espera um cenário de “repactuação inversa” – uma união pública declarada de todos os partidos que votaram a favor do impeachment já com uma agenda das aprovações a serem feitas, com o fiscal no centro.

Mas esse otimismo pode sofrer correções, na medida em que aparecem rachaduras na base e resistência de movimentos sociais e protestos a determinadas medidas após um impeachment que muitos veem como ilegítimo e juridicamente frágil.

“Sossegar os apoiadores do Partido dos Trabalhadores na saída de Rousseff será um desafio. Apesar de representarem uma minoria no Brasil, seus números são grandes o suficiente para criar uma agitação nas ruas” diz um relatório lançado hoje pela consultoria internacional de segurança Stratfor.

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