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Não deixaremos que inflação elevada fique arraigada, diz presidente do BCE

Em discurso na Estônia, ela repassou o choque "sem precedentes" na oferta e na demanda da região nos últimos anos

A presidente do BCE considera que a zona do euro enfrenta "choques repetidos", que refletem de modo mais forte na inflação (Alex Kraus/Getty Images)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 4 de novembro de 2022 às 10h55.

Última atualização em 4 de novembro de 2022 às 10h56.

A presidente do Banco Central Europeu (BCE) , Christine Lagarde, afirmou nesta sexta-feira, 4, que a instituição "não pode e não deixará" que a inflação elevada se torne arraigada na zona do euro. Em discurso na Estônia, ela repassou o choque "sem precedentes" na oferta e na demanda da região nos últimos anos, como a guerra na Ucrânia, problemas no fornecimento de energia e nas cadeias de produção, realocações da demanda, que fazem com que a inflação "deva ficar acima da nossa meta por algum tempo".

Lagarde disse que, nesse contexto, os bancos centrais precisam estar prontos para adotar "as decisões necessárias, embora difíceis, para levar a inflação para baixo". Segundo ela, as consequências de deixar a inflação muito elevada se tornar algo arraigado "seria muito pior para todos". A autoridade ressaltou que o BCE não pretende permitir que os choques atuais levem a inflação duradoura. "O objetivo final de nossa trajetória nas taxas de juros está claro, e ainda não chegamos lá", disse.

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A presidente do BCE considera que a zona do euro enfrenta "choques repetidos", que refletem de modo mais forte na inflação. Esta ainda se mostra mais persistente do que no passado, devido a mudanças estruturais na economia. Além disso, a desaceleração doméstica pode ter sido exacerbada pelo aperto monetário sincronizado global, notou.

A região tem enfrentado "uma série de choques sem precedentes tanto no lado da demanda quanto no da oferta da economia", aponta Lagarde. Lockdowns pela pandemia, problemas nas cadeias de produção, corte na produção de energia e a "inaceitável e injustificável invasão da Ucrânia pela Rússia", listou, citando também variações rápidas na demanda por setor.

O BCE vê ainda um repasse mais forte e mais rápido dos choques para os preços no quadro atual, afirmou ela. Os choques externos estão afetando mais a inflação subjacente, deixando-a mais persistente, disse também.

Há também mudanças estruturais que agravam a situação da economia, como os choques gerados pela pandemia e a guerra na Ucrânia. O corte de gás da Rússia para o continente é uma "grande mudança estrutural, que terá ramificações por vários anos", segundo Lagarde. Ela lembrou que a curva de mercados futuros sugere que os preços do gás serão mais altos "por algum tempo". No longo prazo, a guerra deve acelerar a transição verde na Europa, mas na fase de transição pode haver menos investimento em petróleo e gás, pressionando os preços de combustíveis fósseis em quadro de demanda ainda ata por esses combustíveis, acrescentou.

Lagarde mencionou também "mudanças na natureza da globalização, e particularmente no papel da China nela". Ela disse que alguns fatores geopolíticos devem voltar a influir nas cadeias de produção, o que reduz a eficiência e aumenta custos e pode criar pressões inflacionárias "por algum tempo", enquanto as cadeias de oferta se ajustam.

Para a presidente do BCE, o quadro atual é de incerteza, por isso os dirigentes devem ser capazes de responder ao quadro a cada reunião. Um fator negativo de não ter um "forward guidance" mais claro, porém, é o aumento da volatilidade nos mercados em reação a notícias, admitiu.

BCE: Guindos defende equilíbrio entre segurança energética e preços

Vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos afirmou nesta sexta-feira que a zona do euro deve almejar um equilíbrio entre a segurança energética e a estabilidade de preços. Durante evento em Madri, Espanha, ele destacou o fato de que os preços de energia têm sido o principal impulso para a inflação da região, que perde fôlego econômico, mas renovou o compromisso com mais elevações de juros para conter o quadro inflacionário.

Guindos disse que o crescimento na zona do euro deve ter desacelerado "de modo significativo" no terceiro trimestre, com alta de apenas 0,2%. A inflação elevada continua a pesar nos gastos e na produção. Além disso, grandes problemas na oferta de gás têm piorado mais a situação, enquanto a confiança de consumidores e empresas cai rápido. A fraqueza prolongada na demanda global, também em um contexto de política monetária mais estrita em muitas das principais economias, piora os termos de comércio e há menos apoio para a economia da zona do euro, listou.

Segundo o vice do BCE, a inflação continua a subir na zona do euro, puxada por mais altas em todos seus principais componentes. Gargalos na oferta têm diminuído, mas seu impacto ainda gradualmente se reflete nos preços ao consumidor, que também enfrenta efeitos da desvalorização do euro, avaliou.

Guindos lembrou que o BCE elevou os juros na semana passada e disse que "esperamos elevar os juros mais". Os preços de energia têm puxado a inflação, com problemas como o corte do gás da Rússia. Ele mencionou também que houve queda forte recente nos preços de gás à vista na Europa nas últimas semanas, mas a queda nos preços futuros do gás tem seguido muito mais contida do que a vista nos preços da vista, o que "sugere que a situação da oferta é ainda frágil".

Olhando à frente, Guindos acredita que gargalos na oferta de energia devem diminuir mais, porém aponta que o choque de energia deve pesar cada vez mais na atividade e na inflação. O aumento nos preços de energia deve pressionar a renda real disponível e prejudicar a produção. Ao mesmo tempo, pode haver repasse de altas anteriores nos preços no atacado de energia aos consumidores, o que, junto com eventos geopolíticos recentes, aponta para "continuadas pressões sobre o componente de energia da inflação".

De acordo com Guindos, apesar dos desafios atuais da política monetária, o BCE está "seriamente comprometido" a fazer a sua parte para lidar com as mudanças climáticas e promover uma transição verde, enquanto faz o necessário para cumprir sua meta de estabilidade de preços. Ele também lembrou a meta do banco central de gradualmente "descarbonizar os bônus corporativos que mantemos", em trajetória alinhada com as metas do Acordo de Paris.

Guindos disse que, para se contrapor à forte alta nos preços de energia, muitos governos adotaram medidas de apoio "caras e de base disseminada". Isso, porém, pode afetar o impulso a investimentos verdes, notou. Em vez disso, ele defendeu apoios temporários e direcionados para as famílias e empresas mais vulneráveis, ajudando também a limitar riscos à sustentabilidade fiscal.

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