Mudanças: segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), a intensidade energética, que mede a quantidade de energia para cada unidade de PIB, não para de baixar (Axel Schmidt/AFP)
AFP
Publicado em 3 de novembro de 2016 às 15h48.
Além do aparente consenso político sobre a necessidade de acelerar a luta contra as mudanças climáticas, deve-se questionar se o mundo econômico está realmente mudando rumo a um modelo cada vez menos emissor de CO2. Alguns sinais vão nesse sentido, outros, não.
Sinais positivos
- Controle de emissões
As emissões do setor energético (2/3 das emissões mundiais) se estagnaram em 2015 pelo segundo ano consecutivo, com um crescimento econômico mundial de 3%, confirmando o início de uma separação de tendências.
- Recorde de renováveis
Com 286 bilhões de dólares investidos e 153 novos gigawatts instalados, 2015 foi um ano recorde para as energias renováveis, especialmente nos países emergentes. As previsões para 2020 foram revisadas em alta. Representam atualmente 15% da produção de energia e 23% da produção de eletricidade.
- Queda do custo da energia solar
Entre 2009 e 2015, o custo da energia solar caiu 80%, tornando-se competitivo em relação ao gás e ao carvão em alguns países (Chile, Emirados Árabes, Índia, etc). O recorde de megawatt/hora solar mais barato pertence a uma central de 350 megawatts (MW) de Abu Dhabi: 23 dólares.
- Produzir consumindo menos
Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), a intensidade energética, que mede a quantidade de energia para cada unidade de PIB, não para de baixar (-1,8% em 2015), consequência dos 221 bilhões de euros investidos em eficácia energética no ano passado.
- Obama contra Keystone XL
O projeto de oleoduto gigante entre o Canadá e os Estados Unidos, destinado a transportar areias betuminosas de Alberta, foi bloqueado pelo presidente americano.
- Fim dos gases HFC
A comunidade internacional decidiu em meados de outubro eliminar progressivamente os hidrofluorocarbonos (HFC), gases muito nocivos para o clima, utilizados em refrigeração. Os países ricos deverão ter reduzido 10% de seu consumo em 2019 e 86% em 2036. A China, principal produtora de HFC, e a Índia, poderão iniciar mais tarde as suas transições.
- O preço do carbono abre caminho
Presente em algumas regiões do mundo, (Europa, Califórnia), a taxa de carbono continua se difundindo. O Canadá anunciou um preço mínimo de carbono para 2018. A China lançará um mercado em nível nacional no ano que vem.
Entre as maiores empresas do mundo que operam na Bolsa, 29% -em um grupo de 1.000- utilizam internamente um preço do carbono para avaliar seus investimentos.
- 100% renováveis
Algumas grandes cidades lançam planos de ação para se transformarem em territórios 100% renováveis: Barcelona aposta na solar e nas redes urbanas de calefação, Frankfurt tem um amplo programa de eficácia energética (renovação, novas tecnologias) e dez redes de calor. San Francisco, San Diego, Fukushima, Copenhague e Munique também estão nesse caminho.
Grupos como Apple e Ikea caminham igualmente no sentido de consumir uma energia totalmente verde. O Google investiu mais de um bilhão de euros em energia eólica, solar e biomassa.
- Finanças verdes
Os títulos verdes para financiar projetos de vocação ambientalista estão em pleno crescimento: 42 bilhões de dólares foram reunidos em 2015 e, segundo a Moody's, 80 bilhões neste ano. Entretanto, isso representa menos de 0,5% do mercado mundial da dívida.
Sinais negativos
- Muito carvão
Estão sendo construídos 350 GW de capacidades elétricas a partir do carvão, 930 projetos segundo a CoalSwarm, cifras incompatíveis com a meta de 2°C de aquecimento do planeta. No final de 2015, a Austrália deu aval à extensão de uma mina do grande Rio Tinto.
Em sentido contrário, o consumo baixou em 2015 nos países do G20 (-2,5%), e ainda mais em China (-3,7%), que concentra a metade do carvão utilizado no planeta.
- Os fósseis subsidiados
Anualmente, os subsídios concedidos a energias fósseis (reduções fiscais, apoio à atividade petroleira, etc) chegam a 500 bilhões de dólares, segundo a OCDE e a AIE.
- O ártico continua ameaçado
Embora muitas petroleiras tenham renunciado a prospecções pelos preços muito baixos do barril, a Noruega concedeu em maio licenças a 13 companhias petroleiras.
- Trudeau apoia controverso oleoduto
O primeiro-ministro canadense apoiou publicamente um controverso projeto de oleoduto de mil quilômetros no oeste do Canadá.
- O setor aéreo
Um acordo internacional concluído em outubro prevê limitar as emissões do tráfego aéreo, mas só a partir de 2021 e fundamentalmente através de uma compensação das emissões, mais que de uma redução.
- Siderurgia e transporte marítimo atrasados
A siderurgia (7% das emissões mundiais) não reduz suas emissões há dez anos, e o transporte marítimo (2,8%) carece de um plano de ação.