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A economia depende tanto da água quanto você

Para cada R$ 1 gerado pela economia brasileira em 2015, foram consumidos, em média, seis litros de água - mas a diferença é gritante entre os setores

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REPRESA DE JAGUARY: o consumo de água em São Paulo já voltou a crescer / Nacho Doce/ Reuters (Nacho Doce/Reuters)

REPRESA DE JAGUARY: o consumo de água em São Paulo já voltou a crescer / Nacho Doce/ Reuters (Nacho Doce/Reuters)

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João Pedro Caleiro

Publicado em 22 de março de 2018 às, 05h55.

Última atualização em 22 de março de 2018 às, 17h34.

São Paulo – A água não é um elemento essencial apenas para a vida, mas também para a produção de bens e serviços.

A reflexão volta à pauta no dia 22 de março, definido como Dia Mundial da Água pela Organização das Nações Unidas (ONU) para estimular a reflexão sobre a preservação do recurso.

Para cada R$ 1 gerado pela economia brasileira em 2015, foram consumidos, em média, seis litros de água. Mas a diferença de consumo é gritante entre os diferentes setores.

A agropecuária, por exemplo, consome 91,5 litros de água para cada real produzido, em grande parte uma função da necessidade de irrigação das plantações e consumo dos animais.

O consumo proporcional foi infinitamente menor nas indústrias de transformação e construção (3,72 litros por real produzido) e indústrias extrativas (2,54 litros por real).

Os números foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no último dia 16 como parte das chamadas Contas Econômicas Ambientais da Água (CEAA).

A conta segue uma metodologia internacional desenvolvida pela Divisão de Estatísticas das Nações Unidas, mas como o Brasil foi um dos primeiros países a realizar o projeto, não há comparação internacional concluída.

Ineficiência

Ainda assim, é possível supor que o uso econômico da água é relativamente alto e ineficiente no Brasil, diz Ronaldo da Motta, professor de Economia do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Uma das razões para isso é a importância relativa, dentro da nossa economia, dos setores que são notórios gastadores de água em qualquer lugar do mundo, como agropecuária e a indústria pesada.

Já outros setores que usam menos recursos hídricos ainda não aparecem com tanta força no perfil da nossa economia, entre eles os mais avançados tecnologicamente.

"É fácil de entender porque o Vale do Silício pode estar na Califórnia, e a indústria do aço não", exemplifica Motta, citando um lugar famoso pela escassez de água.

Outra característica brasileira é que estoque e consumo não estão alinhados. Houve rápida concentração urbana sem planejamento em áreas pouco abastecidas enquanto a água é abundante em lugares com menor população e atividade. Alguns exemplos: Amazônia, Pantanal e a região Norte de forma geral.

Preço

A formação de preço é outro problema da abordagem brasileira da água. É teoria econômica básica: quando o preço não reflete a importância e disponibilidade do recurso, não há incentivo para que ele seja bem gerido.

“O preço da nossa água não tem nada a ver com a escassez da água. Usam todos os critérios, menos o da escassez. O consumidor só vai descobrir que a água é escassa quando é preciso racionar", diz Motta.

Alguns exemplos triviais disso estão no cotidiano, com a pouca confiabilidade das medições no nível micro e o alto nível de perdas na rede, que ultrapassam 30% segundo estimativas.

Outro exemplo está no fato do custo da água ser dividido igualmente dentro de um condomínio, por exemplo, desincentivando a economia individual.

"A única parte que percebe mais diretamente o valor da água é a indústria, e não é à toa que é onde há maior incentivo ao uso eficiente”, diz Motta.

Além disso, há dificuldade política para restringir o uso de um recurso que é visto como um direito. As soluções governamentais acabam focando apenas na busca de novas fontes de abastecimento, que nem sempre serão sustentáveis no longo prazo.

“Outros países trilharam o mesmo caminho e só foram aprender da forma que nós vamos aprender: com crises hidrológicas muito grandes", diz Motta.

"Quero crer que estas crises possam gerar o incentivo suficiente para novas políticas públicas, mas vai depender muito de como a memória delas ficará na cabeça do eleitor e do cidadão”, completa.

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