São Paulo - Os brasileiros não costumam olhar com muita atenção para seus colegas latino-americanos, e com isso perdem a chance de conhecer (e aprender) com algumas histórias de sucesso. Uma delas é a do Peru, que após décadas de instabilidade econômica e violência política, tem conseguido atrair investimentos, reduzir a pobreza e crescer de forma vigorosa com inflação e desemprego baixos. Nem tudo está resolvido - o Peru ainda é um emergente com pobreza e serviços públicos de baixa qualidade - mas os sinais são promissores. Veja algumas peculiaridades do país a seguir:
O Peru é uma das maiores histórias de sucesso econômico da América Latina: sua economia cresceu a uma média de 6,6% anuais de 2004 para cá. No Brasil, foram 3,7% - a diferença é que enquanto nós desaceleramos nos últimos 3 anos, o Peru continuou em patamares semelhantes (e com inflação em torno de 3,5%).
3. Um em cada dois trabalhadores no setor informalzoom_out_map
3/11(Miguel Yupanqui/Wikimedia Commons)
A informalidade é um problema antigo do Peru que sujeita trabalhadores a condições inadequadas e impede o governo de ampliar receita.
O Brasil não tem hoje primeira-dama - muito menos uma como Nadine Heredia, mulher há 15 anos do presidente do Peru, Ollanta Humala, que assumiu em 2011. Inicialmente popular, ela passou a incomodar por sua interferência política, que só aumentou depois que ela foi apontada para líder do partido nacionalista e de esquerda do marido. 62% acreditam que é ela (e não Ollanta) que comanda o país e sua aprovação caiu de 66% para 27% em 2 anos.
A combinação de peixe cru com frutas cítricas e temperos vem dos incas e está presente em outros países andinos, mas é só no Peru que virou orgulho nacional com direito a dia especial (28 de junho). O ceviche virou produto de exportação e ajudou a impulsionar chefs como Gaston Acúrio, que abriu cevicherias em várias cidades - inclusive São Paulo, onde o prato virou moda nos últimos anos.
O Brasil não tem nenhum vencedor do prêmio Nobel, mas o Peru tem um: Mario Vargas Llosa. Ele levou o prêmio máximo da literatura mundial em 2010 por obras como "Tia Júlia e o Escrevinhador" e "A Festa do Bode". Um liberal assumido de 78 anos, Vargas Llosa chegou a concorrer à presidência em 1990, mas perdeu para Alberto Fujimori.
O Brasil já teve um presidente destitúido do cargo, mas não um condenado à prisão servindo pena - aliás, o caso peruano é único no mundo. Alberto Fujimori comandou o país entre 1990 e 2000, período em que abriu a economia. Depois de tentar um terceiro mandato e se exilar no Japão, ele voltou ao Peru e foi condenado a 25 anos de prisão por autorizar um "esquadrão da morte" que cometeu abusos de direitos humanos no combate à guerrilha do Sendero Luminoso.
Nenhuma das atrações históricas brasileiras é tão conhecida como a cidade inca, Patrimônio Cultural da Humanidade que recebeu quase 1,2 milhão de turistas só no ano passado. O número dobrou na última década, e 2 em cada 3 visitantes são estrangeiros.
De acordo com o BID, o turismo já responde por 8% do PIB peruano e pode ser a segunda principal fonte de divisas para o país já em 2021.
Em 2012, o Peru se tornou o país com maior plantação de coca do mundo (60 mil hectares), segundo a ONU. O país até conseguiu reduzir um pouco a área cultivada, mas ainda assim tomou a liderança da Colômbia, que conseguiu reduzir mais. O uso do vegetal como estimulante tem uma longa tradição local (e dentro da lei), mas a grande maioria acaba destinada para a produção de cocaína para exportação.
Nova norma de reajuste, aprovada pelo Congresso e que ainda depende de sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, limita o crescimento real do piso salarial a 2,5%