Chinesas caminham em frente à anúncio de complexo de apartamentos em Xangai (Qilai Shen/Bloomberg)
João Pedro Caleiro
Publicado em 13 de agosto de 2013 às 14h42.
São Paulo - Apesar da sua desaceleração recente, a China é indiscutivelmente uma das grandes histórias de sucesso econômico das últimas décadas. Nesta semana, porém, um estudo argumentou que uma boa dose de manipulação pode ajudar a explicar parte do milagre chinês.
O professor Christopher Balding, da Escola de Negócios do HSBC em Pequim, argumenta que a forma como o país mede sua inflação não dá o peso devido aos custos de moradia, o que faz com que 1 trilhão de dólares extras estejam sendo contabilizados no PIB (Produto Interno Bruto).
"Existe uma evidência sólida de que a taxa real de crescimento do PIB chinês e seu real tamanho podem estar sendo significativamente inflados. Se os dados de inflação não são precisos, ou são deliberadamente fraudulentos como parece ser o caso, isso vai impactar em muitas outras áreas de dados financeiros e econômicos e levar a grandes disparidades ao longo do tempo", argumenta.
A tese central do estudo é que os dados chineses de preço de moradia estão sendo manipulados para mostrar uma inflação menor – que se medida corretamente, teria um aumento percentual extra de 1 ponto por ano. Cumulativamente, isso significaria uma redução na faixa de 8% a 12% do PIB real do país, ou 1 trilhão de dólares considerando PPP (paridade do poder de compra).
Moradia
De acordo com os dados oficiais fornecidos pelo Escritório Nacional de Estatísticas chinês, o preço da moradia privada subiu 1,67% por ano nas áreas rurais entre 2000 e 2011 – mais de três vezes a taxa da moradia urbana, que subiu 0,53%.
O problema é que para agregar os dados, o órgão utilizou como referência uma população 80% urbana e 20% rural, muito acima da proporção real: segundo Balding, dois terços das moradias chinesas estavam na área rural em 2000. A porcentagem de moradias urbanas só se tornou maioria em 2011, e ainda assim ligeiramente, com 51%.
O estudo também desconfia da baixa porcentagem de locatários (12%, contra 88% de proprietários) e do baixo peso de 13% dado à moradia no conjunto dos produtos considerados pela inflação – artigos educacionais e culturais tiveram mais importância, por exemplo.
De acordo com os dados oficiais, a inflação total da China foi de 30% de 2000 a 2011 e o preço da moradia urbana aumentou apenas 5,99% – isso em um período no qual o PIB nominal quintuplicou e milhões de chineses deixaram o campo em direção às cidades.
“Por 10 anos, a taxa de desemprego chinesa variou entre 4,1% e 4,3%. Mesmo aceitando que a taxa tenha ficado tão baixa por todo esse período de tempo, o que já é questionável, espera-se uma variação maior do que essa”, disse Balding em seu blog, como mais uma suposta evidência de que os dados chineses não são confiáveis.
“Quando você simplesmente inventa dados econômicos, é claro que eles sempre vão parecer bons”, completa.