Economia

Negócios de alto risco

Carros blindados, agentes de segurança, monitoramento de casa e carro por satélite, alarmes, cercas elétricas, treinamento de direção defensiva. De uns tempos para cá, toda essa parafernália começou a fazer parte da vida de pessoas que, poucos anos atrás, jamais se imaginaram fechando a janela do carro em um sinal vermelho. Resultado: o aumento dos […]

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h32.

Carros blindados, agentes de segurança, monitoramento de casa e carro por satélite, alarmes, cercas elétricas, treinamento de direção defensiva. De uns tempos para cá, toda essa parafernália começou a fazer parte da vida de pessoas que, poucos anos atrás, jamais se imaginaram fechando a janela do carro em um sinal vermelho. Resultado: o aumento dos negócios das empresas de segurança.

A Graber, uma das pioneiras em segurança privada no país, vem reunindo presidentes e diretores de empresas para dar informações sobre a criminalidade em São Paulo e oferecer serviços completos de proteção a executivos. Nos últimos dois meses, a procura saltou de 400 consultas para 2 000. "Isso não vai se manter nesse nível, mas mostra o grau de preocupação das pessoas", diz Marcelo Necho, gerente-geral da Graber.

O crescente número de assaltos e seqüestros tem feito a indústria de segurança crescer cerca de 25% ao ano no país. A procura por blindagem de carros, por exemplo, aumentou muito nos últimos meses. "O mercado deve fechar este ano com crescimento próximo a 40%", diz José Locoselli, diretor da Wendler, marca alemã de blindagem de automóveis. Cresceu também o número de empresas. Há dez anos havia cinco companhias que blindavam carros. Hoje são 60 registradas. "É preciso muito cuidado com isso. Sempre que aparecem oportunidades, surgem os oportunistas", diz Necho.

A recomendação dos especialistas é conhecer a empresa que for prestar um serviço de segurança. Eles aconselham ir à fábrica, checar os procedimentos e as instalações e ouvir outros clientes. O grau de segurança depende de quanto será gasto. "O problema é querer gastar menos por um serviço que no mercado custa mais. Aí você entra naquela faixa de risco desnecessária, de achar que está protegido quando não est", diz Necho.

Na vitrine de equipamentos de segurança, um dispositivo vem ganhando destaque nos últimos tempos: o rastreador de automóveis, que ficou bem mais acessível com a evolução da tecnologia (leia mais sobre isso na pág. 16). O cirurgião plástico C.Y. já teve sua família salva pelo rastreador. Sua mulher e a sogra foram seqüestradas em um carro equipado com o dispositivo. Quando os seqüestradores perceberam que estavam sendo seguidos, pararam e fugiram em outro carro.

Não é só no carro que as pessoas estão tentando se proteger. Há quem blinde vidros e portas de casas. O mais comum é o uso de sistemas de alarme, com rondas de vigilância particular. De olho nesse mercado, que movimentou 650 milhões de dólares no ano passado, a gigante alemã Siemens comprou o braço da Graber de segurança predial. A expectativa é que a demanda continue crescendo cerca de 20% ao ano. "Estamos investindo em tecnologia para atender o consumidor. Com essa onda de violência, o nível de exigência tem crescido muito", diz Celso Aniceto, diretor-superintendente da Siemens Security no Brasil.

Será que é mesmo necessária tanta proteção? Depende muito da situação e da atitude de cada um. O presidente de uma multinacional corre muito mais risco de ser seqüestrado do que o gerente da empresa. O vice-presidente que deixa a porta do carro destravada enquanto conversa ao telefone, parado no semáforo, está muito mais vulnerável que o dono da companhia atento a todos os movimentos em seu redor, com as portas e os vidros ¡fechados. "Antes de mais nada, é preciso saber o risco a que se está exposto. Não se deve descuidar da segurança, mas também é preciso evitar exageros", diz James Wygand, presidente do Control Risk Group no Brasil.

Há muita gente que pensa que carro blindado é garantia de segurança total. Casos recentes, como o do publicitário Washington Olivetto e o do prefeito Celso Daniel, de Santo André, mostram que isso não é verdade. Um carro blindado pode dar até dez segundos de vantagem no caso de um ataque. "Quem dirige o carro precisa saber usar essa vantagem. Caso contrário, o investimento na blindagem terá sido à toa", afirma o consultor de segurança Hugo Tisaka, da NSA Brasil. Há cursos de direção defensiva e ofensiva para preparar o motorista para fugir nessas situações. Graças ao motorista bem treinado e ao carro blindado, os filhos do empresário Jorge Paulo Lemann escaparam de um seqüestro há três anos.

Há um consenso entre os especialistas: o risco de ser vítima de um bandido cai drasticamente para quem toma cuidado. O mais sensato é procurar ser menos vulnerável do que outras vítimas em potencial. É como a história de dois homens que caminhavam pela selva quando depararam com um leão. Um deles tirou um tênis da mochila e o calçou no lugar da bota. O outro perguntou: "Você acha que vai correr mais que o leão?" A resposta: "Não, só preciso correr mais do que voc". É a lei da selva para uma cidade que está se transformando numa selva urbana.

Mesmo com todos os recursos e adotando atitudes corretas, ninguém está livre de ser vítima de assalto ou seqüestro. Sempre há pontos vulneráveis, e uma quadrilha especializada dificilmente será contida. Neste caso, só uma política de segurança pública eficiente para combater o crime. "Quando o bandido conseguiu chegar ao alvo, o melhor é não reagir. Ter uma arma é uma grande estupidez, já que o fator surpresa está sempre com o bandido", diz Wygand.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Economia

O que diz a proposta do governo sobre taxação de quem ganha mais de R$ 50 mil por mês; entenda

Pacheco diz que pacote fiscal será prioridade nas próximas três semanas

Governo propõe que repasses à Cultura via Lei Aldir Blanc dependam de uso por estados

Após dólar a R$ 5,99, Haddad diz ser preciso colocar em xeque profecias não realizadas do mercado