Placas de rua em Nova York: para qual caminho vai a economia americana? (Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 25 de abril de 2016 às 10h33.
São Paulo - Crescimento nominal dos salários, inflação estável e lucros corporativos em alta.
A economia dos Estados Unidos só pode escolher dois destes três objetivos, diz um relatório recente do Deutsche Bank.
O país está passando por um crescimento fraco de produtividade: 5 anos seguidos de crescimento anual de 0,5% em média, a mais baixa desde a Segunda Guerra Mundial (com exceção de um breve período dos anos 80).
Há quem diga, como Lawrence Summers, que as métricas não conseguem capturar a contribuição das novas tecnologias para o produto; outros acreditam que aumentos de salário vão mudar essa dinâmica.
Trabalhadores mais bem pagos tendem a ser mais produtivos, e quando aumenta o custo do trabalho, empresários investem em capital para aumentar a eficiência de cada um individualmente.
Para Robert J. Gordon, um dos maiores especialistas mundias em produtividade, o problema é outro: as inovações recentes simplesmente não tem o potencial revolucionário das antigas.
De qualquer forma, o dilema é que se o crescimento fraco de produtividade persistir, essa "conta" vai ser absorvida por alguém.
Provavelmente não será pelos trabalhadores - vide a política monetária acomodativa do Federal Reserve e a nova onda de aumentos do salário mínimo, que chegam a US$ 15 por hora em algumas localidades.
"Se os salários aumentam mais rápido que sua produtividade, as companhias que pagam estes salários enfrentam duas escolhas. Elas podem repassar seus custos extras para os consumidores, levando a preços mais altos no geral e inflação crescente, ou elas podem absorver os custos extras resultando em margens de lucro mais baixas", diz o relatório.
Uma possibilidade é que o Fed deixe a inflação subir para 3,5%: a participação do trabalho no produto e as margens corporativos seguem constantes e perdem os investidores em renda fixa que apostaram na inflação permanecendo em 1%.
Mas se o Fed continuar lutando por uma inflação dentro da meta, o tombo seria nas margens corporativas. O nível atual do mercado de ações sugere que os investidores não estão contando com isso.
China
O Deutsche usou como referência a chamada "trindade impossível" conhecida da teoria econômica: a impossibilidade de manter para sempre uma conta de capitais aberta, uma taxa de câmbio fixa e uma política monetária independente.
Esse é o problema da China hoje. Sua conta de capitais não é exatamente aberta, mas não consegue impedir que vazem os recursos despejados pelo governo através de uma política monetária expansiva em um cenário onde o mundo aposta contra a cotação do iuane.
A China também está tentando conciliar outros três objetivos incompatíveis: crescimento alto, estabilidade financeira e uma agenda de reformas. Tudo indica que neste caso, perderão as reformas - adiadas, amenizadas ou abandonadas.