Economia

Natura e Alpargatas dizem como evitar reajuste em tempos de inflação alta

Empresários mostram preocupação com inflação e recomendam corte de custos, queda-de-braço com fornecedores e investimentos para enfrentar a alta de preços

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h26.

Após um longo período de inflação baixa, o Brasil voltou a experimentar pressões generalizadas de preços neste ano. O maior foco de inflação ainda está concentrado nos preços de matérias-primas e combustíveis. É inevitável, no entanto, que os aumentos das commodities acabem, uma hora ou outra, tendo impacto nos custos da indústria de transformação. O repasse dos preços para o consumidor seria então inevitável, a não ser que a empresa consiga cortar internamente os custos correspondentes aos aumentos das matérias-primas.

A inflação foi o principal preocupação manifestada por empresários durante a cerimônia de premiação da 35ª edição do anuário MELHORES E MAIORES. Em discurso, o ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que vai combater com firmeza a inflação. Para ele, além dos juros, o governo tem outras armas para atacar a alta dos preços, como a elevação do superávit primário e aumento de impostos como o IOF.

Para explicar o impacto da inflação sobre empresas e consumidores, o Portal EXAME conversou com executivos de duas das maiores empresas de bens de consumo do país, a Alpargatas e a Natura. Veja abaixo os principais trechos da entrevista com o presidente da Alpargatas, Márcio Utsch, e o vice-presidente de Operações e Logística da Natura, Paulo Lalli:

Portal EXAME - Em 2008, o cenário externo parece ser muito mais adverso ao Brasil do que em anos anteriores. No mercado interno, o dólar baixo e a inflação continuam a prejudicar os resultados do setor calçadista. Como a Alpargatas tem enfrentado essa conjuntura mais desfavorável?

Márcio Utsch - O cenário nos traz desafios novos. Por outro lado, nós acreditamos que as marcas é que fazem a diferença no nosso negócio. Em torno de 12% de nosso faturamento é investido em marketing. Isso torna as nossas marcas mais fortes e resistentes a um período como esse. Então, apesar de todas as questões atuais, como inflação, matérias-primas, preço do petróleo, etc., nós continuamos numa trajetória de desempenho bastante positiva, tanto com Havaianas no Brasil e no exterior como com nossas marcas de artigos esportivos - Topper, Rainha, Mizuno.

Portal EXAME - E as recentes aquisições da Alpargatas também permitem ganhos de produtividade?

Utsch - As compras da Dupé [fábrica de sandálias] e da Alpargatas Argentina [fabricante de artigos esportivos] trouxeram um ganho de escala muito importante. Ambas trouxeram para nós um crescimento muito importante, uma escala maior e um ganho de produtividade. Então a empresa vai bem devido às aquisições, à abertura de filiais nos EUA e Europa e pela solidez das marcas.

Portal EXAME - Uma das principais concorrentes da Alpargatas, a Grendene reduziu em junho suas estimativas de vendas e citou a inflação como vilão. A Alpargatas também precisará em breve revisar suas projeções para 2008?

Utsch - Sentimos uma dificuldade maior para aumentar as vendas com a inflação, mas acreditamos que nossas previsões de crescimento serão alcançadas mesmo com essas condições mais adversas.

Portal EXAME - Que lições podem ser tiradas desse momento mais adverso da economia?

Temos trabalhado muito no aumento da produtividade. Momentos como esse que estamos vivendo nos ensinam que é possível gastar menos, produzir mais, aumentar a produtividade, automatizar operações e manter as margens sem repassar preços ao consumidor.

Abaixo os principais trechos da entrevista com o vice-presidente de Operações e Logística da Natura:

Portal EXAME - Como a inflação tem impacto nos negócios da Natura?

Paulo Lalli - A volta da inflação é uma preocupação constante para todo mundo. Ela pode nos pegar de duas maneiras. A primeira é nos custos de operação. Na medida em que a inflação acontece, nossos fornecedores querem aumento de preço das suas mercadorias, as matérias-primas que nos entregam. Além disso, a inflação também pode afetar o poder de compra do consumidor. Então vemos com preocupação o retorno da inflação, mas o nosso desafio como empresa é ganhar produtividade interna para que a gente possa oferecer produtos competitivos em qualquer que seja o ambiente.

Portal EXAME - Vocês já estão sentindo redução na demanda pelos produtos?

Lalli - Não ainda. Não sentimos isso, mas temos tido uma pressão de custos. Nossos fornecedores têm demonstrado uma necessidade de reajuste de preços e nós temos conseguido negociar com eles.

Portal EXAME - E se chegar num ponto que não der mais para negociar, há a possibilidade de repasse?

Lalli - Esperamos que isso não aconteça. Nós não temos perspectiva de fazer isso.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Economia

OPINIÃO | Os 30 anos do Plano Real e a estabilização da moeda

Boletim Focus: mercado eleva novamente projeções do IPCA de 2024 e 2025

Plano Real, 30 anos: Roberto Sallouti e novo desenvolvimento econômico com foco em produtividade

Plano Real, 30 anos: EXAME lança série documental com principais nomes da economia; veja teaser

Mais na Exame