A desvalorização das moedas dos países produtores está encorajando os produtores a exportar as ofertas que recebem dólares como pagamento (ThinkStock)
Da Redação
Publicado em 29 de dezembro de 2015 às 17h58.
Os fundos de hedge estão apostando que a sua xícara matinal de café vai ficar mais barata mesmo com os preços seguindo para um sexto prejuízo mensal seguido.
Os contratos futuros do café arábica caíram em 2015 porque a grande quantidade de chuvas ampliou a colheita no Brasil, o maior produtor e exportador do mundo. Isto está reduzindo os custos da Starbucks e da J.M. Smucker, a fabricante das marcas Folgers.
Os gestores de recursos permaneceram pessimistas por 18 semanas seguidas.
Enquanto o clima favorável aumenta os rendimentos das safras, a desvalorização das moedas dos países produtores está encorajando os produtores a exportar as ofertas que recebem dólares como pagamento.
Tudo isto está se somando a uma oferta esmagadora e o Departamento de Agricultura dos EUA prevê que a produção ultrapassará o uso pelo sexto ano seguido. A colheita do Brasil deverá ser maior na próxima safra, segundo o Rabobank International.
“A oferta continuará em um ritmo saudável”, disse Sameer Samana, estrategista quantitativo global do Wells Fargo Investment Institute em St. Louis, que administra US$ 1,7 trilhão.
“Não há nada que sugira o início de uma nova alta do café. Os produtores brasileiros farão tudo para vender as safras futuras” em meio à desvalorização da moeda local, disse ele.
Os preços do arábica caíram 28% neste ano, para US$ 1,1915 por libra/peso, no ICE Futures U.S., em Nova York. A posição líquida vendida em futuros e opções aumentou para 16.734 contratos na semana que terminou em 22 de dezembro, segundo dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA divulgados na segunda-feira. Os números contrastam com o total de 11.409 da semana anterior.
Os amantes de café já estão tirando proveito da queda deste ano. O preço médio no varejo nos EUA caiu 4,3%, para US$ 4,412 a libra em novembro, nível mais baixo desde fevereiro de 2011, mostram dados do governo.
Em julho, a Smucker cortou os preços no varejo, seguido por reduções para alguns produtos torrados e moídos da Kraft Heinz, fabricante do Maxwell House. A Starbucks espera que os custos por grão permaneçam “favoráveis” em 2016, disse Scott Maw, diretor financeiro da empresa, em uma teleconferência em 29 de outubro.
O café não é a única cultura com grande oferta. Os preços dos alimentos caíram 18% nos últimos 12 meses porque os produtores rurais colheram fartas safras de grãos em todo o mundo e a demanda diminuiu para alguns produtos de carne e lácteos, mostram dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
O subindex Bloomberg Agriculture caminha para uma terceira queda anual seguida, a pior desde 2001.
No Brasil, onde a seca prejudicou as safras em 2014, neste ano as chuvas abundantes ajudaram a resgatar os pés de café. A próxima colheita do país poderá aumentar para 58 milhões de sacas, contra 48,4 milhões no ano anterior, estima o Rabobank. A Ecom Agroindustrial prevê uma safra de até 60 milhões de sacas, cada uma pesando 60 quilos.
Ainda existem ameaças às colheitas que podem ajudar a conter a queda dos contratos futuros, disse Lara Magnusen, gestora de carteiras da Altegris Investments da Califórnia, que administra US$ 2,59 bilhões.
Os preços mais do que dobraram no começo de 2014 depois que a falta de chuva no Brasil durante o primeiro trimestre prejudicou o plantio. O fenômeno climático El Niño deverá durar até o início de 2016. Isso poderá gerar um clima seco na Colômbia, reduzindo a qualidade do grão do país.
Mesmo com os riscos à oferta, “a tendência é, obviamente, profundamente baixa” para os preços, disse Christopher Foster, gestor de carteiras da Blackheath Management em Toronto, que supervisiona US$ 25 milhões. “A tendência e os fundamentos tornam o café a descoberto bastante atrativo. A chuva atual no Brasil vai melhorar a safra do ano que vem”.