Economia

Inflação no teto da meta preocupa economistas e consumidores

Influenciada principalmente pelos preços dos alimentos e de serviços, a inflação tem ficado ao redor do teto da meta, de 6,5% ao ano


	Consumidora conta moedas e notas de real: inflação tem dado sustos nos últimos anos
 (Dado Galdieri/Bloomberg)

Consumidora conta moedas e notas de real: inflação tem dado sustos nos últimos anos (Dado Galdieri/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2014 às 10h37.

Brasília - Influenciada principalmente pelos preços dos alimentos e de serviços, a inflação tem ficado ao redor do teto da meta (6,5% ao ano) e tem dado sustos nos últimos anos.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) somava 6,37% no acumulado entre junho de 2013 e maio deste ano.

Apesar de ter ultrapassado várias vezes 6,5% no acumulado em 12 meses ao longo dos últimos três anos, o IPCA, indicador oficial calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem conseguido encerrar o ano sem estourar o teto da meta.

Em 2011, o índice encostou em 6,5%, recuando para 5,84% em 2012 e 5,91% em 2013.

Apesar de a inflação não ter fugido do controle, a resistência em convergir para o centro da meta, de 4,5%, preocupa economistas e consumidores, que alegam perda do poder de compra no aniversário de 20 anos do Real.

Fundadora e presidenta do Movimento das Donas de Casa de Minas Gerais, Lúcia Pacífico diz que a inflação voltou a rondar o bolso dos brasileiros.

“Nossa entidade constantemente monitora os preços. São aumentos pequenos, R$ 0,50 aqui, R$ 1 ali, mas que corroem o poder aquisitivo de quem vai aos supermercados. Hoje, vejo pessoas voltando mercadorias no caixa porque o dinheiro não deu”, reclama.

A sucessão de aumentos pequenos nos preços também preocupa o vendedor de banca de revistas José Edinaldo da Silva, 55 anos. Apesar de estar em nível menor que nos últimos anos, ele constata a volta da inflação.

“Claro que não está como naquele tempo [antes do Plano Real], mas, meio por baixo do pano, a inflação está se manifestando. As revistas [da banca] estão no mesmo preço há muito tempo porque as editoras estão segurando, mas é só sair por aí para ver os aumentos”, diz.

Dono de uma banca de fotos e de fotocópias, Osvaldino Brandão, 58 anos, teve de reajustar preços por causa dos custos maiores.

“Neste ano, subi o preço da cartela de oito fotos de R$ 12 para R$ 13”, conta.

O aumento incomoda até quem nasceu depois do Plano Real e não conviveu com a hiperinflação.


“Até poucos anos atrás, com R$ 300 você comprava muita coisa. Hoje não dá mais nada”, comenta o estudante Leandro Lázaro, 18 anos.

No início do Plano Real, o governo usava a âncora cambial para conter a inflação.

Com o dólar próximo de R$ 1 até 1999, o câmbio sobrevalorizado estimulava a importação de produtos baratos para competir com as mercadorias nacionais.

Depois da crise de 1999, o governo liberou o câmbio e criou o regime de metas de inflação, pelo qual o Comitê de Política Monetária do Banco Central mantém o IPCA dentro de um intervalo por meio do controle da taxa Selic – juros básicos da economia.

Um dos responsáveis pela elaboração do Plano Real, o economista Edmar Bacha, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), diz que o governo brasileiro ainda não encontrou uma forma adequada de lidar com os juros altos.

A taxa Selic ficou em 7,25% ao ano entre outubro de 2012 e abril de 2013, no menor nível da história.

Para conter a inflação, o Banco Central elevou os juros para 11% ao ano nos últimos 14 meses.

Para Bacha, somente reformas que elevem a produtividade e reduzam o risco de crédito reduzirão os juros de forma consistente.

Ex-diretor do Banco Central, Carlos Eduardo Freitas diz que a inflação só não estourou o teto da meta por causa do controle de preços administrados, como transportes e energia.

Segundo ele, o tabelamento artificial está fazendo o Tesouro Nacional gastar mais para segurar os aumentos de preços, com efeitos negativos nas contas públicas.

“O novo modelo do setor elétrico criou obrigações ocultas para o Tesouro. Quanto mais a inflação aumenta e se dissemina, maior o sacrifício para trazê-la para o centro da meta”, declara.

O professor de economia da Universidade de Campinas (Unicamp) Francisco Lopreato, especialista em política fiscal, tem opinião distinta.

Para ele, o governo acertou ao reduzir os juros porque diminuiu o poder do setor financeiro, que ganha com a especulação e não investe o dinheiro na produção.

“Em nenhuma circunstância, vejo risco de descontrole. A inflação subiu por dois motivos. Primeiro, houve um choque de preços de alimentos, que subiram no Brasil e no exterior por motivos climáticos. Além disso, os empresários tentaram elevar a margem de lucro para compensar as perdas no mercado financeiro”, argumenta.

O diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz, diz que, apesar de a inflação estar próxima do teto da meta, não há descontrole.

"Uma inflação mais alta acarreta nível de perda maior, mas inflação em torno de 6,5% ao ano traz uma perda imperceptível se comparada ao período hiperinflacionário", avalia.

Segundo ele, a maior parte dos trabalhadores está conseguindo recuperar as perdas por causa das negociações sindicais e por causa da política de aumento real do salário mínimo.

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