Economia

Banco Central quebra rotina das atuações no câmbio

O aumento da aposta em impeachment da presidente Dilma reverteu a pressão de alta sobre o dólar e também levou o BC a inverter suas atuações no câmbio


	Notas de dólar: em vez de vendedor, o BC agora é comprador de dólar futuro por meio dos swaps reversos
 (Mark Wilson/AFP)

Notas de dólar: em vez de vendedor, o BC agora é comprador de dólar futuro por meio dos swaps reversos (Mark Wilson/AFP)

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Da Redação

Publicado em 29 de março de 2016 às 20h43.

O aumento da aposta em impeachment da presidente Dilma Rousseff reverteu a pressão de alta sobre o dólar e também levou o Banco Central a inverter suas atuações no câmbio.

Em vez de vendedor, o BC agora é comprador de dólar futuro por meio dos swaps reversos.

Além disso, a previsibilidade das atuações no câmbio parece ser coisa do passado. O tipo e volume das ofertas nos leilões dependem das condições do mercado.

“Não é o BC que está errático, são as condições em que ele está operando que estão”, diz Roberto Padovani, economista do Banco Votorantim, sobre as atuações do BC no câmbio. “O cenário é binário: ou nós superamos a crise política e entramos em uma dinâmica econômica benigna ou continuamos em crise por alguns anos, o que pode levar a uma dinâmica econômica mais negativa.”

A mudança da rotina no câmbio começou a se desenhar em 17 de março, quando o BC disse em nota que o ambiente internacional abria oportunidade para diminuição das rolagens de swaps.

Já no dia seguinte, uma sexta, o BC fez leilão de apenas 3.600 swaps ante 9.600 ofertados diariamente antes. A redução das rolagens, contudo, não evitou que o dólar seguisse caindo. No dia 21, o BC anunciou que não apenas manteria o volume menor de rolagens, nas quais tem posição vendedora de dólar, como também faria oferta de 20.000 swaps reversos, na qual a posição do BC é compradora.

O leilão anunciado dia 21 foi o primeiro de reversos desde 2013, quando o BC encerrou a venda destes swaps e passou a ofertar diariamente swaps normais, em prática conhecida no mercado como “ração diária”.

Era uma resposta ao cenário externo mais negativo para o real e outras moedas de emergentes, com o início da retirada dos estímulos pelo Fed nos EUA. A pressão de alta do dólar foi aguçada ainda mais pela reeleição de Dilma em 2014 e persistiu até o começo deste ano, embora intercalada por momentos de alívio. Neste período, o BC vendeu mais de US$ 100 bi em swaps, na maior parte das vezes em doses previamente anunciadas.

A alta do dólar só perdeu força mais claramente neste ano com as apostas em impeachment, além do cenário externo mais ameno.

Nos dias seguintes ao primeiro leilão de reversos, o BC manteve os leilões de swaps, tanto reversos quanto normais, mas com variações de volume e na porcentagem de swaps efetivamente colocados no mercado. Na volta do feriado nesta segunda-feira, o BC não colocou nem swaps normais nem reversos.

Sem a ação do BC e com a expectativa de rompimento do PMDB com o governo, o mercado voltou a jogar o dólar para baixo. Após o fechamento de ontem, o BC anunciou novo leilão nesta terça, mas agora só com swaps reversos, o que ajudou a interromper a queda do dólar.

Italo Abucater, chefe da mesa de câmbio da corretora Icap, considera que o BC age corretamente ao alterar a atuação conforme o comportamento do mercado. “O BC não quer deixar a moeda apreciada exageradamente sem fundamento”, diz ele. Para Abucater, há um “nível que incomoda o BC”. Se o BC não entra com os reversos após o dólar cair ontem mais de 1%, diz o operador, a moeda poderia recuar até R$ 3,55 hoje, “fácil”.

O mercado ficou “vendido” em câmbio futuro apostando na saída de Dilma e agora o BC está oferecendo, com os leilões de swaps reversos, uma oportunidade para o investidor se ajustar, diz Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora. Para ele, o BC deveria vender reversos em doses maiores, de 50.000 contratos ou mais, para dar maior sustentação ao dólar.

Se ação do BC continuar tímida, o dólar pode cair para níveis menores à medida que o mercado retomar a especulação sobre o impeachment de Dilma, diz Nehme. Ele considera que os investidores estão exagerando na aposta de que o impeachment vai dar lugar a um novo governo mais sólido e reformista. “O problema econômico é tão grande quanto o político. Reconstruir tudo não vai ser fácil.”

Padovani, do Votorantim, observa que o mercado, assim que o cenário de impeachment ficar ainda mais claro, deve passar a ficar mais sensível ao noticiário sobre montagem da equipe econômica de Michel Temer. Padovani observa que o prêmio de risco do Brasil já caiu de 500 para menos de 400 pontos com a evolução recente de cenário.

Se o prêmio da incerteza política for totalmente retirado, o risco Brasil deveria ser de 300 pontos, tomando como base os países de rating semelhantes, diz Padovani. Segundo o economista, esse prêmio de risco seria compatível com um dólar a R$ 3,40. Ou seja, resolvida a crise política, fará sentido pensar num real mais forte.

Procurado, o BC disse que não comenta rumores do mercado, segundo sua assessoria de imprensa.

--Com a colaboração de Paula Sambo e Mario Sergio Lima.

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