Economia

Quem ganha com a Copa

Um dos maiores eventos planetários, o mundial da Alemanha mexe com o coração dos torcedores e com a economia

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h02.

A Copa do Mundo de Futebol é um daqueles raros eventos planetários com impacto psicológico capaz de criar extraordinária bolha de consumo. Estima-se que 1,1 bilhão de telespectadores assistirão à final decisiva a ser disputada em 9 de julho. Bola rolando nos gramados da Alemanha significa movimento no mundo dos negócios. Para ficar no campo dos contratos de mídia, basta dizer que os canais ABC, ESPN e Univision pagaram à Fifa recordistas 425 milhões de dólares pela transmissão não da Copa deste ano, mas dos certames de 2010 e 2014. A Coca-Cola, um anunciante global, recentemente renovou seu patrocínio com a Fifa para o período de 2007 a 2014, com possibilidade de ampliação até 2022. O valor do negócio chega a 500 milhões de dólares. No Brasil, país do futebol, o ímã da Copa é potencializado. De agências de viagem a investimentos publicitários e fabricantes de eletroeletrônicos, em ano de Copa as curvas de vendas, invariavelmente, tendem a levantar junto com a bola. Não será diferente neste ano.

As empresas envolvidas com viagens internacionais são as primeiras e mais óbvias beneficiadas pelo mundial de futebol da Fifa. A Copa na Alemanha promete movimentar os negócios do turismo bem mais que a anterior, sediada no Japão e na Coréia. A Europa, com seus monumentos e museus, tem mais apelo para o turista médio e a passagem aérea é mais barata. De acordo com a Planeta Brasil, operadora oficial da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no país -- responsável por repassar os pacotes para as agências de viagem --, 6 000 turistas brasileiros já têm passagens reservadas para o mundial da Alemanha. Mais de 1 000 deles compraram pacotes de viagem e cerca de 5 000 vão receber viagens de incentivo. "Antes do sorteio dos times, em dezembro passado, já havia pessoas em lista de espera", afirma Douglas Presto, diretor executivo da Planeta Brasil. O pacote mais barato custa 4 500 euros e o mais caro, que inclui ingressos para todos os jogos, 10 600 euros. As vendas são feitas por mais de 1 000 agências espalhadas pelo país.

Para os fabricantes de eletroeletrônicos, o ano da Copa tem sabor de revanche. O último boom de vendas de aparelhos de TV aconteceu em 1996, auge do Plano Real. Na época, foram comercializadas 9 milhões de unidades. Depois disso, o consumo deslizou até cair pela metade, em 2001. Só foi se recuperar no ano passado, quando os fabricantes resgataram o patamar de vendas de nove anos atrás. "Uma das razões disso é que estamos vivendo agora um período de troca de aparelhos, que ocorre a cada dez anos", diz Paulo Saab, presidente da Eletros, a associação dos fabricantes. "Junte isso à Copa do Mundo e o que resulta é uma expectativa de crescimento de 10% nas vendas para 2006." As vendas de TVs também estimulam as de DVDs -- que praticamente duplicarão no período. É uma estimativa conservadora, considerando-se a atual situação econômica do país. A última Copa coincidiu com uma campanha tensa para a Presidência da República. O dólar bateu nos 4 reais e o preço dos eletroeletrônicos disparou, contendo o consumo. "Além disso tudo, temos uma seleção brasileira que vai à Alemanha como favorita ao título", diz Caio Catto, executivo de vendas da Philips, uma das líderes brasileiras no mercado de TV.

A indústria também conta com a inovação para atrair os consumidores. Os DVDs já se popularizaram. Os preços dos aparelhos de home theater tornaram-se mais acessíveis. E as TVs de plasma e LCD viraram estrelas desta Copa. Em apenas um ano, os preços da nova tecnologia caíram 50%. Em 2006, segundo os fabricantes, serão vendidos 150 000 aparelhos de plasma, quatro vezes mais do que no ano passado."Vamos lançar novos modelos no Brasil para pegar carona no clima favorável", diz Gisela Turquetti, diretora de marketing da coreana Samsung.

Um fenômeno que a Copa deverá produzir no mercado será a concentração dos investimentos no primeiro semestre do ano. "As empresas preferem aproveitar a euforia que antecede o mundial", diz Julio Castellanos, presidente da filial brasileira da agência de publicidade McCann-Erickson. "É o período de menor risco, quando prevalece o otimismo em relação a um bom desempenho da seleção." Mesmo marcas sem ligação estreita com o futebol tiram partido do fator Copa. "É um momento de alta visibilidade", diz Antonio Matias, vice-presidente do banco Itaú, que comprou cotas de patrocínio em eventos de divulgação do mundial. "A Copa é um evento de visibilidade tão extraordinária que tornou-se parte da estratégia de mídia do banco." De acordo com o publicitário Roberto Justus, presidente da agência Young & Rubicam, mesmo as marcas que não compraram patrocínios oficiais tentam compensar a exposição dos concorrentes cotistas da Copa ampliando suas campanhas publicitárias. Daí o círculo virtuoso que poderá proporcionar um crescimento real de 15% da propaganda brasileira neste ano.

Opinião
Nelson Barrizzelli, consultor de varejo
"Dois setores são especialmente estimulados em ano
de Copa do Mundo: o de produtos esportivos e o de eletroeletrônicos. Num ano como esse, cria-se um ambiente positivo que impulsiona o consumo de modo geral. É claro que, no caso de resultado ruim da seleção brasileira, esse ambiente se inverte. Neste ano, a internet também vai desempenhar papel fundamental, pois os jogos ocorrerão enquanto as pessoas estiverem no trabalho."
Os negócios no ano da Copa
Números de alguns setores que devem ser impulsionados
com o mundial
Internet 25% deve ser o aumento da audiência na internet no período
da Copa
Publicidade15% é quanto deve crescer o investimento das empresas em publicidade
Eletroeletrônicos 10% deve ser o crescimento nas vendas de aparelhos de TV
Turismo 6 000 brasileiros devem ir à Alemanha assistir aos jogos

Fontes: Eletros, Intermeios, Planeta Brasil, Terra, UOL

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