Economia

Em 2060, economia terá menos crescimento e mais desigualdade

Crescimento em baixa, desigualdade em alta, pressões fiscais e perdas climáticas: eis a economia global que a OCDE desenha para 2060 em seu novo relatório

O conhecimento se tornará central para a economia nas próximas décadas (Roland Fischer/Wikimedia Commons)

O conhecimento se tornará central para a economia nas próximas décadas (Roland Fischer/Wikimedia Commons)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 22 de julho de 2014 às 13h27.

São Paulo – Se fazer previsões econômicas para o mês que vem já é difícil, imagine para os próximos 50 anos. Isso não impede, é claro, os economistas de tentarem.

Recentemente, a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), que reúne 34 países (na sua maioria de renda alta) delineou o seu cenário da economia global em 2060.

A má notícia é que as perspectivas de crescimento são “medíocres comparadas com o passado”.

A previsão é que o PIB nos países da OCDE e do G-20 cresça em média 2,7% anuais entre 2010 e 2060, comparado aos 3,4% registrados entre 1996 e 2010.

A boa notícia é que o centro do sistema deve continuar caminhando em direção aos países emergentes, que terão no futuro uma fatia da economia global muito mais alta do que a dos países da OCDE.

Mas enquanto a diferença entre países e regiões deve diminuir, vai continuar aumentando a desigualdade interna dos países. Como a economia será cada vez mais centrada no conhecimento, a diferença nas perspectivas dos mais e menos qualificados vai aumentar – um processo que já está acontecendo, mas vai ficar cada vez mais intenso.

“Continuando a tendência atual, a desigualdade de renda no país médio da OCDE terá crescido 30% até 2060, atingindo o mesmo nível de desigualdade visto atualmente nos Estados Unidos”.

E pior: muitos dos instrumentos usados hoje para combater a desigualdade, como a política tributária, também devem ficar menos eficientes.

O perigo é que na medida em que a economia global fique mais integrada, os países entrem em uma “corrida para o abismo”, um nivelamento por baixo em que benefícios trabalhistas e formas de redistribuição são evitados para não afugentar empresas e negócios.

Uma economia baseada no conhecimento também tem naturalmente mais mobilidade. Neste cenário, começa a fazer mais sentido taxar coisas mais tangíveis - como imóveis e recursos naturais, por exemplo. Mas são justamente estes tipos de bens que devem perder importância na economia do futuro.

A solução sugerida pela OCDE é aumentar a cooperação internacional e focar em combater a desigualdade equalizando as oportunidades desde os primeiros momentos de vida, através de uma educação constante e de alta qualidade.

De uma forma ou de outra, também será difícil achar os recursos necessários, porque os desafios fiscais devem se acumular.

Uma população cada vez mais velha (ou até mesmo em declínio) coloca pressão sobre a previdência, e os governantes terão que responder com medidas impopulares de ajuste como o aumento da idade de aposentadoria.

O documento sugere mais imigração como a melhor forma de amenizar o problema populacional – mas muitos países tem uma conhecida resistência histórica contra receber mais estrangeiros, e na medida em que os emergentes enriquecem, diminuem também os incentivos para que deixem seus países.

E isso sem falar no aquecimento global: de acordo com a OCDE, “o PIB global em 2060 pode ser diminuido entre 0,7% e 2,5% graças ao efeito dos impactos da mudança climática”. Nos anos seguintes, as consequências devem ser ainda piores.

Acompanhe tudo sobre:Aquecimento globalClimaCrescimento econômicoDesenvolvimento econômicoDistribuição de rendaImigraçãoOCDEPaíses emergentes

Mais de Economia

Economia argentina cai 0,3% em setembro, quarto mês seguido de retração

Governo anuncia bloqueio orçamentário de R$ 6 bilhões para cumprir meta fiscal

Black Friday: é melhor comprar pessoalmente ou online?

Taxa de desemprego recua em 7 estados no terceiro trimestre, diz IBGE